Pouco depois de sua segunda posse como governador, em janeiro de 2023, Ronaldo Caiado começou a falar de seu desejo de ser candidato à Presidência da República pela segunda vez. Caiado iniciou sua carreira em 1989 como presidenciável e repete que quer encerrá-la da mesma forma. Em 2024, ele dedicou boa parte de sua agenda a percorrer o País em palestras para falar do Brasil, para divulgar seu governo em Goiás e para expor seu projeto para 2026. Em novembro ele marcou dia e local para lançar sua candidatura: 18 de março de 2025, no Centro de Convenções de Salvador (BA). No início de fevereiro alterou a data para 4 de abril.&nbsp;

Esse histórico foi registrado pela imprensa, inclusive a nacional, e era igualmente conhecido no meio político. Apesar disso, provocou alvoroço sua publicação do card do convite de lançamento da candidatura em suas redes sociais, em 22 de fevereiro. Houve reação contrária imediata de bolsonaristas e de líderes do União Brasil (UB), o partido do governador. Os primeiros acham que a vaga de presidenciável segue reservada a Jair Bolsonaro, apesar de ele estar inelegível. O União Brasil, que se mantinha inerte ao projeto de Caiado, exibiu-se como a colcha de retalhos que sempre foi.&nbsp;

O partido é composto pelo grupo do vice-presidente nacional, ACM Neto, que sustenta a candidatura de Caiado, pela ala alinhada a Bolsonaro, com parlamentares do antigo PSL, e pelo grupo que apoia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, formado pelos ministros Juscelino Filho (Ministério das Comunicações) e Celso Sabino (Turismo). Embora filiado ao PDT, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, foi indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB/AC). O card de Caiado de lançamento de sua candidatura virou alvo do tiroteio amigo.

O União Brasil é um partido regional e, como a maioria dos partidos do Centrão (como PP, MDB, Republicanos etc.), coloca em primeiro lugar os arranjos políticos estaduais em detrimento da eleição presidencial. Em entrevista ao podcast Giro 360, nesta quinta-feira (6), o governador criticou a proximidade do partido com Lula, afirmando que não há identidade entre eles. Só se esqueceu de que a identidade do partido é integrar o governo federal, independentemente do presidente da República da vez.&nbsp;

Talvez por isso, nem seus aliados internos defenderam seu projeto eleitoral depois do início desse tiroteio. Dois dias depois de se reunir com Bolsonaro em Angra dos Reis, o presidente nacional, Antônio Rueda, que se mostrava próximo de Caiado, descartou em entrevista à Folha de S.Paulo, nesta sexta-feira (7), o desembarque do União Brasil do governo. Rueda criticou os erros do presidente Lula, mas afirmou desejar que “o governo dê certo”, um tom bem diferente das cáusticas críticas que Caiado ao governo petista.

Os fatos indicam, portanto, que o projeto eleitoral do governador continua sendo um sonho pessoal à espera de sustentação política consistente. Por enquanto o governador tem a promessa de apoio do popular cantor sertanejo Gusttavo Lima, segundo declarações de Caiado e das lacônicas notas de sua assessoria de comunicação, pois como embrião de político, Gusttavo continua a se comportar como celebridade encastelada em sua fama, sem aparecer publicamente para o natural embate político.

O cantor já manifestou, em suas redes sociais, é bom lembrar, que quer ser candidato a presidente da República. Sua assessoria confirmou que ele irá ao lançamento da candidatura de Caiado, em abril. O governador disse que os dois vão circular juntos pelo país e só em 2026 vão definir qual deles será o candidato. Caiado precisa da fama do sertanejo para se tornar conhecido e eleitoralmente viável – segundo pesquisa Quaest ele é desconhecido por mais de 65% do eleitorado de 7 estados –, para ter sustentação eleitoral e ser o candidato da direita. Já os desejos do cantor seguirão uma incógnita enquanto ele se mantiver protegido do tête-à-tête da política, coisa que nenhum candidato a político com reais pretensões eleitorais faria.

Cileide Alves, jornalista

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Largada antecipada de Caiado

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Cileide Alves

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Ao entrarmos no 2º trimestre, enfrentamos um cenário marcado por grandes incertezas na economia global, agravadas pela taxação anunciada pelos Estados Unidos, em abril, impondo tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio. Vale ressaltar que, até março, os EUA absorviam 47% da produção brasileira, enquanto a China respondia por apenas 10,7%.

