A drenagem urbana, um dos grandes desafios das metrópoles, é tema de reportagem especial nesta edição. A matéria mostra que a questão vem sendo negligenciada por seguidas gestões, já que as obras nessa área não são encaradas como prioridade pelas administrações, porque não proporcionam visibilidade e consequente capital político. Os alertas, no entanto, são cada vez mais estridentes em razão das mudanças climáticas e dos fenômenos extremos por elas provocadas, com o as enchentes no Rio Grande do Sul. Não há mais como protelar essa discussão.

O Plano Diretor de Drenagem Urbana, elaborado pela Universidade Federal de Goiás em convênio com a Prefeitura de Goiânia, desempenha um papel primordial no futuro da capital. Os estudos partem inicialmente de um diagnóstico da situação para então apresentar prognósticos e possíveis medidas, como os chamados piscinões e ações que priorizem a permeabilização, além de projetos de ampliação da rede pluvial.

O tema deve ser discutido com clareza pelos candidatos que disputam as eleições municipais de 2024 e cobrado com firmeza pelos eleitores. As catástrofes se multiplicam, ceifando vidas e destruindo patrimônios. Não é possível protelar mais.

Desafio das metrópoles

Editorial

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Opinião - Editorial

Há pelo menos dois anos, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) funciona precariamente na região metropolitana de Goiânia. Relatório do Ministério da Saúde apontou que desde 2022 a Prefeitura da capital recebeu recursos para manter ambulâncias que estavam paradas.

A auditoria da pasta, inclusive, determinou que a Secretaria Municipal de Saúde deveria devolver R$ 2,1 milhões em recursos da União, por uso indevido. A alternativa da gestão municipal para retomada plena do serviço foi a locação de ambulâncias. Mas três das 22 unidades contratadas estavam paradas nesta quarta-feira. Outras quatro ainda não foram entregues.

O contrato com a empresa fornecedora dos veículos é de R$ 347 mil por mês. As que estão paradas custam R$ 47 mil pelo mesmo período. O motivo é a falta de equipes de enfermagem capacitadas para prestar esse tipo de atendimento, que requer especialização. Trata-se de uma justificativa inadmissível, que revela a falta de planejamento da gestão.

Além do desperdício de dinheiro público, a população fica sem poder contar com um serviço essencial. Como o Samu atua com casos urgentes, a operação parcial coloca vidas em risco.

Ambulâncias paradas

São gravíssimas as revelações da operação da Polícia Federal desta terça-feira, que prendeu quatro militares do Exército e um policial federal, no âmbito do inquérito que apura se houve tentativa de golpe após o resultado das eleições presidenciais de 2022. De acordo com os investigadores, o grupo integrava um suposto esquema para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Entre os presos está o general da reserva Mário Fernandes, que ocupou interinamente a Secretaria-Geral da Presidência da República, no governo Jair Bolsonaro (2019-2022). De Goiás, a PF prendeu o major Rodrigo Bezerra de Azevedo, que serve no Comando de Operações Especiais de Goiânia. A capital é citada 39 vezes na representação da PF que solicitou as prisões. A suspeita sobre os militares era conhecida, mas, a partir das prisões, novos detalhes foram acrescentados. É provável que o inquérito, que está em reta final, tenha novos desdobramentos. Garantido o amplo direito de defesa, os envolvidos, se considerados culpados, devem ser punidos rigorosamente, de forma que as instituições deixem claro que aventuras golpistas não são toleradas.

A golpistas, o rigor da lei

Após acompanharem 1 milhão de estudantes que entraram no ensino médio em 2017, os pesquisadores Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão quantificaram a influência das escolas de tempo integral no desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Os estudantes com carga horária ampliada tiveram nota 16,5% maior que os de escolas de tempo parcial. A maior diferença foi observada na redação (29 pontos), mas ela ocorreu em todas as áreas do exame.

O resultado é que o grupo do ensino integral teve 5% mais matrículas no ensino superior, proporcionalmente. No recorte das instituições públicas, o aumento no ingresso em relação às escolas de turno parcial foi de 7,7%.

Em Goiás, a rede estadual tem apenas 15% dos alunos em escolas de tempo integral. A meta do Plano Nacional da Educação (PNE) é de 25%. Por desinteresse da Prefeitura, Goiânia é a única capital que não aderiu ao programa do Ministério da Educação (MEC) para financiar a modalidade.

É imprescindível que a secretaria estadual e as pastas municipais de educação atuem para mudar o atual cenário, pois o aumento do número matriculados em unidades de tempo integral pode impactar positivamente a educação no estado.

