Uma nota na coluna Giro desta quarta-feira (22), assinada pela repórter Fabiana Pulcineli, provocou um alvoroço na Câmara de Goiânia, e levou ao cancelamento da sessão ordinária do dia para realização de reunião dos vereadores na presidência. Na sequência, a mesa diretora foi à prefeitura pedir explicações ao prefeito Sandro Mabel (UB). A notícia que transtornou os parlamentares informava a apuração pela Controladoria Geral do Município (CGM) de pagamentos a lobistas entre 10% e 15%, a título de “consultoria em emenda”, “assessoria” ou “gestão e captação”, para viabilizarem emendas a organizações sociais (OSs). A Câmara tem R$ 176,179 milhões do orçamento de 2025 para suas emendas e destinou 95% delas às OSs. O Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) acatou duas representações do Ministério Público de Contas para investigar a destinação de R$ 4,3 milhões, pelo vereador Geverson Abel (Republicanos), à Associação Goiana Cidadania Para Todos e à Associação Unidos Pelo Bem-Estar Social. Há indícios de que as entidades possuem vínculos diretos com o vereador.A julgar pela quantidade de denúncias reveladas pelo repórter Márcio Leijoto, a fiscalização engatinha. O caso do vereador Abel foi só o primeiro, publicado em janeiro de 2025. Depois disso, o repórter revelou mais 9 casos. Ao todo, as 10 reportagens mostraram o envolvimento de pelo menos 20 vereadores e ex-vereadores na destinação de R$ 28,5 milhões para OSs em 2024 e 2025.A boa notícia da semana veio do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Flávio Dino determinou, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 854, que estados, o Distrito Federal e os municípios adotem medidas para garantir transparência e rastreabilidade aos recursos distribuídos por emendas impositivas, as mesmas que ele determinou ao Congresso Nacional em agosto de 2024. A decisão do ministro se baseou no Índice de Transparência e Governança Pública (ITGP) 2025, divulgado em 30 de setembro pela Transparência Internacional-Brasil. O documento revelou que, apesar do avanço em muitas áreas, os governos estaduais continuam apresentando falhas significativas na transparência de emendas parlamentares e obras públicas. Apenas três estados (Acre, Distrito Federal e Minas Gerais) divulgam integralmente informações sobre emendas estaduais. Goiás tem bom desempenho em outros quesitos do ITGP/2025. O estado recebeu nota Ótima (93,4 de 100 pontos) e ficou em 2º lugar no ranking, atrás apenas do Espírito Santo. Já a Assembleia Legislativa recebeu nota Regular (59,3/100). Goiânia ocupou a 17ª posição entre as capitais, com a pontuação de 47,8/100 e classificação Regular. A Assembleia Legislativa lançou em parceria com o Executivo em 2025 o Emendas-GO, plataforma específica de transparência, para gerir todo o ciclo das emendas parlamentares. Cada um dos 41 deputados tem direito a indicar R$ 12,9 milhões em emendas. Apesar da boa iniciativa, há lacunas no portal como falta de confirmação pública clara de que as informações são disponibilizadas de maneira completa, ou que estejam facilmente exportáveis em formatos abertos.Os Portais de Transparência da Prefeitura de Goiânia e da Câmara Municipal também oferecem informações sobre as emendas impositivas dos vereadores. O problema é a qualidade das informações. Elas são frequentemente incompletas, desatualizadas ou não estão em um formato facilmente acessível.Os vereadores tentaram blindar suas emendas da auditoria da CGM, mas remam contra a maré, haja vista o forte movimento por transparência. A ideia de que o recurso é do parlamentar, pois só ele conhece a realidade de suas bases eleitorais, se revela uma falácia, um meio, como se vê pelas inúmeras suspeitas, de dar uma destinação nada republicana a recursos do orçamento público. Essa realidade, contudo, pode mudar com a extensão das regras da ADPF 854 do STF aos estados e municípios. Um sopro de otimismo para a melhoria dos gastos públicos. Que TCE, TCM, MP-GO se juntem ao STF (e ao repórter Marcio Leijoto) para investigar o que muitos temem e querem esconder.