A gestão perdulária do dinheiro público tem sido uma regra no legislativo goiano. Embalada com medida semelhante na Assembleia Legislativa, agora a Câmara Municipal de Goiânia decidiu que precisa de veículos novos, maiores e mais confortáveis para os vereadores. A licitação lançada nesta semana objetiva a locação de 82 veículos — a casa tem 37 parlamentares. São 60 sedãs automáticos com 170 cavalos de potência, ar-condicionado e central multimídia; 20 SUVs e 2 vans com 16 lugares. São veículos de alto custo, todos zero quilômetro. Por 12 meses de aluguel, o contrato é de R$ 7,2 milhões, um valor três vezes maior que o atual, de R$ 2,1 milhões por ano. A justificativa é que os veículos vão servir a “atividades administrativas e legislativas”. Não fica claro, e é difícil deduzir, quais as atividades um vereador cumpre que exijam automóveis com tais especificações. O novo gasto vem a reboque de outros benefícios recentes. Em dezembro, a Câmara aprovou uma verba indenizatória de R$ 15 mil para cada integrante da casa. No apagar das luzes da legislação, foi votado um bônus de R$ 6 mil, a título de gratificação de representação. São exemplos de uso de recursos que não voltam em serviços para a população.

Carros novos da Câmara

Editorial

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Matéria - Opinião - Editorial

Reportagem na edição do fim de semana revela como está a expansão urbana de Goiânia, indicando projetos aprovados para novos loteamentos que resultarão em um crescimento de 1.210 hectares na capital, equivalente a 1.695 campos de futebol.

Os dados chamam atenção por mostrarem redução da área rural, com a liberação de construção de ruas e imóveis, e tendência de ocupação maior na Região Norte da cidade, onde a Saneago aponta a necessidade de preservação para implantação do reservatório do Ribeirão Capivara, que garantirá segurança hídrica para o abastecimento público.

É fato que a população cresce e a capital precisa, consequentemente, se expandir. Tal avanço na zona urbana, no entanto, deve ser feito com rigor no planejamento para que não resulte em um desenvolvimento desordenado, que cobrará a conta na qualidade dos serviços. Transporte, trânsito, saneamento, saúde e educação precisam ser levados em conta, como prioridade, na abertura de novos loteamentos.

Caso contrário, a cidade verá um agravamento de problemas já em curso, como na mobilidade, incluindo trânsito, transporte e estrutura viária, que mostram claros sinais de esgotamento.

Expansão urbana

Editorial 

O trânsito matou 210 pessoas em Goiânia, em 2024, segundo o painel do Programa Vida no Trânsito (PVT), divulgado pela Prefeitura. Chama a atenção que 16% dessas mortes tenham ocorrido em rodovias que cortam o perímetro urbano, o que comprova o risco que elas representam em uma cidade com 1,4 milhão de habitantes. As rodovias BR-153, BR-060, GO-070, GO-020, GO-040 e GO-080 somaram 34 ocorrências fatais. Em comum, têm trânsito pesado e cortam bairros e regiões movimentadas. Caminhões, ônibus, carros de passeio, motos, bicicletas e pedestres dividem o mesmo espaço, em uma disputa desigual que coloca os mais frágeis em desvantagem. Essas rodovias se transformaram em avenidas conforme a cidade se expandiu e povoou suas margens. Em alguns casos, como nas BRs 153 e 080, as tragédias contam com a leniência das autoridades. Desde a concessão à iniciativa privada, em 2014, existe o compromisso da construção do anel viário. Mais de dez anos depois, o projeto segue parado. Prefeitura e governos estadual e federal têm obrigação de dar segurança aos usuários dessas rodovias urbanas. O mínimo que se espera é que a iluminação, a sinalização e o pavimento estejam em boas condições.

Rodovias urbanas

Após dez anos de trabalho, com um hiato de 2019 a 2023, devido à Covid-19, a Universidade Federal de Goiás (UFG) concluiu a minuta do Plano Integrado de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Goiânia (RMG). O documento traz diretrizes sobre o ordenamento territorial dos 21 municípios que, juntos, chegaram a 2,7 milhões de habitantes, segundo o Censo de 2022. Desde 2010, a RMG foi a segunda que mais cresceu no País, com média de 1,49% ao ano. Junto da expansão populacional, ampliam-se os problemas, que muitas vezes são compartilhados entre os moradores das diferentes cidades. Eles dividem as demandas por abastecimento de água, transporte público, atendimento à saúde, educação e segurança pública. Quando um município não consegue suprir a contento qualquer um desses serviços, as consequências não ficam restritas a seus limites e repercutem nos demais. Por isso, a necessidade de um ente coordenador — no caso, o governo estadual. A minuta ainda precisa passar pelo Palácio das Esmeraldas e Assembleia Legislativa antes de virar lei. Superado o trâmite, espera-se que não se resuma a uma carta de boas intenções, mas que direcione ações que melhorem a vida da população.

Plano para a RGM

Há cinco anos, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) confirmava a primeira morte por Covid-19 em Goiás: uma mulher de 66 anos, de Luziânia, faleceu no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), em Goiânia. Na época, as autoridades não divulgaram a identidade de Maria Lopes de Souza. O marido dela, Paulo Alves de Souza, foi o primeiro paciente do hospital de campanha, montado na capital. A história de ambos está nesta edição. Depois dela, 28.610 pessoas morreram por complicações da doença. Mais de 2 milhões foram infectadas no estado. A Covid-19 mudou todos os setores da sociedade. No comércio, o delivery explodiu; nas empresas, popularizou-se o trabalho remoto; nas relações pessoais, as interações virtuais ganharam espaço; na saúde, ainda há sequelas físicas e mentais; na economia, países lidam com a inflação até hoje. Ficaram aprendizados, como a urgência do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), a importância da vacinação e de comportamentos preventivos e da necessidade de inovações tecnológicas. Acima de tudo, fica o alerta de que é preciso se preparar para enfrentar novas ameaças globais, para que a resposta seja mais rápida e adequada.