O atropelamento de uma mulher por um homem com quem teve um relacionamento, seguido de seu arrastamento por 1 quilômetro pela Marginal Tietê, em São Paulo, no dia 30 último, mobilizou o debate nacional sobre o persistente drama de violência de gênero. A mulher teve as duas pernas amputadas e seu caso não é isolado. Duas mulheres foram alvo de tentativa de feminicídio por dia no estado de São Paulo, entre janeiro e outubro deste ano, aumento de 112% nos últimos dois anos.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi duramente atacada pelos três filhos mais velhos de seu marido, Jair Bolsonaro. Flávio, Carlos e Eduardo, apoiados por lideranças do PL, condenaram a madrasta por ela ter criticado as alianças do partido no Ceará. Os homens querem Michelle como “enfeite” em reuniões do PL Mulher, mas a censuram por ela tentar participar de decisões partidárias, lugar de homens brancos e héteros.

Segundo dados da 11ª edição da Pesquisa Nacional de Violência do Instituto de Pesquisa DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, divulgada em novembro, cerca de 3,7 milhões de mulheres brasileiras viveram um ou mais episódios de violência doméstica nos últimos 12 meses. A Justiça em Números, no site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), também reúne estatísticas representativas desse terror cotidiano.

Até 31 de outubro de 2025, deram entrada no Poder Judiciário em todo o país 920.457 processos de violência contra a mulher, dos quais 50.721 em Goiás. A justiça goiana concedeu entre janeiro e outubro 22.679 medidas protetivas e prorrogou outras 7.351. Em 2021 foram concedidas 86 medidas protetivas para cada grupo de 100 mil mulheres. Esse número chegou a 156 em &nbsp;2024, aumento de 81,4% em três anos.

Enquanto o país careceu de legislação para punir adequadamente homens violentos, parecia fácil atacar o problema. A Lei Maria da Penha (2006) foi a primeira e representou um marco. Depois vieram a Lei do Feminicídio (2015), e a tipificação dos crimes por descumprimento de medida protetiva (2018), por stalking (perseguição), de violência política de gênero e de violência psicológica (as três de 2021), entre outras mudanças normativas.

Ainda que haja alguma brecha nas leis, certamente a causa da crescente violência não pode ser atribuída à falta de legislação. Difícil é sair dessa tecla (endurecimento penal) para entrar em outro modo de combater esse mal. Um debate necessário e complexo. &nbsp;Qual a saída?

Certamente passa por uma educação não misógina, em casa e nas escolas, e pela avaliação da eficácia das atuais políticas públicas. São inúmeras ações nas esferas federal, nos estados e nos municípios, mas a julgar pelas estatísticas, de eficácia questionável. Chegou a hora de reavaliar essas políticas, partindo do pressuposto de que há falhas. O momento não é mais de criar políticas públicas, mas de olhar o que funciona e o que não funciona e por quê.

Também é preciso pensar os motivos que levam cada vez mais homens jovens a agredirem suas parceiras. O rapaz que atropelou e arrastou uma mulher em São Paulo tem apenas 26 anos de idade, é um jovem da geração Y. Onde e como ele aprendeu que mulher é uma posse, uma coisa? Estudantes do segundo período do curso de medicina de uma faculdade goiana fizeram uma foto na porta do câmpus em Goiânia, simulando com as mãos a genitália feminina.

Com um gesto que nem é original (já apareceu em foto de graduandos de medicina em Santa Catarina e no Espírito Santo) esses jovens que escolheram a profissão de médico, para ajudar a cuidar de vidas, desumanizam as mulheres e praticam uma violência simbólica que sustenta o machismo e a misoginia.

Mulheres de todos os estados convocaram uma mobilização nacional para este domingo (7) com o lema Mulheres Vivas. Em Goiânia, será às 15 horas, na Praça Universitária, seguida de passeata até a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). Será um ato também simbólico, mas de tentativa de furar a resistente bolha do machismo estrutural brasileiro. Avante, mulheres!

