Pensada como uma cidade para 50 mil habitantes, Goiânia hoje tem 30 vezes mais do que isso, pelo menos. Apesar de terem sido previstas áreas muito maiores de verde urbanizado no plano original da cidade por Attílio Corrêa Lima, com o tempo algumas delas foram sendo vendidas, doadas e griladas, como ocorreu, por exemplo, na Av. 115 do Setor Sul. E foi o descaso com o planejamento urbano e a visão de invisibilização que canalizou os rios da capital, eliminando as margens ciliares e intensificando a tendência de impermeabilização do solo que tem catalisado enchentes e provocado alagamentos como na Marginal Botafogo. No rumo oposto, uma proposta de solução viável seria a de tornar a via um parque linear, combinada com outras obras de e reaproveitamento e armazenamento de águas, como jardins de chuva, reservatórios de retenção e dispositivos de infiltração de águas pluviais e em áreas vicinais, como a avenida Fuad Rassi, que fica em um elevado da cidade. É preciso pensar que se tornou imperativo reter ou redirecionar a água na origem (controle de cheias a montante), antes que ela se acumule em mais gotas e formem problemas ainda mais incontroláveis para o passeio público. Dessa forma, em uma perspectiva de desenvolvimento urbano sustentável complexa (ecologia, economia e equidade), seria possível conciliar o córrego, o trânsito intenso e as áreas residenciais sem gerar tantos impactos em alguns pontos que se tornam intransitáveis, desde que se façam valer a dimensão natural, construída e cultural na reconstrução do lugar tendo como base o vindouro Plano Diretor de Drenagem Urbana da UFG.Para além disso, é preciso “absorver” o modelo de cidade espongiária de Kongjian Yu, que aponta para a possibilidade de acolhimento humano da natureza, suas forças e leis. Ou seja, Goiânia deveria adotar a água em sua fase de calmaria, proporcionando a sua adequação espacial com o espaço público, para que, assim, admirando e entendendo sua dinâmica, possamos criar usos e cenários de mitigação delas em seus momentos de catarse, o que permitiria à municipalidade reutilizar a água da chuva e até mesmo gerar energia. A drenagem urbana não pode ser um processo de enxugar gelo, mas sim um plano sistêmico que pensa as águas, as margens, as matas ciliares, os fundos de vale, as áreas de encosta e de risco conjuntamente. A requalificação da marginal, através da recuperação das margens com replantio de vegetação, certamente, permitirá ampliar a permeabilidade do uso do solo, minorando a quantidade de água corrente no ambiente construído da cidade.No limite, a ambientalização do espaço público natural pode transformar a Marginal Botafogo em uma grande área pública, verde e aberta, um parque linear que favoreça a mobilidade ativa e drenagem sustentável, em que o rio voltasse a ser o grande protagonista da paisagem. Um córrego em que se pode circular pelas suas margens é um benefício coletivo que fica para gerações presentes e futuras. Não por outro acaso tem se investido tanto em processos de despoluição das águas, como o Projeto Novo Rio Pinheiros em São Paulo.