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Marcelo Baiocchi Carneiro (Silvio Simões)

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Mais de três décadas depois dos primeiros debates, o Brasil está diante da melhor oportunidade – talvez a única – de promover uma reforma tributária ampla, capaz de acabar com o emaranhado de impostos, taxas e contribuições que encolhe a renda e trava o investimento. A proposta em discussão ainda é alvo de divergências e apreensões, mas poder público e setor produtivo concordam que não é mais possível adiar a aprovação das mudanças.

O pântano tributário foi, ao longo desse tempo, turvando a percepção do país sobre os efeitos nocivos de um sistema que consome R$ 1,5 trilhão por ano somente das empresas, o equivalente a 22% do Produto Interno Bruto (PIB). O consumidor, por sua vez, sequer tem direito à informação sobre quanto de sua renda é comprometida pelos tributos, simplesmente porque a sobreposição tornou o cálculo praticamente impossível.

Governo e setor produtivo (empreendedores e trabalhadores) avançaram muito no debate sobre a reforma ao elegerem, como objetivos centrais, a simplificação e a não elevação da carga tributária atual – atualmente em 33% do PIB. A apreciação da proposta pelo Congresso Nacional, no entanto, ainda carece de ajustes e garantias, em especial com relação aos impactos sobre o comércio e os serviços.

Estudo realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que o aumento de carga tributária sobre o setor de serviços pode chegar a 170% (atividades recreativas e culturais) e 40% no comércio (varejo). Parte desse efeito decorre da complexidade da classificação dos numerosos segmentos que compõem o setor terciário, que aumentou sua participação na força de trabalho formal de 35% para 59% entre 2002 e 2021.

Até a votação da proposta final de reforma pela Câmara dos Deputados, prevista para este mês de julho, é fundamental reforçarmos que a refundação do sistema tributário terá como efeitos principais a promoção do investimento, em especial no setor privado, e o estímulo ao consumo. A simplificação, com a unificação de impostos, dará mais previsibilidade para empresas e consumidores, com reflexo no ambiente de negócios e na geração de empregos.

Para o setor público, a reforma promoverá redução da sonegação, com ampliação de receitas sem necessidade de aumento de carga, com ganho de eficiência na arrecadação e na destinação dos recursos para áreas prioritárias. Para os estados em desenvolvimento, caso de Goiás, a criação do fundo de desenvolvimento regional é a aposta para compensar o fim dos incentivos.

O crescimento sustentado da economia, com ampliação do investimento e do emprego, passa pela refundação do sistema tributário nacional, com mais justiça fiscal e segurança jurídica. A oportunidade está criada e o setor produtivo está fazendo sua parte para fazer da reforma realidade benéfica para todos.

Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio-GO)

Reforma tributária e comércio

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Marcelo Baiocchi

A linda foto da posse de Lula no terceiro mandato, com uma profusão de cores e sorrisos, entre homens, mulheres, indígenas, brancos e pretos, amarelou rapidamente, como se fosse antiga, de outros tempos. Dois ministros foram demitidos por desvios, um por conveniência política, mais um por assédio e, das onze mulheres, quatro caíram. Aliás, nenhuma delas por corrupção, mas por desempenho.A última demissão, justamente da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, não foi apenas de surpresa, mas de forma inusitada: quem anunciou a troca não foi o presidente, nem o Planalto, nem a própria ministra que sai, mas, ora, ora, a ministra que entra. Onde já se viu uma coisa dessas? Márcia Lopes foi convidada por Lula e correu para anunciar aos quatro ventos, com a antecessora ainda no cargo, que tomaria posse nesta segunda-feira, 5/5. No mínimo, deselegante.Além de Cida, acusada de assédio moral e até de xenofobia pela própria equipe e de dar pouca visibilidade à pasta e aos programas para mulheres, já caíram as ministras do Turismo, Daniela do Waguinho, do Esporte, Ana Moser, e da Saúde, Nísia Trindade, tragadas pelo redemoinho político. Das quatro, só Cida foi substituída por outra mulher, igualmente do PT, como ela.A foto inicial também esmaece em áreas sensíveis para o PT, com destaque para a guerra da ministra Aniele Franco contra o então colega Sílvio Almeida, defenestrado por assédio. Igualdade Racial contra Direitos Humanos, com protagonismo de dois ministros negros?! Agora, mais essa: crise na pasta das MulheresA única que cresce e aparece é a ex-presidente do PT Gleisi Hoffmann, da Articulação Política, mas duas outras mulheres que tinham tudo para estar na vitrine parecem tímidas, ou de escanteio. Uma é a petista Marina Silva, do Meio Ambiente. A outra é Simone Tebet, do MDB, que venceu todos os debates da eleição de 2022 e foi audaciosa ao assumir o Planejamento com Lula.Márcia Lopes, assistente social e professora do Paraná, é irmã de Gilberto Carvalho, figura chave nos primeiros mandatos de Lula e desviado para o segundo escalão no terceiro. Ela tem pressa para “entregar” o que Lula possa vender bem para o eleitorado feminino, nestes tempos de INSS, anistia para o 8/1, inflação e juros em alta, popularidade em baixa e temor quanto ao arcabouço fiscal.O risco é Cida Gonçalves roubar a cena e ganhar como ex-ministra os holofotes que não teve como ministra. E não por bem. Depois do assédio do ministro dos Direitos Humanos contra a ministra da Igualdade Social, sabe-se lá as cobras e lagartos que podem sair do Ministério das Mulheres...

