Reportagem publicada na edição deste fim de semana traz uma informação reveladora: o número de adolescentes infratores internados em unidades socieoeducativas caiu drasticamente em todo o País. Goiás foi um dos estados com maior redução, chegando a mais de 66% em dez anos. O fenômeno vem sendo pesquisado por estudiosos, que enxergam aspectos negativos e positivos no fato.

Os dados apontam para uma queda expressiva da apreensão de adolescentes, parte por descrédito do sistema, considerado pouco efetivo. Por outro lado, um número menor de jovens sob privação da liberdade tem demonstrado melhoria no atendimento socioeducativo, afirmam os especialistas. O paradoxo ajuda a jogar luz sobre um fator incontestável: as boas condições do cárcere, para criminosos ou infratores, são fundamentais para uma ressocialização adequada, que favoreça o rompimento do ciclo de violência.

Junto a isso, é preciso que os governos, nas três esferas, invistam consistentemente na educação, lazer e assistência social às famílias e suas crianças. Apenas um trabalho multissetorial, integrado e permanente poderá garantir o fim da escola do crime e manter as estatísticas em queda.

Adolescentes infratores

Editorial

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Matéria - Opinião - Editorial

A regra do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) que determina apuração individualizada do teto de gastos dos poderes e órgãos autônomos, em vez da análise do valor global, provocou uma corrida de seus representantes em <a href="https://opopular.com.br/politica/deputados-aprovam-inclus-o-de-fundo-no-abatimento-do-propag-1.3348937" target="_self">articulações para definir a repartição do novo limite</a>. O Propag, a que Goiás está prestes a aderir, garante teto maior que do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), mas exige comprovação de cumprimento de cada instituição.

O governo estadual afirma não ter ainda previsão de quando enviará à Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) o projeto de lei que define a distribuição do teto, como exige a lei do Propag (Lcp nº 212/2025). Diante das pressões, há possibilidade, segundo informações de bastidores, de envio apenas em fevereiro, na retomada dos trabalhos legislativos.

A exposição de descumprimento de teto de forma individualizada gerou crise entre Executivo e os demais poderes no ano passado, e culminou com a queda da titular da Secretaria Estadual da Economia, Selene Peres Nunes. É que, embora o RRF só exigisse a conta global, ela apontou, em nota técnica enviada à Secretaria do Tesouro Nacional (STN), que Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), Defensoria Pública do Estado (DPE-GO), Alego e Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO) haviam fechado o ano de 2023 com despesas primárias acima do limite.

<ul style="padding-right: 0px; padding-left: 0px; margin: 0px 0px 5.5px 25px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 11px;">
	<li>Ouça mais sobre o programa na CBN Goiânia:&nbsp;<a href="https://www.cbngoiania.com.br/cbn-goiania/papo-politico/propag-e-aprovado-em-primeira-votac-o-na-alego-1.3281252" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none;" target="_blank">Propag é aprovado em primeira votação na Alego</a></li>
</ul>

Mesmo com o descumprimento dos quatro órgãos, no valor global, especialmente coberto pelo Executivo, houve respeito ao teto naquele ano. Judiciário e Legislativo, então, se queixaram da exposição.

Agora a definição dos valores deve render nova polêmica, em meio a articulações de poderes e órgãos autônomos já iniciadas desde o mês passado. O movimento tem ocorrido no sentido de elevar os gastos na reta final de 2025 e solicitar suplementação considerando que não precisam mais cumprir o teto, além de justificar a necessidade de maior orçamento a partir de 2026.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/estado-calcula-beneficio-de-r-26-bilh-es-com-o-propag-1.3348354" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Estado calcula benefício de R$ 26 bilhões com o Propag</a> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/blog-fabiana-pulcineli/governo-lula-autoriza-transic-o-de-goias-do-rrf-para-o-propag-1.3347925" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Governo Lula autoriza transição de Goiás do RRF para o Propag</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/governo-envia-pec-para-ajustar-despesas-ao-propag-1.3338899" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Governo envia PEC para ajustar despesas ao Propag</a></div>

O RRF permitia aumento de despesas corrigido apenas pela inflação, tendo como base o ano de 2021, quando houve o pedido de adesão ao regime. Já o Propag permite considerar o crescimento da receita primária com <a href="https://opopular.com.br/politica/estado-calcula-beneficio-de-r-26-bilh-es-com-o-propag-1.3348354" target="_self">acréscimo de até 70%</a>.