Cileide Alves, jornalista

Mulheres Vivas, contra as mortes

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Cileide Alves

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Aos que creem na criação divina, Gênesis 1:11-13 descreve Deus ordenando que a terra produza plantas e árvores que gerem sementes “segundo suas espécies”, e viu que isso era bom. Mesmo os incrédulos reconhecem os serviços ambientais prestados pela vegetação. As árvores são vitais ao ecossistema e à qualidade de vida.

As árvores produzem oxigênio pela fotossíntese e atuam como estoques de carbono, reduzindo CO2 atmosférico. Contribuem para a proteção do solo, amortecendo o impacto das chuvas e favorecendo a infiltração de água por meio das raízes. Essa água infiltra graças ao percurso que faz pelas folhas, ramos e tronco, auxiliando a recarga hídrica.

Oferecem habitat a inúmeras espécies, preservando a biodiversidade. A transpiração vegetal libera expressivo volume de vapor d’água, reduzindo a temperatura. Em áreas urbanas, a sombra pode diminuir até 10 °C, mitigando ilhas de calor. São base das cadeias alimentares, fornecendo folhas, flores, frutos, raízes e sementes.

Oferecem matéria-prima como madeira, celulose, borracha e óleos; liberam aromas; originam perfumes; e são fonte de inúmeros medicamentos tradicionais. Atuam como quebra-ventos, amortecendo tempestades, e embelezam as cidades com seu verde. Servem para recreação, sendo parte da infância de muitos, e fomentam o turismo, especialmente quando centenárias.

Reduzem poluição sonora e retêm particulados, melhorando o ar. São essenciais à saúde pública, trazendo bem-estar e reduzindo estresse. Valorizam imóveis e tornam o ambiente urbano mais agradável.

Por que, então, gestores públicos ignoram tantos serviços? Por desconhecimento ou prioridades distorcidas? As árvores não falam, mas sentem. Extirpação ou poda irresponsável é vergonhosa. Na Região Metropolitana de Goiânia, a remoção de árvores em avenidas preocupa, pois gerir uma cidade inclui preservar seus ecossistemas.

Recordes negativos mostram aumento de temperatura e queda da umidade relativa, já chegando a mais de 40 °C e 9%. As chuvas diminuem cerca de 3,7 mm por ano, agravando o cenário.

Mesmo com compensação ambiental, novas mudas plantadas em locais distantes não substituem imediatamente um indivíduo adulto. Uma árvore jovem leva mais de 10 anos para gerar sombra. Por isso, recomenda-se, como regra, compensar com pelo menos 100 mudas para cada árvore suprimida.

Como diz o ditado, viemos ao mundo para gerar um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Quem ainda não plantou uma, que o faça. Ainda é possível deixar um legado e melhorar o equilíbrio dos ecossistemas. O planeta agradece — e cada um de nós tem responsabilidade em defender as árvores.

Antônio Pasqualetto, engenheiro agrônomo e professor da PUC Goiás e do IFG. Pós-Doutor em Engenharia ambiental e em Ciências Ambientais

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Remoção de árvores

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Antônio Pasqualetto

Vídeo prisão do suspeito

<div attr-cid="policy:1.3345965" attr-version="policy:1.3345965:1764942070" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3345965" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3345965', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3345965">Vídeo prisão do suspeito (1.3345965)</a></div>

Um homem de 53 anos foi preso suspeito de matar a companheira com pancadas de barra de ferro&nbsp;no rosto&nbsp;em Caldas Novas,&nbsp;no sul de Goiás. Segundo André Barbosa, delegado do caso,&nbsp;após atingir a mulher com pancadas, o homem utilizou um fio para enforcar&nbsp;a vítima,&nbsp;que&nbsp;ainda apresentava sinais vitais.&nbsp;O suspeito está no presídio da cidade e ainda não passou por audiência de custódia.&nbsp;

Por não ter o nome divulgado, O POPULAR não conseguiu localizar a defesa do&nbsp;suspeito&nbsp;para que pudesse se posicionar.&nbsp;&nbsp;

