A idealização é um mecanismo primário do pensamento humano. Winnicott nos ensinou que a idealização é uma defesa necessária no início da existência, ela protege o bebê da percepção prematura das falhas do ambiente e permite que ele viva, por algum tempo, acreditando num mundo suficientemente bom. Só assim ele ganha tempo para amadurecer. A idealização, portanto, é uma etapa: oferece abrigo, mas não pode ser morada definitiva. A filosofia já nos alertava que, quando confrontados com a imperfeição da vida, criamos imagens ideais para suportar a falta, para amortecer o desconforto de existir sem garantias. Platão imaginava mundos perfeitos para dar forma àquilo que na realidade aparece incompleto; Schopenhauer diria que idealizamos para fugir da dor inerente ao desejo; Freud nos lembraria que toda idealização é também uma defesa contra aquilo que não suportamos reconhecer em nós. Idealizamos porque tememos a vida tal como ela é: finita, fragmentada, cheia de nuances que nos frustram e causam sofrimento.