Escola em tempo integral

A temporada de chuvas tem tirado o sossego de moradores em diferentes bairros de Goiânia. Apesar da gestão do prefeito Rogério Cruz (SD) ter anunciado obras de ampliação e construção de rede de drenagem urbana em 19 pontos da capital, apenas uma foi concluída. Enquanto as melhorias no sistema de escoamento estão praticamente paradas, a cada temporal a população enfrenta momentos de transtornos, prejuízos e até risco de vida. Na última semana, uma mulher morreu após ser levada pela enxurrada perto do local onde uma das intervenções já deveria ter sido finalizada, na região Noroeste.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

Se os alagamentos são visíveis até nas regiões mais centralizadas da cidade, o problema ganha contornos ainda mais dramáticos em pontos localizados nas extremidades. É o caso dos bairros Residencial Sollar Vile, Elizene Santana, Juscelino Kubitschek e Chácara São Joaquim. Mesmo com licitações já homologadas e duas obras para implementação de galerias pluviais em andamento, desde o ano passado as ruas, e algumas casas têm sido tomada por água, lama e entulhos.

Em um dos locais visitados pelo POPULAR na quinta-feira (14), no Setor Santos Dumont, na divisa com o Bairro Chácara São Joaquim, há uma obra de drenagem e pavimentação parada. A construção foi iniciada em maio do ano passado e desde então vem sofrendo atrasos. A previsão de término era até outubro do mesmo ano. No dia 5 deste mês, o contrato com a construtora que executava os serviços foi encerrado. Oito dias depois, a empresária Daniella Magalhães Vila Nova, de 41 anos, morreu no local após a moto onde estava ser levada pela a enxurrada. A Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) informa que a obra está com 45,19% do serviço realizado.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/limpeza-de-bueiros-e-terceirizada-1.3199979" target="_blank">Limpeza de bueiros é terceirizada</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/soluc-es-para-eventos-extremos-s-o-urgencia-de-goiania-1.3199946" target="_blank">Soluções para eventos extremos são urgência de Goiânia</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/forca-tarefa-aprofunda-trabalho-em-areas-de-risco-de-goiania-1.3195827" target="_blank">Força-tarefa aprofunda trabalho em áreas de risco de Goiânia</a></div>

O comerciante Paulo Henrique Nunes, de 42 anos, mora perto do local há 24 anos e diz que quando há muitas chuvas na região a baixada do córrego Caveirinha não suporta a “grande quantidade de água” que vêm das ruas. A própria casa dele, localizada no Bairro Chácara São Joaquim, serve como um dos trechos para vazão da água e dos entulhos que descem rumo ao córrego durante o período chuvoso. Após a chuva da quarta-feira (14), no quintal dele só havia uma grande quantidade de lama. O setor também recebe intervenção para ampliação e construção da rede de drenagem urbana e pavimentação, sendo que 64,93% foi finalizado. 
&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3200527" attr-version="policy:1.3200527:1731894885" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3200527/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
(Fábio Lima / O Popular)

&nbsp;

Nas paredes da casa de Nunes havia marcações das águas que passaram por lá no dia anterior. Mesmo com o medo, por se considerar em uma área de risco, o comerciante construiu sua vida e família naquele local. Aos poucos, tem feito com a própria mão de obra caminhos para que as águas não entrem dentro de casa. No quintal, os buracos são preenchidos por um cascalho jogado por um amigo. Já o carro não sai com a chuva, tampouco a pé, pois a porta e a rua são tomadas de “água forte”.

Ele conta que já fez reclamações junto ao engenheiro responsável pela obra na região, que havia se iniciado antes do período da chuva, mas não houve uma resposta. “Ele mandou eu procurar a Defesa Civil, ou alguém da Prefeitura, mas nunca tive uma resposta. Com o impasse, o homem teme que a presença do poder público não chegue antes que “o pior aconteça com todo mundo”.

A Estrada 111 é tomada de lama e erosões, o que dificulta a passagem dos moradores. No Residencial Sollar Ville, bairro vizinho, foi possível identificar outros moradores que passam pela mesma tensão com as chuvas. Um dilema que não deve se resolver com o fim das chuvas. Lindomar Santana, de 54 anos, diz que “quando chove é a lama e quando fica seco temos que lutar contra a poeira”.

O Residencial Sollar Ville teve a ordem de serviço assinada em junho do ano passado, o contrato previa a construção de 100 bocas de lobo e o término em até seis meses. Hoje, tem 93,36% da obra concluída. Na rua de Santana, Estrada 114, ele disse não ter visto muitos avanços. O local é tomado pela lama das chuvas e, por muitas vezes, “temos que ajudar um senhor que sempre fica com o seu carro atolado no meio da lama e dos buracos”. A casa dele também serve como uma área de vazão das águas da rua até o Córrego Caveirinha. 
 
Prazos estendidos e falta de recursos 
Anunciado em dezembro de 2022, o programa Goiânia Adiante previa 11 obras para escoamento de águas pluviais, e apenas uma foi concluída. Ao menos outras oito intervenções também foram divulgadas, fora do programa, mas nenhuma ainda foi entregue à população.

Dentre as 11 intervenções anunciadas no Goiânia Adiante, apenas a do Bairro Goiá, na região Oeste, foi finalizada e entregue à população. Outras duas seguem em andamento no Viaduto da Jamel Cecílio com a Avenida H, no Jardim Goiás, e no Bairro Feliz – em um trecho da Avenida Laurício Pedro Rasmussen. Conduzida pela CCM Construtora e Pavimentação, com contrato de R$ 4,1 milhões, a intervenção na Avenida H deveria ter sido entregue em junho, em um prazo já prorrogado. Entretanto, conforme a pasta, 87,46% foi concluído. No Bairro Feliz, a intervenção feita pela Conceito Engenharia e Serviços, com valor total de R$ 10,5 milhões, tinha previsão estendida para agosto. Até agora, foi finalizado 84,7%.