O caso ocorreu na madrugada desta terça-feira (2) e o suspeito foi preso na tarde desta quinta-feira (4).&nbsp;Conforme a Polícia Civil de Goiás (PCGO),&nbsp;o casal era usuário de drogas e havia consumido bebida alcoólica durante a madrugada.&nbsp;

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/homem-filmado-matando-a-namorada-e-julgado-1.3345500" target="_self">Homem filmado matando a namorada é julgado</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/homem-e-preso-suspeito-de-matar-a-ex-e-ligar-para-a-familia-para-confessar-crime-1.3344647" target="_self">Homem é preso suspeito de matar a ex e ligar para a família para confessar crime</a>&nbsp; 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/garota-de-programa-e-espancada-na-saida-de-motel-e-suspeito-morre-em-confronto-com-a-rotam-1.3344382" target="_self">Garota de programa é espancada na saída de motel, e suspeito morre em confronto com a Rotam</a>&nbsp;</div>

Eles tiveram uma discussão onde a vítima havia pedido que o suspeito deixasse a casa onde moravam pois ela já tinha outro companheiro, revelou André Barbosa.&nbsp;Após a discussão o homem se irritou e cometeu o crime.&nbsp;&nbsp;

Ainda conforme a PC, o suspeito tentou se matar com uma corda, a qual se rompeu durante a tentativa. Ele ficou na casa&nbsp;até quinta-feira, dia em que entrou em contato com um parente e contou o que havia ocorrido.&nbsp;

O parente, segundo o delegado, acionou a Polícia Militar de Goiás (PMGO) que prendeu o homem&nbsp;em flagrante nas proximidades do Bairro Nova Vila. De acordo com a PM, durante a abordagem ele confessou ter cometido feminicídio contra a companheira.&nbsp;

O suspeito recebeu voz de prisão e foi conduzido ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito, e depois levado à delegacia. O caso está sendo investigado pelo Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) da&nbsp;Polícia Civil de Goiás.&nbsp;&nbsp;

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Suspeito está no presídio da cidade e ainda não passou por audiência de custódia (Reprodução/TV Anhanguera)

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Homem é preso suspeito de matar companheira com pancadas de barra de ferro, em Goiás

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FEMINICÍDIO

Morte de Ielly Gabriele

WEBSTORIES: Júri de acusado de matar namorada que filmou a própria morte é cancelado após plateia ap

<div attr-cid="policy:1.3345523" attr-version="policy:1.3345523:1764862814" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3345523" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3345523', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3345523">Morte de Ielly Gabriele (1.3345523)</a></div>

O júri popular do acusado de <a href="https://opopular.com.br/cidades/cenas-fortes-mulher-filma-a-propria-morte-e-namorado-e-preso-apos-video-ser-encontrado-em-celular-diz-pm-1.3080503">matar a namorada, Ielly Gabriele</a> Alves, de 23 anos, que filmou a própria morte, foi cancelado após a plateia aplaudir o promotor de Justiça. O <a href="https://opopular.com.br/cidades/homem-filmado-matando-a-namorada-e-julgado-1.3345500" target="_self">julgamento acontecia em Jataí</a>, no sudoeste. Diego Fonseca Borges, 29, segue preso desde o episódio, segundo a defesa dele, Mirelle Gonsalez Maciel. A advogada relatou ao POPULAR que pediu a dissolução do conselho.&nbsp;

<cite>Houve várias&nbsp; manifestações da plateia que foram&nbsp; claramente perceptíveis pelos jurados, criando um ambiente de pressão e comprometendo a serenidade necessária para o julgamento imparcial", explicou a advogada.</cite>

