10 de novembro. Richard Wagner é difícil. Quem encena “O Ouro do Reno”, a primeira das quatro óperas da tetralogia “O Anel do Nibelungo”, tem de ter talento e intimidade com o teatro lírico. E quem quer assistir a ela precisa gastar os tubos para chegar a uma orquestra, um elenco e um maestro à altura da arte total de Wagner. Então, foi um programa que se faz uma vez na vida e outra na morte: ver “O Ouro do Reno” no Teatro alla Scala, de Milão, a mais elevada das torres de marfim. Tudo foi fabuloso: a queda livre da música no despenhadeiro dos mitos; a lúgubre intensidade de cenários e figurinos; a magnitude do vozerio. Cada euro do ingresso valeu a pena. Fechada a cortina, um uníssono de entusiasmo pôs a plateia de pé. Aí, no clímax da consagração, chamaram ao palco Christa Mayer, a contralto que fez o papel de Erda. Má ideia. Uma vaia bombástica abalou o Scala. Os “bravo!” vibrantes deram lugar a dós de peito wagnerianos: “Vergogna!”. Nunca vi nada igual. Nem no Parque Antarctica.