O fato de o governo goiano evitar divulgar o cálculo do novo teto e admitir adiar para o próximo ano legislativo o envio do projeto teria a ver com estratégia para evitar as pressões.

Nos bastidores, a informação é de que pelo menos dois órgãos fizeram pedidos informais de suplementação para deixar de usar recursos de fundos que estavam sendo utilizados para não desrespeitar o teto.

A lei do Propag (Lcp 212/2025) estabelece no § 5º do artigo 7º que “lei estadual definirá a repartição do limite global anual de despesas do Estado, observando-se, enquanto não editada, as despesas de cada Poder ou órgão no exercício de referência para a base de cálculo”.

O governo já enviou em novembro à Alego proposta de emenda à Constituição (PEC) que indica a apuração individualizada, conforme as regras do Propag. A PEC, que institui o Marco Fiscal da Sustentabilidade (MFS), deve começar a ser apreciada na terça-feira (16), sem previsão de alterações. A proposta também já estabelece que precisa haver lei complementar sobre a distribuição do teto.

Tanto representantes da Alego como do Judiciário e dos órgãos autônomos (além de DPE e TCM, Tribunal de Contas do Estado e Ministério Público Estadual) se movimentam nos bastidores para cobrar mais recursos.

O presidente da Alego, Bruno Peixoto (UB), diz que deve haver diálogo com todos os órgãos para definição conjunta, mas antecipa a principal proposta. “Vou defender que considerem o que gastamos em 2025 mais a inflação e o crescimento da receita. É o justo. Tem de considerar o gasto deste ano”, diz. O governo defende a referência do ano de 2021.

<h2>Cálculos</h2>

Nas articulações de bastidores, Bruno também defende a inclusão do fundo especial do Legislativo no cálculo de despesas, apesar de a PEC estabelecer que não é considerado para apuração do limite.

Em nota, a Secretaria Estadual da Economia disse que o Propag concede prazo de até 12 meses para definição do novo teto e não deu previsão de envio do projeto de lei. “Nesse período, o governo de Goiás conduzirá as discussões necessárias para o alinhamento institucional, e os valores e cálculos serão definidos após a conclusão das tratativas”, diz.

Enquanto a norma não for editada, deve ser levado em consideração o gasto de cada Poder e órgão autônomo no exercício de 2021, conforme o texto da PEC.

O Ministério da Fazenda reforçou que o Estado tem um ano, a partir da data da assinatura do contrato de refinanciamento do Propag, para limitar o crescimento das despesas conforme as novas regras e disse não ter o cálculo do novo teto. “No momento, não é possível estabelecer qual o valor de referência para a limitação do crescimento das despesas primárias a que estará submetido Goiás, já que o estado ainda não assinou o termo aditivo do Propag”, diz..

A previsão é que a assinatura ocorra nos próximos dias, depois da publicação de <a href="https://opopular.com.br/opiniao/blog-fabiana-pulcineli/governo-lula-autoriza-transic-o-de-goias-do-rrf-para-o-propag-1.3347925" target="_self">despacho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva</a> (PT) na última quarta-feira (10). O documento determina a saída de Goiás do RRF, condicionada à adesão oficial ao Propag.

Essa oficialização ocorre com a assinatura do primeiro termo aditivo da renegociação da dívida com a União - cerca de R$ 20,5 bilhões. O documento é assinado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Banco do Brasil, Caixa Econômica e pelo governador Ronaldo Caiado (UB). As informações em Brasília são de que falta apenas um despacho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre os termos do aditivo.

