A sinopse de “A Melhor Mãe do Mundo” desperta os piores preconceitos em relação ao cinema nacional. Ela informa que a protagonista é Gal, uma catadora de lixo que, esmurrada pelo marido, põe os filhos na carroça e sai na louca pela metrópole. Ergo, é por dever de ofício -ou vício, ou civismo, ou porque a esperança é última que morre- que se vai ver pela bilionésima vez o bom-mocismo de um cinema que, a pretexto de denunciar, sossega a má consciência. Putz, lá vem a melosa estética da demagogia. Ei-la, a puída linguagem piegas, incapaz de dar conta de nossos horrores. As expectativas não se confirmam. “A Melhor Mãe do Mundo” desnuda aquilo que, de tanto ver, não enxergamos mais: a São Paulo dos maus tratos; as mulheres apaixonadas por maridos bárbaros; as crianças sem infância; os doidos que não sabem quem são. Anna Muylaert, a diretora, não berra nem se descabela. Ao contrário, seu melodrama exorciza os arroubos típicos do gênero. É com sóbria empatia, com afeto frugal, que expõe a faina dos pobres e de sua diva, Gal -vivida por uma inesquecível Shirley Cruz, nossa Anna Magnani negra.