Conforme o Código de Processo Penal brasileiro (CPP), manifestações do público durante o julgamento em um Tribunal do Júri, que possam influenciar os jurados são proibidas e podem levar à suspensão ou dissolução da sessão. A regra cita o princípio da serenidade e imparcialidade do julgamento.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/homem-filmado-matando-a-namorada-e-julgado-1.3345500" target="_self">Homem filmado matando a namorada é julgado</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/veja-quem-era-a-jovem-que-filmou-quando-foi-morta-pelo-namorado-1.3080753" target="_self">Veja quem era a jovem que filmou quando foi morta pelo namorado</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/cenas-fortes-mulher-filma-a-propria-morte-e-namorado-e-preso-apos-video-ser-encontrado-em-celular-diz-pm-1.3080503" target="_self">Cenas fortes: Mulher filma a própria morte, e namorado é preso após vídeo ser encontrado em celular, diz PM</a></div>

Mirelle Gonsalez disse que após a manifestação da plateia a favor da parte acusatória, ela pediu o adiamento do julgamento, mas que foi negado pelo magistrado. "Diante da negativa do juiz e de clara contaminação e nulidade, a defesa deixou o plenário do júri, requerendo que seja designada outra data e desta forma&nbsp; com respeito a todos os preceitos legais", salientou a advogada.&nbsp;&nbsp;

<div attr-cid="policy:1.3345871" attr-version="policy:1.3345871:1764934143" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3345871" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3345871', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3345871">WEBSTORIES: Júri de acusado de matar namorada que filmou a própria morte é cancelado após plateia ap (1.3345871)</a></div>

De acordo com a denúncia, <a href="https://opopular.com.br/cidades/veja-quem-era-a-jovem-que-filmou-quando-foi-morta-pelo-namorado-1.3080753" target="_self">Ielly Gabriele foi morta com um disparo</a> feito por Diego em 2023. Um vídeo encontrado pela Polícia Civil de Goiás (PCGO), durante a investigação, mostra quando o acusado aponta uma arma na direção da vítima e o celular cai no chão e a gravação é encerrada. O denunciado é julgado por homicídio triplamente qualificado, que é por motivo fútil, situação em que a defesa da vítima é difícil e por feminicídio, crime de homicídio em mulheres.&nbsp;

“Nós pedimos o júri várias vezes, nosso cliente está preso! Queremos o julgamento, mas que ocorra dentro da lei, mesmo com a repercussão o julgamento deve ser respeitado, júri não é espetáculo,” argumentou Mirelle Gonsalez.&nbsp;

<ul>
	<li>Veja vídeo da TV Anhanguera sobre esse julgamento:&nbsp;<a href="https://g1.globo.com/go/goias/videos-ja-2-edicao/video/juri-da-morte-de-ielly-e-cancelado-14155329.ghtml" target="_blank">Júri da morte de Ielly é cancelado</a></li>
</ul>

A mãe de Ielly, Olesiane Alves, em entrevista à TV Anhanguera, afirmou que é necessário tornar as penas mais rigorosas para casos como este.&nbsp;

"Quanto mais rápido resolver, pronto. Resolve. Porque você vai tentar pelo menos se arrastar um pouco melhorzinho, porque eu costumo dizer assim: 'eu não vivo. Eu vegeto, eu arrasto'. É um pedaço da gente que se foi," lamentou a mulher sobre o adiamento do julgamento.&nbsp;

<h2>Relembre: Namorado é preso por morte de jovem&nbsp;&nbsp;</h2>

Na época, a Polícia Militar de Goiás foi chamada pelo hospital após Ielly Gabriele dar entrada baleada e não resistir aos ferimentos. Inicialmente, Diego Fonseca Borges afirmou que os dois foram abordados, no setor Epaminondas I, em Jataí, por uma motocicleta com dois homens, e que o garupa teria efetuado os disparos.

No entanto, a versão apresentada pelo suspeito entrou em contradição durante o depoimento. Ao analisar o celular da vítima, os policiais encontraram um vídeo gravado por Ielly no momento do crime. Nas imagens, ela registra Diego apontando a arma em sua direção, antes do disparo fatal. Após o tiro, o celular cai no chão e a gravação é interrompida.