O Propag tem três principais vantagens ao Estado, o que fez com que Goiás fosse o primeiro a protocolar o pedido de adesão, em junho: a ampliação do teto de gastos, o diminuição do indexador da dívida (sai de taxa Selic mais juros para IPCA e zero de juro) e a amortização de 20% do saldo devedor (R$ 4,1 bilhões) com a oferta de ativos - no caso de Goiás, recursos hídricos e minerais, dívida ativa e possivelmente o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR).

Como mostrou o POPULAR na quinta-feira (11), o governo de Goiás calcula em R$ 26 bilhões os ganhos da renegociação pelos próximos 30 anos para o estado.

Novo teto de gastos com o Propag mobiliza Poderes

Política

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Renegociação

Goiás registrou uma queda expressiva no número de adolescentes internados nos últimos anos. Em 2019, havia 468 jovens em unidades de internação e outros 569 aguardando vaga. Atualmente, segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), esse número caiu para 198 adolescentes internados, sem fila de espera desde 2023. A redução acompanha uma tendência observada em todo o país. Especialista aponta para alterações nas dinâmicas criminais dos espaços e reflexo do contexto pandêmico.

No ano passado, a pesquisa Redução de adolescentes em medidas socioeducativas no Brasil (2013-2022): condicionantes e percepções — parte da 6ª edição da série Justiça Pesquisa, desenvolvida pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) — analisou a diminuição do número de jovens em privação de liberdade no país. O estudo mostra que, em dez anos, o total de adolescentes internados no sistema socioeducativo caiu 46%, passando de 23 mil para pouco mais de 12 mil, com a redução mais intensa registrada entre 2019 e 2022. Em Goiás, a variação no período foi de -66,51%.

Os pesquisadores identificaram os estados onde o fenômeno se mostrou mais expressivo em cada região do país. Foram selecionados Amapá, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Segundo a pesquisadora Bruna Koerich, membro do Observatório de Socioeducação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) — uma das instituições responsáveis pelo estudo —, a pandemia funcionou como catalisadora desse movimento, pois contribuiu para a redução da incidência criminal.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/adolescente-que-golpeou-professor-com-canivete-em-sala-de-aula-e-apreendida-1.3255279" target="_self">Adolescente que golpeou professor com canivete em sala de aula é apreendida</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/18-adolescentes-ja-foram-apreendidos-apos-onda-de-ameacas-1.3021052" target="_self">18 adolescentes já foram apreendidos após onda de ameaças</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/mente-ocupada-e-projec-o-de-futuro-1.2616766" target="_self">Mente ocupada e projeção de futuro</a></div>

O estudo destaca ainda que mudanças no contexto jurídico e transformações na gestão do sistema socioeducativo tiveram peso relevante. Um exemplo é o habeas corpus, apresentado pela Defensoria Pública do Espírito Santo (DP-ES) e julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que limitou a ocupação das unidades socioeducativas a 100% de sua capacidade. Essa diretriz alterou significativamente a estrutura do sistema e influenciou outros normativos, como a Resolução CNJ n. 367/2021, que define diretrizes para a criação das centrais de vagas dos sistemas estaduais de atendimento socioeducativo.

O Observatório de Socioeducação também realizou pesquisa de campo de caráter qualitativo, envolvendo profissionais do sistema de garantia de direitos e grupos focais com adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. Nesse sentido, o estudo apontou que a redução do número de jovens internados também está ligada à diminuição das apreensões realizadas pelas forças de segurança.

Os dados apontam queda expressiva nos boletins de ocorrência e nos flagrantes envolvendo adolescentes durante o período analisado. Em Goiás, por exemplo, o pico de apreensões, conforme a taxa por 100 mil habitantes, foi em 2013, quando 4.190,5 a cada 100.000 habitantes, entre as idades de 12 a 17 anos, foram apreendidos. Após isso, a queda foi constante, sendo acentuada a redução em 2017. Entre 2013 e 2022, houve a redução de 99,9% da taxa.

Além disso, os relatos qualitativos evidenciaram que parte das forças policiais estaria apreendendo menos adolescentes por considerar o sistema socioeducativo pouco efetivo como mecanismo de responsabilização. “A percepção é que existe um descrédito do sistema (socioeducativo) e, por isso, há menos registros”, explica Bruna.