A foto da posse amarelou

Eliane Cantanhêde

A reforma tributária representa um marco importante na tentativa de modernizar e simplificar o sistema fiscal brasileiro. Embora carregue consigo a promessa de tornar o ambiente de negócios mais eficiente, a transição para esse novo modelo ainda levanta dúvidas quanto à sua efetividade e aplicabilidade. Em meio às transformações, um profissional ganha destaque e assume papel estratégico nesse processo: o contador.

Historicamente, o sistema tributário brasileiro é conhecido por sua complexidade, multiplicidade de tributos e sobreposição de normas. Esse cenário dificulta o planejamento empresarial, gera insegurança jurídica e contribui para a ineficiência econômica. A reforma tributária busca corrigir essas distorções com medidas de simplificação, padronização e maior transparência. No entanto, sua implementação não será simples.

Novas regras, prazos e procedimentos exigirão adaptação rápida por parte das empresas — e é nesse ponto que o contador se torna essencial. Mais do que apenas lidar com a apuração de tributos e entrega de obrigações acessórias, o contador assume um papel consultivo, ajudando empresas e contribuintes a compreenderem e se adaptarem às novas exigências legais.

Sua função será orientar, interpretar cenários e auxiliar na tomada de decisões com base no novo regime fiscal. Isso exige atualização constante, domínio da legislação e uma postura proativa. Além disso, o profissional contábil da nova era tributária precisa estar preparado para atuar com o suporte de tecnologias que transformam o dia a dia da profissão. Ferramentas de automação, inteligência artificial e softwares de gestão contábil e fiscal tornam-se aliados indispensáveis para garantir conformidade, agilidade e precisão nos processos empresariais e da administração pública.

Ao incorporar essas soluções, o profissional libera tempo para atuar de forma mais estratégica, com foco em planejamento tributário, análise de riscos e identificação de oportunidades para seus clientes. Nesse novo cenário, o contador deixa de ser apenas um executor de tarefas fiscais e passa a ser um parceiro fundamental na construção de estratégias empresariais sustentáveis.

A reforma tributária não apenas redefine as regras do jogo, mas também reposiciona a contabilidade como uma aliada central no desenvolvimento econômico brasileiro. Portanto, é imprescindível reconhecer o papel dos mais de 529 mil profissionais da contabilidade distribuídos pelo Brasil como agentes ativos nesse processo de transição.

No contexto da reforma, o contador se torna um elo vital entre a legislação e a realidade das empresas, promovendo segurança, eficiência e responsabilidade. Com atuação técnica, inteligência estratégica e capacidade de adaptação, esses profissionais auxiliarão a moldar, com ética e competência, um novo futuro tributário para o Brasil. Sua contribuição é fundamental para a construção de um sistema mais justo, simples e eficaz — e para um país mais competitivo e inovador.

Sucena Hummel, contadora e presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (CRCGO)

O novo sistema tributário

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Sucena Hummel

Todas as manhãs, invariavelmente, o Brasil acorda R$ 2 bilhões mais pobre, pagando os juros da dívida pública com a taxa Selic a 13,25%. Como o governo federal, no máximo, consegue zerar o déficit fiscal significa que toda a conta de juros acrescenta na dívida, a qual já bate os 80% do PIB.

Cada ponto percentual acrescentado aos juros significa um custo de mais R$ 50 bilhões ao país, uma pancada tão grande que equivale a 50% de todo orçamento da Educação, duas vezes o da Defesa, cinco vezes o subsídio ao Minha Casa Minha Vida. Não bastasse isso, segundo o mercado financeiro, terá que haver mais elevações ainda.

Falam em subir juros como quem convida para dançar, uma naturalidade tonitruante. O discurso uníssono, defendido também por parte da imprensa, é a diminuição da atividade econômica, que deve bater 3,5% do PIB em 2024, e, consequentemente, a queda da inflação. Ocorre que além desta visão simplista da economia está o país real, com seus 50% de pobres, uma infraestrutura por fazer, uma nação a ser construída.

Os juros altos, hoje 3,4% acima da taxa de juros neutra e com uma das maiores taxas do mundo, ferem de morte a atividade econômica. A Indústria, que em 2024 experimentou um aumento de 3,5%, começa a engavetar seus projetos de expansão. O mercado imobiliário, que aumentou 4,4% e experimenta um momento pujante, visualiza um freio de arrumação.

Estes juros desabalados se espalham na economia a ponto de a Confederação Nacional da Indústria (CNI) garantir que 25% dos custos industriais atuais estejam contaminados. Mais que isso, a tristeza profunda de constatar que a cada 1% a mais de juros, 800 mil famílias ficam inabilitadas para obter financiamento imobiliário. No patamar que estão os juros você compra um apartamento e paga, ao final de 35 anos, ao menos três. Uma tragédia!

