Nem tudo o que começa errado vai errado até o fim, mas essa história de importar arroz para compensar as perdas no Rio Grande do Sul, que é o maior produtor, responsável por 70% do abastecimento do País, começou e continua mal sob diferentes óticas e abre mais uma fonte de ataques ao governo e de dor de cabeça para o presidente Lula. É esperar mais desdobramentos para ver como vai acabar.O primeiro erro pode ser econômico. O governo gaúcho e entidades do setor mantêm que, mesmo com as inundações no Estado, o abastecimento nacional está garantido e não seria necessário importar. O governo federal, porém, decidiu comprar um milhão de toneladas no mercado internacional, para “evitar especulação financeira e estabilizar o preço em todo País”. É ou não importante importar, a custo alto e subsídio interno?O segundo erro é político. Os rótulos dos sacos de arroz importado, de cinco quilos, a no máximo R$ 20, vão ter um aviso em letras maiúsculas e vermelhas: “Produto adquirido pelo Governo Federal”. Abaixo, os logotipos do governo Lula e da Conab e os créditos dos ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura. É ou não propaganda política?O terceiro erro cheira mal. Das quatro vencedoras do primeiro leilão, para importar 263 mil toneladas de arroz, a R$ 1,31 bilhão, só uma é do ramo, a Zafira Trading, que levou 28% do total. As três outras são uma mercearia de bairro, uma fabricante de sorvetes e uma locadora de carros. O que mercearias, sorvetes e carros têm a ver com importação de arroz?A principal vencedora, a mercearia “Queijo de Minas”, de Macapá, abocanhou 147,3 mil toneladas de arroz, a R$ 736,2 milhões, mas, segundo o Estadão, com base na Junta Comercial do Amapá, deixou de ser microempresa e registrou patrimônio de R$ 5 milhões no... dia do anúncio do leilão.O Novo acionou o TCU para suspender e apurar, enquanto os produtores, que já eram contra a importação, agora estranham o leilão. O agronegócio, o Sul e os evangélicos, refratários a Lula, são fortes na sociedade e no Congresso e ameaçaram sua vitória em 2022. E o pior: a questão do arroz tira o foco do principal, a tragédia no Rio Grande do Sul.Aguardam-se as respostas: é ou não importante importar? É ou não campanha política usar vermelho e logotipos do governo nos sacos de arroz? O que mercearia de bairro, fabricante de sorvetes e locadora têm a ver com compra de arroz? E é normal uma microempresa registrar patrimônio de R$ 6 milhões da noite para o dia? Dessas respostas depende o fim de uma história que começou mal e vai de mal a pior.