Em evento realizado em Vitória (ES), nesta quinta-feira (6), o governador Ronaldo Caiado (UB) destacou dois pilares de sustentação de seus governos, o da responsabilidade fiscal e o da segurança pública. Ao lado do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), ele observou que houve queda em todas as estatísticas criminais, no comparativo de 2025 com 2018, entre elas 90% em roubos e 60% em homicídios. Sobre a gestão fiscal, Caiado disse ter um fundo de estabilização econômica de R$ 4 bilhões “para qualquer adversidade”. Só que esse pilar fiscal apresentou um fio desencapado. Em prestação de contas na Assembleia Legislativa, na terça-feira (4), o secretário de Economia, Francisco Sérvulo, confirmou que o Estado fechou o quarto bimestre (julho e agosto) de 2025 com déficit orçamentário de R$ 1,54 bilhão. Segundo ele, as despesas com a folha de pagamento e com a saúde foram as que mais cresceram. A Constituição determina que estados e o DF invistam pelo menos 12% de sua receita corrente líquida em saúde. Em Goiás essa proporção subiu nos últimos anos. Em 2022, o comprometimento da receita chegou a 13,46%; passou para 14,95% em 2023, ficou em 14,42% em 2024 e bateu 15,35% em 2025. Cada ponto porcentual a mais, informou o secretário de Saúde, Rasível Santos, nesta quarta-feira (5), também na Assembleia, representa custo de R$ 300 milhões. Em outras palavras, os 3,35 pontos porcentuais além dos 12% constitucionais já gastos em 2025 custaram ao erário estadual R$ 1 bilhão. Dado que explica por que o governo entrou com ação no STF cobrando do Ministério da Saúde “prejuízo” acumulado de R$ 1,2 bilhão no financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás. Voltando ao déficit, o custo da saúde não explica tudo. Há outro dado relevante para o surgimento desse fio desencapado. De acordo com informações dos Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária (RREOs), disponíveis no portal da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), as receitas estaduais cresceram 8,04% nestesegundo quadrimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. Já as despesas subiram 25,12%, três vezes a mais. Goiás foi campeão no aumento de gastos. O Espírito Santo, para ficar no Estado onde o governador falou dos dois pilares de sua gestão, registrou aumento de 13,22% na receita e de 7,57% nas despesas. No final do primeiro mandato de Caiado houve uma discussão na equipe sobre a continuidade ou não da política fiscalista e sobre gastar a poupança de R$ 10 bilhões que havia na época, conforme registrei na coluna de 24 de dezembro de 2022. A então secretária de Economia, Cristiane Schmidt, até admitia gastar mais com investimentos, como desejava outra parte do governo, mas insistia em manter o controle das despesas.A secretária ficou na equipe apenas até abril de 2023 e, agora, a discussão é mais espinhosa, ou seja, cobrir o déficit. E isso acontece sem que os investimentos tenham crescido substancialmente, haja vista a dificuldade do governo de gastar até mesmo os recursos do Fundeinfra. Análises feitas por especialistas em contas públicas nos RREOs e em seus anexos indicam que essas despesas podem não ter sido de boa qualidade. Os documentos registram crescimento de R$ 5 bilhões em despesas correntes pagas, dos quais R$ 1,87 bilhão com pessoal e R$ 3,04 bilhões de custeio. Poderia ser custeio da saúde? Poderia. Só que na comparação por subfunção, descobre-se aumento de R$ 413 milhões em saúde (custeio e investimento) e de R$ 1,9 bilhão em investimento. O que parece ter havido foi aumento no custeio de modo geral.Depois de quase 8 anos de mandato gozando do benefício de não pagar integralmente o serviço da dívida, pela adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal, o governador se vê diante do desafio de recuperar o equilíbrio fiscal até abril, quando deixará o cargo para ser candidato a presidente da República. E não apenas para deixar as contas redondas para seu sucessor, o vice-governador Daniel Vilela (MDB), mas, principalmente, para manter em pé os dois pilares que exibe em suas pregações de pré-campanha eleitoral.