O estudo aponta ainda para a existência de “correções informais” por parte das autoridades como substituto à apreensão. De acordo com Bruna, também foram percebidos mais registros de flagrantes de atos infracionais de crimes mais gravosos, como homicídio e tráfico, em detrimento de furtos e roubos.

Na percepção da pesquisadora, o cenário atual é paradoxal. “Por mais que a motivação seja negativa e tenha um fundo de violência e informalidade, os funcionários relatam que um número menor de adolescentes fez o atendimento socioeducativo ser melhorado”, comenta.

Em outubro de 2025, o titular da 75ª Promotoria da capital, especializada em matéria infracional, Delson Leone Júnior, assinou uma portaria determinando a instauração de processo administrativo tendo como objeto acompanhar e fiscalizar a implementação de políticas públicas relacionadas ao sistema socioeducativo estadual.

<h2>Governo</h2>

Em nota, a Seds argumentou que a queda é reflexo das políticas intersetoriais executadas pelo estado, que envolvem ações articuladas entre educação, assistência social, segurança pública, saúde e cultura. Conforme a pasta, programas sociais, como o Mães de Goiás, Dignidade, Aprendiz do Futuro, Juventude Empreendedora, Pró-Atleta e Aluguel Social e outros executados pelo Goiás Social, famílias têm realidades transformadas, “o que acarreta na diminuição da vulnerabilidade e inserção dos jovens na marginalidade”.

A secretaria também atribui parte da redução à posição de liderança de Goiás no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o que a pasta classifica como um reflexo de iniciativas como o Programa Bolsa Estudo e da implementação das escolas em tempo integral. A Seds ainda ponderou os números relacionados à segurança pública, que evidenciam “o combate rigoroso ao crime organizado e a redução drástica da criminalidade em Goiás”.

Sobre as abordagens feitas a adolescentes, a Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO) informou que, ao identificar adolescentes em situação de flagrante ato infracional, adota procedimento padronizado, conforme as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Após a estabilização da ocorrência, a equipe realiza a condução do adolescente à Delegacia de Polícia de Atendimento ao Adolescente Infrator (Depai) e, onde não há a unidade especializada, o encaminhamento é realizado para a delegacia da área. 
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13 anos depois, TAC não foi cumprido 
Mais de uma década após sua assinatura, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), voltado à regularização dos centros de internação socioeducativa em Goiás, ainda não foi totalmente cumprido. O documento foi assinado em 2012 pelo Governo de Goiás e pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO). Na ocasião, o governo estadual assumiu diversas obrigações voltadas à adequação do sistema socioeducativo.

Ficou acordada a desativação do antigo centro de internação em Goiânia, bem como a construção de uma unidade para internação temporária e outra para internação definitiva, além da implantação de um programa de semiliberdade na capital. O TAC também prevê a construção de centros de internação no interior, a fim de regionalizar o atendimento, a resolução do déficit de servidores e a disponibilização de veículos para as unidades de atendimento socioeducativo.

Ao longo dos anos, algumas cláusulas do TAC foram cumpridas. Em maio de 2020, por exemplo, o antigo Centro de Internação Provisória de Goiânia (CIP) — que ficava localizado na estrutura física do 7º Batalhão da Polícia Militar, no Setor Jardim Europa — foi fechado. Dois anos antes, um incêndio dentro de uma cela do local culminou na morte de dez adolescentes, tragédia considerada a maior do sistema socioeducativo do Brasil.

Entretanto, outras cláusulas ainda permanecem pendentes. Em pareceres técnicos do MP-GO do segundo semestre deste ano, detalha-se que o número de veículos continua abaixo do estipulado e que persiste o déficit no quadro de servidores. Em outro documento, consta mensagem da gerente de Apoio a Ações Socioeducativas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), Bruna dos Anjos Lima, afirmando que ainda não há previsão para a construção de uma unidade de internação provisória na capital.