Além destas, outras sete já tiveram a licitação homologada e aguardam pela assinatura do contrato para início das obras: Vila Pompeia, no valor de R$ 1,1 milhão; Vila Maria Luiza, com custo de R$ 2,5 milhões; Vila Legionários, orçada em R$ 836 mil; Parque das Laranjeiras, totalizando R$ 2,4 milhões; Conjunto Vera Cruz, com investimento R$ 31,1 milhões; Parque Flamboyant, no total de R$ 6,1 milhões, e Recreio Pindorama, em R$ 975 mil.

Conforme o POPULAR mostrou em fevereiro, a promessa da Prefeitura era começar as intervenções em março e entregá-las em dezembro. Entretanto, ainda em setembro, a reportagem revelou que ainda eram aguardados recursos para dar início aos serviços.

<img attr-cid="policy:1.3200533" attr-version="policy:1.3200533:1731895640" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3200533/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Avenida Laurício Pedro Rasmussen, no Bairro Feliz, completamente tomada pela lama (Fábio Lima / O Popular)

&nbsp;

Melhorias ficaram apenas na promessa 
Em dezembro de 2022, na ocasião em que as obras de drenagem urbana dentro do Goiânia Adiante foram anunciadas, Cruz destacou que era “urgente resolver o problema da drenagem urbana para evitar transtornos à população, como acidentes e até mortes causadas por alagamentos e enchentes”. Ao falar sobre o avanço da intervenção no Bairro Feliz, em novembro de 2023, o prefeito reforçou que estava enfrentando o problema na capital. “Esse tipo de investimento, além de ser caro, fica debaixo da terra, não tem visibilidade. Mas a nossa administração será lembrada pela coragem e determinação, por enfrentar os desafios ignorados por gestões anteriores.”

Mesmo com a promessa do atual chefe do Executivo, a maioria das obras segue no papel ou se arrastam lentamente, com constantes atrasos. No Bairro Feliz, o serviço foi iniciado em maio de 2023 com previsão para ser entregue em 180 dias e, mesmo sendo prorrogado para agosto último, segue sem conclusão. No setor da região Leste, seis vias foram beneficiadas com a construção de 3,9 quilômetros de tubulações pluviais, além de 132 bocas de lobo e 48 poços de visita. São elas a Rua L-13, Rua L-9, Rua X, Rua 806 e Rua 823, além da Avenida Laurício Pedro Rasmussen. Esta última segue parcialmente interditada, no trecho abaixo do cruzamento com a Avenida Leste Oeste.

A interdição tem causado transtornos a quem vive ou trabalha naquele trecho. Dono de um comércio local, Ednaldo Queiroz, de 58 anos, conta que o faturamento caiu ao menos 30% desde que a obra teve início na via. Entretanto, o cenário piorou ainda mais depois que o fluxo de veículos que descia pelo cruzamento com a Avenida Leste Oeste foi impedido. Agora, o local só é acessado por meio da BR-153. “Agora tem que dar uma volta maior para comprar qualquer coisa, um gasto muito maior com combustível.” Além disso, relata, a maior parte dos clientes passavam pela avenida para acessar o comércio. “O pessoal que vinha dos setores Leste Universitário, Negrão de Lima, Vila Nova”, acrescenta.

O comerciante pondera que se não fosse uma “clientela fixa”, provavelmente, o local já teria fechado. “Não é fácil, às vezes não consigo dormir pensando como vou cumprir com minhas obrigações. É uma incerteza.” A terra espalhada próximo ao comércio também tem sido um transtorno. Antes, na época de seca, a poeira era tanta que o espaço tinha de ser lavado diariamente. Agora, o problema é o lamaçal, tanto na via quanto no local onde foi deságua a galeria pluvial.

Representante dos moradores da Avenida Laurício Pedro Rasmussen, no trecho abaixo da Avenida Leste Oeste, Edson Segati, de 61 anos, tem cobrado insistentemente a administração municipal para finalizar a obra que se arrasta há um ano e meio. Conforme ele, uma equipe da Seinfra vai ao local nesta segunda-feira (18) para retirar o excesso de terra e colocar o fresado de asfalto. “Já alivia um pouco”, define. Conforme ele, as 40 famílias que residem nas chácaras da região têm sofrido com a falta de conclusão dos serviços. “Era para ter terminado em agosto, mas está enrolada até agora. Só lama e o povo não termina nunca. A gente fica isolado dentro de casa.”

Mesmo com todo o impasse da obra inacabada, Segati pondera que houve melhorias na drenagem no local, já que a chácara onde ele e os irmãos moram só não alagava porque o portão conseguia conter a água. Entretanto, para sair do local, tinham de esperar o escoamento. Agora, relata, não têm havido problemas com alagamentos.