Esses números apontam para um impacto significativo nas indústrias siderúrgicas nacionais. Embora o mercado interno possa momentaneamente se beneficiar da maior oferta interna, as consequências macroeconômicas desse cenário ainda são incertas.

Internamente, a situação econômica também inspira cuidados. Uma meta de inflação extremamente restritiva, associada à alta constante de preços sentidos pelos cidadãos, levou o Banco Central a elevar a taxa Selic a ponto de termos hoje o segundo maior juro real do mundo. Para o setor produtivo, especialmente a construção civil, as consequências têm sido severas: margens reduzidas, projetos inviabilizados e um ambiente de negócios cada vez mais desafiador.

Para agravar o cenário, construtoras e incorporadoras enfrentam a redução significativa no funding via SBPE, acompanhada de políticas restritivas dos bancos na liberação de recursos. As alternativas disponíveis são o mercado de capitais e fundos de venture capital que, embora estejam em crescimento, apresentam custos quase duas vezes superiores aos praticados pelo SBPE, exigindo uma reavaliação profunda da engenharia financeira dos projetos imobiliários.

Atualmente, o único alívio significativo vem do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), com taxas subsidiadas pelo FGTS — patrimônio do trabalhador, criado para financiar habitação e saneamento. Entretanto, práticas como o saque-aniversário e o uso do FGTS como garantia para crédito consignado comprometem seriamente a sustentabilidade desse fundo, colocando em risco um dos maiores programas habitacionais do mundo. Em 2025, o governo estima que os saques possam ultrapassar R$ 120 bilhões, cifras preocupantes que ameaçam diretamente a vitalidade desse patrimônio do trabalhador, levantando questionamentos sobre a justiça social de usar a poupança popular para sustentar spreads financeiros.

Por outro lado, a recente ampliação do MCMV para a Faixa 4, permitindo financiamento de imóveis até R$ 500 mil, representa um importante alento. Essa medida abre uma janela concreta para retomarmos a produção de moradias direcionadas a uma faixa de renda intermediária, que vinha enfrentando grandes dificuldades de acesso ao crédito pelo SBPE. Trata-se de um avanço essencial para atender uma expressiva parcela da população historicamente excluída de financiamentos subsidiados, tornando novamente possível o sonho da casa própria.

Diante desse cenário complexo, precisamos seguir resistindo com coragem, inovando com criatividade e, acima de tudo, trabalhando com determinação. Superar desafios sempre foi parte da essência da construção civil brasileira. Juntos, podemos transformar adversidades em oportunidades, fortalecendo ainda mais o nosso setor e contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do país.

Hidebrair de Freitas, engenheiro Civil, pós-graduado em direito imobiliário. Presidente do Sinduscon-GO

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Hidebrair de Freitas

Só no fim, depois de uma hora e 40 minutos de projeção, surge a sequência que ajuda a entender “Apocalipse nos Trópicos”, em cartaz nos cinemas e a partir do dia 14 no catálogo da Netflix. Ela lista quem fez o quê no documentário que se passa entre dois janeiros, o de 2019, mês da posse de Bolsonaro, e o de 2023, quando tentou dar um golpe. O primeiro nome é o de Petra Costa, diretora e autora do roteiro. Aí vêm, pela ordem, uma “coescritora”; três “corroteiristas”; quatro que fizeram “colaboração principal de roteiro”; quatro responsáveis por “colaboração de roteiro”; e quatro prestadores de “consultoria de roteiro”.

Feitas as contas, 17 pessoas botaram a mão no roteiro —fora sete “conselheiros de conteúdo”. É muita gente. A fartura levou “Apocalipse nos Trópicos” a ter “muitos chapéus e poucas cabeças”, profecia de um apocalíptico de verdade, Antônio Conselheiro, o anacoreta de Canudos. Ou seja, falta ao filme autoria, o ponto de vista de quem busca uma revelação —e “apocalipse” significa tanto revelação como fim do mundo. Falta nele Petra Costa, a cineasta lírica de “Elena”, sobre o suicídio de sua irmã, e a diretora política de “Democracia em Vertigem”, relato ferino da demolição de Dilma, prisão de Lula e unção de Bolsonaro.

Ela entrevistou o atual e o ex-presidente, mas seu filme pouco revela deles. A cena mais impactante com Bolsonaro foi na pandemia, quando berrou: “Todo mundo vai morrer. Se morrer no campo, urubu vai comer. Todo mundo vai feder da mesma maneira”. É ou não um estadista? Lula tem uma única cena forte: a trepidante saída da cadeia, digna de “Terra em Transe”. O filme deixa de fora seu discurso pouco depois, quando anunciou solenemente que venceria Bolsonaro no voto.