O titular da 75ª Promotoria de Goiânia, especializada em matéria infracional, Delson Leone Júnior, destaca que o principal problema é a falta de unidades de internação no interior. Os edifícios de São Luís de Montes Belos e Rio Verde estão com a construção avançada, mas ainda não foram entregues. Já o de Caldas Novas encontra-se abandonado. Apesar de a Seds considerar a unidade de Porangatu aberta, parecer técnico de 13 de novembro apontava que ela ainda não estava em funcionamento.

Leone explica que a regionalização está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Grande parte das famílias é de baixa renda ou está em situação de vulnerabilidade. Então, a questão da locomoção atrapalha muito todo o processo. Uma das bases do sistema socioeducativo é o fortalecimento do vínculo familiar e comunitário”, comenta.

De acordo com a Seds, atualmente, o sistema é composto por sete unidades de Centros de Atendimento Socioeducativo (Cases) regionais e os adolescentes apreendidos pertencem, majoritariamente, à faixa etária de 16 a 18 anos. Em geral, são jovens do sexo masculino, de raça/cor parda, com histórico de evasão ou baixa frequência escolar, e que vivem em contextos marcados por desigualdade, fragilidade nos vínculos familiares e ausência de oportunidades de formação profissional. A maioria dos adolescentes é oriunda do interior. Entre os atos infracionais, destacam-se principalmente homicídio e roubo.

Justiça 
Em março de 2018, o MP-GO acionou a Justiça por conta do descumprimento total e parcial de cláusulas do TAC. Em abril de 2024, a Justiça determinou o pagamento de R$ 9,1 milhões por parte do Governo de Goiás ao Fundo Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fecad), referente a um dos processos. O precatório aguarda pagamento. Também houve a determinação de pagamento de outra ação que pede a aplicação de multa diária e mensal, além da conversão da obrigação de fazer em perdas e danos, a serem apurados por meio de liquidação.

Em outubro de 2025, Leone fez uma recomendação ao secretário estadual de Desenvolvimento Social, Wellington Matos de Lima, referente à crescente oneração dos cofres públicos em face do período de descumprimento das obrigações pactuadas no TAC. A reportagem questionou a Seds sobre o prazo de conclusão das unidades que ainda não foram entregues, mas não obteve resposta. O mesmo ocorreu em relação à disponibilização de veículos para os centros de internação e à realização de um concurso público na área.

Vagas 
O MP-GO também tem atuado em prol da garantia de vagas no sistema socioeducativo goiano. Em maio de 2023, Leone enviou um ofício ao desembargador Leandro Crispim, então corregedor-Geral de Justiça, pedindo a adoção das providências cabíveis a fim de garantir a execução da Resolução nº 367, de 2021, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que visa a assegurar que a ocupação dos estabelecimentos socioeducativos não ultrapasse o número de vagas existentes.

O texto ainda destaca que é necessário prezar para que a definição da capacidade real de vagas observe a separação de vagas entre internação provisória, semiliberdade, internação e internação-sanção, bem como a separação entre vagas femininas e masculinas, levando em consideração critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. “Essa separação é importantíssima para que o socioeducativo seja eficaz”, diz Leone.&nbsp;

Também observa a Resolução nº 233, de 2021, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que estabelece diretrizes e parâmetros de atendimento socioeducativo às adolescentes privadas de liberdade no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase).&nbsp;

Conforme o documento, as medidas aplicadas às adolescentes devem ser cumpridas em unidade exclusiva para o público feminino. De acordo com Leone, no segundo semestre de 2025 iniciaram-se tratativas entre o MP-GO, o Judiciário e a Seds, e o governo estadual comprometeu-se a construir e colocar em funcionamento, no prazo de seis meses, uma unidade desse tipo em Anápolis. Questionada sobre o assunto, a Seds não respondeu.

Policiais civis reclamam de custódia e transporte 
Neste ano, o Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol) impetrou um mandado de segurança contra André Ganga, delegado-geral da Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO), devido ao fato de policiais civis estarem recebendo a atribuição de realizar a custódia e o transporte de adolescentes autores de ato infracional. Em novembro, a liminar foi deferida pela Justiça.

