Saiu há pouco uma nova tradução para o inglês da “Ilíada”, a obra prima inaugural da literatura europeia. Atribuído a Homero, mas criado por dezenas de gregos anônimos, o poema narra o desfecho da Guerra de Troia. A tradução foi elogiadíssima. É obra de Emily Wilson, classicista inglesa que foi a primeira mulher a traduzir a “Odisseia”, lançada quando tinha 46 anos. Com diploma de Oxford e doutorado em Yale, ela tem tatuagens nos ombros, braços e pernas. Ao declamar em grego, se exalta, faz caras e bocas. É o de menos, contudo, que seja jovem, performática e, registre-se, bonita. Conta muito mais ter trazido a contundência homérica para o presente. A doutora verteu o encrespado hexâmetro dáctilo, nulo em inglês, para o vaporoso pentâmetro iâmbico, o ritmo shakespeariano por excelência. Repetidos a mais não poder no original, os epítetos (o saqueador de cidades, a de olhos reluzentes, o de pés velozes) variam. Assim, Emily Wilson decompõe “Eos Rododáctila”, a “Dedirrósea Aurora” do maranhense Odorico Mendes, em “a Aurora raiou e riscou o céu com rosas”, “os dedos da Aurora desabrocharam”, “a Aurora exibiu as mãos rosadas”.