Com os presidentes em segundo plano, quem ocupa espaço é o pastor Silas Malafaia. Bufão de estridência caricata, ele é naturalmente espaçoso: ostenta seu avião, a BMW, a mansão de mobiliário novo-rico, os jagunços que o protegem, o café da manhã de propaganda de margarina. Como é o personagem que mais aparece em “Apocalipse nos Trópicos”, o filme é duplamente prejudicado. Primeiro, porque ele tem voz esganiçada, fala muitos decibéis acima do tolerável, se deleita em berrar bravatas, grosserias e insultos —Lula é um “cachaceiro”, xinga.

E desequilibra “Apocalipse” porque é uma figura menor. Ninguém lembra nada do que disse e diz. O pastor é pequeno por ser oportunista. Apoiou Lula, depois Serra, em seguida Aécio, acabou lustrando o coturno de Bolsonaro, que também é oportunista, mas noutro sentido. No baixo clero ou no Planalto, rosnou, latiu e mordeu em nome da extrema direita. Como os Bourbons, não aprendeu nem esqueceu nada desde a caserna.

É na religião que Bolsonaro é oportunista: católico, rebatizou-se evangélico no rio Jordão com o fito único de angariar votos no rebanho pentecostal. Um dos pastores que apascentaram-lhe as ovelhas foi Malafaia —que por sua vez, como se vê no filme, é vaidoso, gaba-se de sua proximidade com os mandachuvas, de se esgoelar em palanques e de entrar em palácios sem mostrar documento. O casamento do presidente e o pastor é de conveniência: precisam um do outro.

Entre a religião e a política, “Apocalipse nos Trópicos” fica com o misticismo já a partir do título. Petra Costa relata de viva voz que, oriunda de uma família laica, a religião sempre lhe foi distante. Até o dia que topou na Câmara com Cabo Daciolo, um híbrido de bombeiro, pastor e deputado que lhe deu uma Bíblia de presente.

Ela se encantou com o último livro do Novo Testamento, o Apocalipse. Veio a ficar fascinada com um obscuro ramo da literatura esotérica —o de John Nelson Darby, pregador irlandês do século 19. Para ele e sua seita, é imperioso apressar o apocalipse, contribuir para que o mundo soçobre e Deus venha logo acudir os bons e fazer churrasco dos maus.

Ao enveredar por essa senda, “Apocalipse nos Trópicos” soçobra na ambiguidade. Às vezes, analisa a política de maneira racional. Noutras, tem visões. Numa delas, a hecatombe da democracia brasileira anuncia o Juízo Final. São pensamentos perplexos.

No fim, o filme justapõe duas imagens escatológicas do 8 de janeiro: um homem exibindo a bunda e, em seguida, senhoras de verde e amarelo rezando a Bíblia na Câmara.

A sequência propicia uma revelação: ora acamada, a Besta golpista segue viva: tem dez chifres e sete cabeças, assemelha-se a um leopardo com patas de urso e boca de dragão (Apocalipse 13,1).

Mario Sergio Conti, jornalista, é autor de “Notícias do Planalto”

'Apocalipse nos Trópicos' abraça a ambiguidade

Mario Sergio Conti

Não se trata do show de televisão, da nota das agências de rating, nem mesmo das famosas bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia. O novo BBB que está na moda é outro, Bancos, Bets e Bilionários, criado pela varinha mágica do marketing político para tentar resgatar a popularidade perdida do presidente Lula e a aprovação, que não anda nada boa, do seu governo.

Fórmula populista que tem tudo a ver com o PT e o próprio Lula, o novo BBB joga a luta de classes no terreno da atual polarização política, que já passou pelo “nós contra eles” e desaba agora no “pobres contra ricos”, com o governo obrigando o PT a pegar em armas na internet. Parece criativo, engenhoso, nesse complexo mundo do marketing, mais e mais alavancado pelas redes sociais, mas tem riscos.

Um deles é Lula ficar falando para a própria bolha, mas o principal é ser assimilado como declaração de guerra contra o Congresso, Lula no papel de defensor dos pobres e empurrando para o outro lado da rua o de vilão defensor dos ricos e poderosos. Guerra contra o Congresso costuma dar ruim. Os governos não aprovam nada e pode ser até pior, não é, Dilma Rousseff?

