Diante do desastre no Rio Grande do Sul, é recomendável que o olhar se volte para a ação humana sobre o meio ambiente aqui mesmo, em Goiás, já que ela potencializa os efeitos das mudanças climáticas. A começar pelo Meia Ponte, principal rio da região metropolitana de Goiânia, e cuja bacia se estende por 39 municípios. Responsável pelo abastecimento de 2,5 milhões de pessoas, ele tem quase metade da sua faixa bilateral de área de preservação permanente ocupada, quando deveria haver 100 metros de proteção. Em Aparecida de Goiânia, seis em cada dez nascentes estão condenadas e muitas foram aterradas. A situação favorece os alagamentos e aumenta a possibilidade de tragédias como a de Samylla Vitória, morta arrastada pela enxurrada em abril deste ano. Enquanto algumas regiões sofrem com as tempestades, outras penam com a seca, agravada pela exploração inconsequente. É o caso do rio Araguaia, que perdeu pelo menos 40% de sua superfície de água nas últimas quatro décadas. O ponto de não retorno está cada vez mais próximo, e isso exige respostas urgentes, antes que ele seja ultrapassado. Muito tempo foi perdido, não há mais espaço para a inércia.