O Supremo está brincando com fogo e com a sua própria credibilidade, ao tomar decisões monocráticas, uma atrás da outra, ora por auto blindagem, ora carregadas de suspeitas sobre motivações e interesses. O risco não é de um ministro ou outro, é da credibilidade da corte e das instituições brasileiras.Gilmar Mendes “decretou” que só a PGR pode pedir impeachment de integrantes do STF e aumentou o quórum para a votação no Senado. Em seguida, Dias Toffoli avocou para a corte e para si o caso do Banco Master, transformando o segredo de justiça em sigilo total. Para proteger quem e o quê?Ministros e ex-ministros do próprio Supremo acham, ou temem, que foram movimentos casados e essa percepção se tornou mais aguda com a avassaladora informação de que, dias antes de se autoconceder protagonismo na ação do Master, Toffoli voou para Lima num jatinho particular com... o advogado de um dos diretores do banco que já tinha sido preso.É um escândalo de bom tamanho, que faz a festa de bolsonaristas e de não bolsonaristas críticos do Supremo, cada vez mais ativos, e não só na internet. Lembrando que o “núcleo crucial”, com Jair Bolsonaro e oficiais generais, já foram condenados e presos, mas o julgamento dos demais grupos do golpe continua, inclusive nesta semana.Quem também faz a festa com o voo de Toffoli, regado a drinks, são os senadores, e não apenas os de oposição. Se Gilmar enxugou as prerrogativas deles para decidir impeachment de ministros do STF, Toffoli dá motivos de sobra para que deem o troco fazendo o oposto: facilitando a cassação desses ministros.Gilmar é polêmico por natureza e gosto. Toffoli choca com decisões consideradas, mais do que polêmicas, suspeitas. Como a de favorecer a J&F com a revisão do acordo de leniência na Lava Jato, assimilada como “pagamento de dívida” para Lula, amigo dos irmãos Batista, que o premiou com a toga, contra tudo e todos, e se sentiu traído ao ser impedido por Toffoli de ir ao velório do irmão. Um eterno credor.As polêmicas ou suspeitas não afetam só Gilmar e Toffoli, chegam aos demais gabinetes e desabam no plenário do STF, onde os onze ministros julgam as questões mais delicadas da República e onde se destacam Alexandre de Moraes e Flávio Dino, audaciosos, sim, mas fundamentais. Xandão entra para a história da defesa da democracia e Dino está em guerra contra emendas parlamentares criminosas.Não se discute aqui se há ou não excessos, mas a obrigação dos ministros de seguir uma regra dos homens públicos: “À mulher de César, não basta ser honesta, precisa parecer honesta”. Os erros de uns respingam nas demais togas, dividem o plenário e fortalecem as críticas e a tese de impeachment contra ministros do STF. A quem interessa?