O presidente do Sinpol, Renato Rick, explica que o problema persiste há anos e não foi resolvido, mesmo após a determinação judicial. “Há adolescentes que ficam até cinco dias nas delegacias, e quem acaba fazendo a custódia, em desvio de função, é o policial civil”, afirma. Ele também destaca que a situação se repete no transporte de adolescentes, especialmente no interior do estado. “Há um treinamento específico para quem lida com adolescentes, com uma série de protocolos a serem seguidos. Um policial civil que exerce função inadequada perde suas garantias”, comenta.

O secretário de Desenvolvimento Social, Wellington Matos de Lima, já havia sido questionado sobre o assunto pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). Em ofício de julho deste ano, ele explicou ao MP-GO que cumpre o prazo de 24 horas para indicar uma vaga disponível no sistema socioeducativo goiano, assegurando a agilidade necessária no processo e minimizando a permanência em dependências policiais.&nbsp;

Ainda segundo o secretário, existem atos normativos e procedimentos operacionais que regulamentam o recebimento, acolhimento e deslocamento de adolescentes, além da atuação coordenada com a Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO). Ele ainda destacou o Decreto Estadual n° 7.809, de 2013, que institui a responsabilidade da Polícia Civil em disponibilizar espaço físico adequado e destacou o transportar e escoltar adolescentes em situações como a apresentação ao Ministério Público e deslocamento para unidades socioeducativas.

A reportagem questionou a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds) sobre como funciona a custódia e a condução de adolescentes em Goiás, mas não obteve resposta. A PC-GO também foi procurada para comentar o assunto, mas também não respondeu. 
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Internação de adolescentes infratores despenca em Goiás

Cidades

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Matéria - Cidades

Socioeducativo

Um dos desafios para a preservação das matas nativas em estados fortemente marcados pela agropecuária é torná-las tão atrativas financeiramente quanto a produção. Uma iniciativa tenta mudar esse quadro em Goiás.O programa Cerrado em Pé, do governo estadual, existe há pouco mais de um ano. Nesse período, alcançou mais de 420 propriedades, como mostra reportagem publicada nesta edição.Os donos desses imóveis são recompensados quando mantêm a vegetação além da área de preservação obrigatória — no caso de Goiás, 20% do total. O incentivo é maior quando o proprietário se compromete a recuperar nascentes ou áreas verdes degradadas.Desde que o programa foi criado, já foram repassados R$ 8,2 milhões — recursos que ajudaram a manter 15 mil hectares de matas do Cerrado. É o equivalente a 7,5 vezes o tamanho do Parque Altamiro Moura Pacheco, localizado na região metropolitana de Goiânia.Pode parecer pouco diante da imensidão de terras desmatadas em Goiás, mas é um programa com grande potencial de expansão. Iniciativas desse tipo colaboram para convencer os proprietários de que pode, sim, valer a pena manter a vegetação intacta.

Vegetação de pé

Mais de 150 mil dependentes, hoje isentos, terão de pagar mensalidades para usar a rede de médicos, hospitais e laboratórios credenciados no Ipasgo Saúde, plano de saúde dos servidores públicos estaduais.A cobrança foi aprovada pela Assembleia Legislativa, a partir de um projeto enviado pelo governador Ronaldo Caiado (UB). De acordo com a tabela vigente, a mensalidade vai variar de R$ 50 a R$ 332, conforme idade e tipo de plano contratado.A inclusão dos dependentes no rol de pagadores faz parte de uma ampla reestruturação da instituição, que mudou sua natureza jurídica e passou a ser registrada na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).Entre as novidades está o lançamento de novos planos, mais caros que os anteriores, mas, segundo a direção, mais completos. Os valores para quem aderir a eles são até 48% superiores.Atualmente, o Ipasgo acumula um déficit anual de R$ 255 milhões, resultado de gestões temerárias e influência política que sobrecarregaram o antigo instituto. A conta para salvá-lo vai pesar para os quase 600 mil usuários, que esperam que o custo mais alto ao menos garanta um atendimento de qualidade.