Diante das evidências, Diego foi preso e indiciado por homicídio triplamente qualificado — por motivo fútil, impossibilidade de defesa da vítima e feminicídio. Desde então, o caso ganhou repercussão.

Íntegra da nota da defesa de Diego Fonseca Borges

A defesa de Diego informa que pediu&nbsp; à dissolução do conselho de sentença, pois houve várias&nbsp; manifestações da plateia que foram&nbsp; claramente perceptíveis pelos jurados, criando um ambiente de pressão e comprometendo a serenidade necessária para o julgamento imparcial.

Diante da negativa do juiz e de clara contaminação e nulidade, a defesa deixa o plenário do júri, requerendo que seja designada outra data e desta forma&nbsp; com respeito a todos os preceitos legais.&nbsp;

A defesa informa ainda que espera ansiosa o momento que o júri ocorra novamente, sem tumultos, para que possa ocorrer o julgamento correto.

Ao final, esclarecendo reiteradamente que foi um acidente, ele prestou socorro à vítima e o vídeo gravado demonstra isto, se ouvido com o som.&nbsp;

Mirelle Gonsalez Maciel 
Rodrigo Lustosa

&nbsp;

Júri de acusado de matar namorada que filmou a própria morte é cancelado após plateia aplaudir promotor; entenda regra

Feminicídio 

Assim como só uma sensação tão forte de perplexidade, desesperança e falta de alternativa poderia alavancar e garantir a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, só num ambiente institucional tão degradado como o de hoje seria possível levar a sério o nome da sra. Michelle Bolsonaro para a Presidência.

Michelle é uma mulher bonita, que produziu a melhor imagem da posse do seu marido, discursando em libras, mas que experiência e qualificação pessoal, política, administrativa e intelectual ela tem para presidir o Brasil? Articular uma candidatura assim é uma responsabilidade.

A hipótese voltou à tona depois que ela peitou os enteados e a direção do PL e venceu. Vetou pública e voluntariosamente a aliança do partido com Ciro Gomes no Ceará, foi confrontada, virou pivô de uma reunião de emergência do PL e... a aliança com Ciro foi para o brejo. Dizem, aliás, que só Bolsonaro segura Michelle, mas a percepção é o oposto: por mais que fique incomodado com sua evidência, ele é que só ouve a mulher.

Além da posse de 2019, Michelle roubou a cena ao discursar com desenvoltura no lançamento de Bolsonaro à reeleição, em 2022. E ela atende à demanda por mulheres em espaços de poder, tem base eleitoral evangélica e está em campanha, enquanto Tarcísio de Freitas, do Centrão, fica em cima do muro.

“Quem não tem cão caça com gato”. Michelle tende a disputar o Senado pelo DF, mas se torna Plano B com Bolsonaro inelegível, Eduardo botando os pés pelas mãos, Flávio tirando a fantasia. “Quem leva o sobrenome às urnas?” E, enquanto a extrema direita bate cabeça no entra e sai dos Bolsonaro, o direitão, vulgo Centrão, não adere nem aos filhos nem à mulher do ex-presidente e busca não alternativas, no plural, mas “a” alternativa, no singular: Tarcísio.

Na prática, geraria uma inversão: em vez de coadjuvante do bolsonarismo, o Centrão assumiria o protagonismo, o que Bolsonaro não admite e inviabiliza uma chapa mista, por exemplo, com Tarcísio e Michelle. Essa chapa, ainda por cima, seria automaticamente carimbada de “chapa puro sangue bolsonarista”. Adeus, eleitorado de centro-direita.

E um confronto entre bolsonarismo e Centrão em 2026? Há duas avaliações. A de que o racha efetivo na direita (diferente do acordão entre governadores) seria o melhor cenário para Lula e a de que a rejeição ao bolsonarismo empurrará o eleitorado da direita moderada para o candidato do Centrão.

Em qualquer hipótese, Michelle - como Jair, em 2018 - é fora de padrão, sem precedentes, foge às análises tradicionais e pode tornar a eleição de 2026 em altamente imprevisível.

Eliane Cantanhêde, jornalista