Passadas as eleições municipais, as disputas para presidentes dos legislativos e a formação das equipes dos novos prefeitos entraram no radar do permanente xadrez político. As articulações para presidente da Câmara de Goiânia começaram no dia seguinte à eleição dos vereadores, em 6 de outubro. Eleito nos biênios 2019/2020, 2021/2022 e 2023/2024, Romário Policarpo (PRD) poderá disputar o quarto mandato, apesar de decisão do STF estabelecendo apenas uma reeleição para membros de mesas diretoras dos legislativos. Ele se beneficiou de o marco temporal de reeleição ser considerado a partir 7 de janeiro de 2021. As duas primeiras eleições foram anteriores ao marco. A terceira é a única depois do marco, daí ele ter direito a mais uma eleição.Policarpo se consolidou no poder por ter formado uma base própria de vereadores – independente da base aliada do prefeito –, mesmo caminho seguido pelo deputado estadual Bruno Peixoto (União) na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). O deputado montou sua base em 2023, e se elegeu presidente em duas eleições seguidas, a segunda para o biênio 2025/2026 também antecipada. A popularidade de ambos entre seus pares ocorreu pela criação de fortes estruturas internas, como aumento de cargos comissionados, de verbas de gabinetes, além de compra de carros, entre outros mimos para os parlamentares, unindo todos na mesma causa própria, incluindo os antagônicos PL e PT.Em 2021, logo após a segunda reeleição de Policarpo, a Câmara de Goiânia aumentou a verba de gabinete de R$ 62 mil para R$ 78 mil mensais e criou 253 novos cargos comissionados. A Assembleia Legislativa, por sua vez, tem 23 diretorias e 41 secretariais (eram 15 e 16 respectivamente antes da presidência de Bruno Peixoto), e 5 mil cargos comissionados para dividir entre os deputados estaduais. Romário Policarpo e Bruno Peixoto exercem o papel simbólico de presidentes de sindicatos de parlamentares, por isso se tornaram imbatíveis, pois suas eleições independem do chefe do executivo de plantão.Assim, Policarpo passou por dois prefeitos (Iris Rezende e Rogério Cruz) e, a julgar pelos acontecimentos da última semana, tende a permanecer no primeiro biênio do futuro prefeito. Sandro Mabel acompanha suas articulações pelo quarto mandato com sinais de apoio. Sem ter como construir uma candidatura própria, pelo tamanho da base interna de Policarpo, Mabel quer garantias de que terá o vice-presidente da Casa e a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O MDB com oito vereadores, quer mudar o curso dessa história e articula o lançamento de candidato próprio sob argumento de ter a maior bancada. O presidente do diretório metropolitano, Agenor Mariano, convocou reunião para o dia 22 para escolher o líder da bancada e um possível candidato. Nenhum emedebista se apresentou como candidato, até para não queimar a largada, mas Igor Franco e Lucas Vergílio se movimentam de olho no cargo. Essa disputa dominou o xadrez político nesta semana e provocou o primeiro atrito entre o prefeito eleito e o MDB do vice-governador Daniel Vilela. Mabel não gostou de seu aliado convocar a reunião sem diálogo com ele. Pessoas próximas ao futuro prefeito atribuem essa articulação a Agenor Mariano e duvidam que ela ocorreu com o consentimento de Daniel Vilela, que passou a semana fora de Goiânia. Igualmente, o MDB não gostou de Mabel apoiar Policarpo, sem conversa prévia. Seja como for, o episódio serviu como degustação das disputas por nacos de poder, naturais em formação de governos. O MDB comandou Goiânia por vários mandatos e só não participou da gestão de Rogério Cruz, pelo rompimento ocorrido em abril de 2021, logo após a morte de Maguito Vilela. Nesta eleição o partido emprestou sua expertise à campanha de Mabel e almeja papel de protagonista no futuro governo. Só que Mabel tem luz própria, vastíssima experiência política e condições de ser um prefeito mais livre de amarras políticas, como demonstra nessa articulação pró-Romário, o que deixou o MDB em alerta total. Se mesmo elegendo Maguito, o partido ficou de fora da última gestão, imagina estar na chapa apenas com a vice-prefeita, a tenente-coronel Cláudia da Silva Lira. O MDB é um partido escaldado.