Claro está que o governo deve buscar a diminuição dos gastos, em particular as transferências de renda e benefícios. Exemplo exorbitante é o seguro-desemprego que consumiu R$ 52 bilhões em 2024, com um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Isso num ambiente de desemprego de 6,1%, o menor em décadas. Clareza alvar que há problemas sérios aí, que envolvem toda a sociedade, mas que governo e o Congresso tem que se debruçar para apertar o controle.

No Bolsa Família tem que haver uma correlação entre volume de recursos e taxa de desemprego, por exemplo. Ressalte-se, no entanto, que enquanto as transferências de renda aos mais pobres foram o motor do crescimento de 7% do PIB nestes dois anos, por outro lado, a dívida pública de R$ 8 trilhões constitui, em sua grande maioria, patrimônio de brasileiros mais ricos.

Enfim, esta naturalização dos juros altos não é semântica, é a vaticinação de que nosso país não terá direito ao crescimento e uns 80% dos brasileiros terão que adiar a compra de sua casa para a próxima década. Bom se muita gente tirasse o olho do aplicativo do Tesouro Direto e pensasse um pouco. Dormiria melhor!

Cezar Mortari, engenheiro Civil, empresário e vice-presidente do Sinduscon Goiás

Trivialização dos juros altos

Cezar Mortari

Durante uma chuvarada em Goiânia, um motoqueiro foi arrastado pela enxurrada e morreu afogado. Empresária que estava em uma moto foi levada pela enxurrada. A forte chuva que caiu durante seis horas na madrugada em Goiânia deixou uma pessoa morta e várias outras ilhadas. Mulher morre na Marginal Botafogo após cair no córrego e ser levada pela correnteza durante um temporal. Choveu mais de 100 mm durante um temporal em um curto espaço de tempo em Goiânia, causando prejuízos para moradores e para a administração da cidade. O que estas notícias têm em comum?

As mudanças climáticas têm causado, entre outros efeitos, chuvas volumosas que caem em curto espaço de tempo, resultando em alagamentos constantes que causam enormes prejuízos materiais e até perdas humanas. Embora as chuvas estejam diminuindo, dias atrás outra chuvarada inundou a cidade.

Goiânia é nacionalmente conhecida pela sua baixa umidade do ar e por estar localizada no Planalto Central do Brasil, uma região alta no centro geográfico do país. Durante alguns meses do ano a secura é tão grande que pode causar sangramento pelo nariz. Por estar afastada do litoral, em uma região alta do país e com umidade do ar muito baixa durante longos meses, alguns moradores da cidade ousam dizer que não temem o Dilúvio e que, além do mais, depois do fenômeno divino, suas casas e apartamentos ficarão de frente para o mar.

Não precisa ser um cientista para observar e sentir as mudanças climáticas mundiais. O crescimento urbano e industrial desorganizado e pouco preocupado com a sustentabilidade, o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis produzem, anualmente, bilhões de toneladas de gases de efeito estufa que são emanados para a atmosfera.

Recentemente dois eventos causaram comoção mundial: as enchentes do Rio Grande do Sul e da cidade de Valencia, na Espanha. Goiânia não ficaria de fora desse cenário e tem sentido os vorazes efeitos das mudanças climáticas. A cidade e seus moradores têm sido atingidos por ventos cada vez mais fortes e por chuvas muito volumosas, que caem em um curto espaço de tempo, causando perdas à sociedade, muitas vezes irreparáveis.

A deficiente gestão urbana, a especulação imobiliária, a impermeabilização da superfície do solo da cidade pelo seu asfaltamento e a radical diminuição das áreas permeáveis contribuem, significativamente, para o acúmulo das águas das chuvas em determinados locais. Drenar toda esta água passa a ser um desafio para administração pública.

A falta de educação dos moradores que, mostrando pouco senso de civilidade, jogam lixo nas ruas, calçadas e praças, contribui para o entupimento das redes pluviais e córregos da cidade. A incompetência da administração pública em manter as ruas, praças, redes pluviais e córregos da cidade limpos e desobstruídos é o que faltava para completar o cenário de terror que os goianienses têm visto e enfrentado nos dias de chuva.

As pessoas que morreram ao serem levadas pelas enxurradas poderiam estar vivas se fossem exímias nadadoras ou, mais razoável, se a sociedade fosse mais consciente e mais interessada na sua qualidade de vida e no futuro das próximas gerações.

Caso não ocorra uma mudança urgente, é recomendável que o goianiense aprenda a nadar desde cedo para se manter vivo. Além do mais, o curso de natação também será útil quando o dilúvio vier e a sua casa ou apartamento estiver de frente para o mar.

Enio Pazini Figueiredo, professor titular&nbsp;da Universidade Federal de Goiás (EECA/UFG). 
Engenheiro, especialista, mestre, doutor e pós-doutor em Engenharia Civil