Líderes políticos avisam que, se a agenda do governo é a do PT, a do Congresso será “independente” - o que soa como contra o governo -, mas os presidentes da Câmara se dividiram. Enquanto o deputado Hugo Motta fala em “harmonia dos poderes”, mas lidera a rebelião contra o Executivo e vira alvo do PT, o senador Davi Alcolumbre negocia com a Fazenda, não se sabe o que.

Em meio a tratativas, o Congresso faz o que não fez no primeiro semestre inteiro: vota propostas. Depois de engavetar por dois anos, a Câmara aprovou a urgência do endurecimento das isenções fiscais e já se prepara para enfrentar a reforma administrativa que, segundo Motta, que está em Lisboa, será votada ainda neste ano. São duas medidas que podem, sim, aumentar receita e reduzir gastos. A ver o resultado final.

E o Congresso também se tornou subitamente diligente na tramitação de duas MPs, a do crédito consignado privado e do uso de até R$ 15 bilhões do fundo Social do Pré-Sal para habitações populares, que também libera o governo para leiloar óleo e gás excedente. Fica a dúvida: para recompor as relações com Lula ou desfazer a percepção de um Congresso “do mal”?

Lula tenta, assim, fazer do limão uma limonada, usando a guerra com o Congresso para acordar sua militância, ganhar terreno nas redes, recuperar apoio da baixa renda e “conversar” com a classe média, que pode ir para um lado ou outro. Tudo somado, 2026 chegou! E com o Supremo no meio, apesar de ter muito serviço pela frente ainda em 2025.

Eliane Cantanhêde, jornalista

Mais um BBB caiu nas redes

Matéria - Opinião

Eliane Cantanhêde

Em dias recentes, acompanhamos a repetida ameaça de extinção do útil Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO). Uma reincidente prática que, longe de buscar avanço institucional ou defesa do dinheiro público, como ‘castamente’ sugere, constitui grosseira chantagem, espécie de ‘advertência’ e pressão para indicar um parlamentar goiano com previsível dificuldade eleitoral na próxima tentativa de reeleição, para o quadro de Conselheiros daquele Tribunal.

Quando o interesse pessoal demora ser atendido, usa-se da ameaça de extinção do órgão, como se a existência de uma instituição essencial ao serviço público, pudesse ser reduzida a vulgar moeda de barganha. É o uso da conhecida e lendária metáfora ‘Espada de Dâmocles’, originária da antiga Siracusa, na região da Sicília, Itália, pela qual Dâmocles, Conselheiro da Corte de Dionísio, era ameaçado pela queda da espada pendurada a uma frágil linha sobre sua cabeça.

A existência do TCM-GO é, no mínimo, uma garantia de regularidade formal nas despesas públicas municipais goianas. O Tribunal atua diretamente na fiscalização dos 246 municípios do Estado, na defesa do interesse das respectivas comunidades, como auxiliar técnico das Câmaras Municipais, cujos gastos também fiscaliza.

Sua atuação proporciona celeridade e especialização na análise das contas públicas, prática que dificilmente seria absorvida com a mesma efetividade por um único órgão concentrador dessa análise, ou seja, pelo Tribunal de Contas do Estado.

Junto à comunidade goiana, o agente ameaçador alega defesa da economia pública com a extinção do Tribunal, embora não tenha legitimidade para fazê-la, pois dados recentes mostram recordes em gastos na farra com o dinheiro público consumido nas constantes trocas da numerosa frota de veículos, mesmo que ainda na ‘primeira infância’.

A experiência brasileira já mostrou que a ausência de fiscalização próxima custa mais à sociedade do que a manutenção das estruturas técnicas de controle. O acompanhamento externo da despesa não é custo, é investimento na integridade da gestão pública.

É incômoda, também, a evidência de que essa ameaça de extinção venha sempre acompanhada de pressão sobre os Conselheiros, ‘exigindo’ que se aposentem com o mínimo legal de idade e de serviço público, mostrando que por trás do retórico discurso moralista, há disputa por espaço, por influência e, na prática, criando mais despesa. O recorrente uso da ameaça de extinção como resposta às resistências, revela uma prática que fragiliza o Estado democrático e afronta o indispensável princípio de independência dos órgãos de controle.

A continuidade do TCM-GO não é uma questão corporativa, mas de interesse público. Enfraquecer as estruturas de fiscalização é reduzir a própria cidadania. Em vez de pressões circunstanciais, o compromisso deveria ser com o fortalecimento da instituição que protege o dinheiro público e cobra boa governança nos municípios de Goiás.

Felicíssimo Sena, advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO)

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A goiana 'Espada de Dâmocles'

Felicíssimo Sena

Coluna da Cileide

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