Esta última semana foi rica em acontecimentos na prefeitura, na Câmara de Goiânia e na Assembleia Legislativa que, infelizmente, reforçam o senso comum de que a política não presta. O prefeito Rogério Cruz e os vereadores trouxeram de volta o nepotismo à pauta política. No final dos anos 1990 e nos anos 2000, o Brasil tentou uma reação contra a distribuição de empregos a parentes de políticos. Foi uma época de debates acalorados nos parlamentos, nos executivos, nos órgãos de controle e no judiciário. O nepotismo chegou a ser proibido por algumas leis e por decisões judiciais. Posteriormente flexibilizou-se a regra dando sobrevida à prática, como se viu nesta semana com a nomeação de pelo menos cinco parentes de vereadores pela prefeitura.O prefeito indicou Diego Franco, irmão do vereador Igor Franco, secretário de Economia Criativa; Gizza Laurene Carmo di Oliveira Lemos, mulher do vereador Welton Lemos, para presidente do Imas e Bruna Lopes Nascimento, irmã da vereadora Gabriela Rodart, para uma diretoria do instituto (posteriormente as nomeações das duas foram revogadas por divergências políticas, mas elas ficaram em outros cargos). O ex-vereador Paulo César da Silva, pai do vereador Paulo Henrique da Farmácia, tornou-se secretário de Ciência e Tecnologia; seu colega Thialu Guiotti emplacou seu chefe de gabinete, Danilo Viana Ribeiro, como secretário de Esportes e sua tia, Nara Guiotti, chefe de gabinete na mesma pasta. O agravante, se é que precisa, é o fato de três desses vereadores (Welton, Thialu e Paulo Henrique) serem membros da CEI da Comurg, esvaziada e praticamente morta desde que as nomeações foram publicadas no Diário Oficial.Na terça-feira (16) a Assembleia Legislativa promoveu uma espécie de Dia de Bruno Peixoto, o presidente e aniversariante do dia. Pela manhã a Casa sediou a celebração de uma missa em homenagem aos seus 49 anos. À tarde ocorreu sua reeleição antecipada pelo plenário, e por unanimidade, para o biênio 2025/2026, como se fosse um presente de aniversário de seus pares ao aniversariante. O dia terminou com uma festa para mais de 2 mil convidados em um espaço de festa, com presença da nata política governista, incluindo o governador Ronaldo Caiado, e com cobertura dos órgãos oficiais de imprensa, a TV Alego e a TBC, numa clara promoção pessoal (alô, órgãos de controle!). A sessão desta quinta-feira (19) foi interrompida para exibição de um vídeo de 15 minutos sobre a vida de Bruno Peixoto, com depoimentos de familiares e amigos, daqueles vídeos longos e monótonos sobre aniversariantes que se exibem em festas privadas de família. A atividade política existe para melhorar a vida da sociedade. O cargo é o meio para atender ao interesse público e não para promoção pessoal. Com apenas quatro meses de mandato, os 41 deputados ainda não têm uma folha de serviços relevantes a exibir a seu eleitor. O clima de celebração e de euforia tem mais a ver com as “melhorias” internas. É que para se eleger e se reeleger antecipadamente, ambos por unanimidade, Bruno melhorou a vida dos deputados. Dividiu com os 40 colegas a indicação dos 1,5 mil cargos comissionados da presidência (nas gestões anteriores os presidentes e alguns aliados faziam essas indicações). Aumentou de 58 para 95 o número de servidores nos gabinetes, criou os cargos de 1º e 2º vice-presidente corregedor da mesa diretora; ampliou as diretorias de 15 para 23 e as secretarias de 16 para 29 e criou 3 secretarias adjuntas; comprou 41 caminhonetes 4x4 para cada um dos deputados e agora, para a reeleição, criou a 5ª secretaria para abrigar o PP, o sétimo partido com assento na mesa diretora. Para os deputados, Bruno tornou-se um “grande líder” e as festividades foram uma tentativa de propagar essa ideia ao público externo. O uso da máquina pública pela prefeitura, pela Câmara de Goiânia e na Assembleia revelam mais do que velhas práticas políticas reproduzidas pelos novos políticos, aliás, como algo absolutamente normal (pauta que une direita e esquerda). Mostra uma safra de políticos Nutella, que chega ao poder sem ser forjada nas lutas políticas e sociais. Por isso precisa ainda mais da estrutura pública para conseguir se manter no poder. São lideranças artificiais, necessitadas das benesses do poder, favores e outros benefícios aos seguidores em troca de apoio político, porque não conseguem se sobreviver por seu próprio talento e pela folha de serviço prestado ao público. E assim rompem a tênue fronteira que antigas gerações tentaram criar entre o público e o privado.