Não fosse uma agenda de última hora, a interinidade do vice-governador Daniel Vilela (MDB) como governador em exercício nos 15 dias da viagem à Índia do governador Ronaldo Caiado (UB) teria terminado com uma exposição negativa. O episódio desagradável ocorreu na terça-feira (18). O site da vice-governadoria publicou o resultado de uma pesquisa eleitoral, replicada em outros sites, apontando a liderança do emedebista nas intenções de voto para a disputa pelo governo em 2026.

A publicação, com elogios à performance de Daniel, ficou pouco tempo no ar, mas fez muito barulho antes de ser apagada por sua assessoria, seguida de uma nota à imprensa justificando que o texto “foi inserido erroneamente na aba de notícias do site por um erro individual” e que, por óbvio, “a página é destinada exclusivamente a divulgações de ações institucionais do governo”. A notícia boa que salvou a interinidade do vice veio de Brasília.

Depois de a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) anunciar, também na terça-feira, reajuste de 1,98% na tarifa do transporte coletivo da região metropolitana de Brasília, finalmente o governador do DF, Ibaneis Rocha, concordou com a proposta do governo goiano de criar um consórcio similar ao da região metropolitana de Goiânia para subsidiar o transporte público no Entorno do DF. A reunião com Ibaneis foi no dia 20, após vários encontros preparatórios, com a participação de Daniel, para definir os termos do acordo.

O reajuste da tarifa pela ANTT acelerou o desfecho das conversas que se arrastavam lentamente e com as quais o próprio Caiado tem se envolvido pessoalmente há mais de um ano. O consórcio terá a participação dos dois governos (desde o início das conversas o governo federal se recusou a integrá-lo). Goiás e GDF se comprometeram a desembolsar cada um R$ 67 milhões por ano para congelar o preço da tarifa, que chegará a 8 reais em média caso o último reajuste válido a partir deste domingo seja confirmado. A notícia repercutiu bem no entorno do DF, a julgar pelo grande número de entrevistas solicitadas a Daniel Vilela por veículos da região.

À exceção desses dois fatos, ambos fora da agenda, a 10ª interinidade de Daniel Vilela passou sem muita repercussão. Ele cumpriu agendas oficiais, como a abertura do terceiro ano da atual legislatura da Assembleia Legislativa, entre outros eventos. De diferente apenas as visitas que ele programou com antecedência a obras de infraestrutura, fatos que por si só não rendem repercussão. Daniel Vilela dedicou cinco dias de sua agenda para “vistorias” em obras rodoviárias na região metropolitana de Goiânia, em Caldas Novas, em Cristalina e até ao Complexo Oncológico, o Cora, a obra que é a menina dos olhos do governador Caiado.

A falta de uma estratégia mais ousada para substituir o governador – e a praticamente um ano de assumir em definitivo o governo de Goiás com a anunciada desincompatibilização de Caiado – levanta dúvidas sobre a capacidade política de Daniel de se inserir como líder político, em especial após o mandato de um governador com estilo forte, que preencheu todos os espaços possíveis de poder, até mesmo onde não lhe cabia atuar.

Quem acompanha o vice diz que como ele foi criado no meio, conhece bem os códigos de conduta não escritos da política e, por isso, a discrição faz parte de sua personalidade. Ele é cuidadoso para não invadir os espaços do governador e não provocar melindres nem com Caiado nem com sua mulher, Gracinha Caiado, que almeja ser candidata a senadora em 2026. Mesmo que pise em ovos, Daniel Vilela terá de encontrar um lugar próprio de atuação para não correr o risco de ser visto como apenas um nepo baby (abreviação de nepotism baby) da política.

Comurg

A prefeitura aprovou o plano de reestruturação da Comurg e o desembolso de R$ 190 milhões para salvar a empresa, nos termos já previstos. Nesta semana a proposta vai a análise do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e do Ministério Público, onde se espera que ocorra um debate amplo e transparente, afinal é mais um prefeito que se dispõe a mandar muito dinheiro para este velho e conhecido “sumidouro” de dinheiro público que é a Comurg.

Cileide Alves, jornalista

A acanhada interinidade do vice

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Cileide Alves

Apesar do contexto de ampliação do diálogo entre lideranças governistas e prefeitos eleitos pelo PL, a retomada de relações entre o Palácio das Esmeraldas e o prefeito de Anápolis, Márcio Correa (PL), continua em ritmo lento. Eleito com intensa presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na campanha de 2024, o prefeito mantém processo de construção do próprio grupo político na cidade.A influência do ex-prefeito, Roberto Naves (Republicanos), como liderança da base aliada ao governador Ronaldo Caiado na cidade ainda limita ações de aproximação com Corrêa, que teve o apoio do MDB, mas disputou a eleição em oposição ao grupo que comandou a prefeitura até dezembro. Naves e o prefeito protagonizaram debates, pelas redes sociais, com acusações pessoais durante a disputa do último ano e, mesmo depois de encontro informal, os dois não voltaram a manter qualquer contato político. O principal embate ocorreu com trocas de falas relacionadas ao assassinato do fazendeiro Luiz Carlos Ribeiro da Silva, de 52 anos, ocorrido em dezembro de 2022.As investigações foram usadas na campanha, com ataques entre aliados do ex-prefeito, um dos melhores amigos do fazendeiro, e do então candidato do PL. Ambos foram ouvidos no inquérito e, em grupos de WhatsApp, os dois lados divulgam vídeos e supostos trechos da apuração para tentar levantar suspeitas sobre os adversários. Naves apoiou a candidatura da ex-secretária de Educação na cidade, Eerizania Freitas (UB), em uma divisão na cúpula do governo estadual. Além da presença do ex-prefeito, que viajou para a missão à Índia com o governador e a comitiva estadual, a ocupação de cargo na Prefeitura de Goiânia por Eerizânia favorece o afastamento, segundo aliados de Corrêa, diante da proximidade do prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), com o Palácio.

Disputa local trava ação governista em Anápolis

Eleições 2026

As articulações para possível composição com a base do governador Ronaldo Caiado (UB) e a ausência de reunião partidária sobre projeto próprio ao governo estadual mantêm os <a href="https://opopular.com.br/politica/aliados-rejeitam-enfraquecimento-do-pl-goiano-1.3233446" target="_blank">prefeitos do PL</a> em compasso de espera sobre o posicionamento para 2026. Gestores municipais ouvidos pelo POPULAR admitem processo de aproximação com o Palácio das Esmeraldas e que ainda pairam dúvidas sobre a efetivação da pré-candidatura do senador Wilder Morais.

<a href="http://opopular.com.br/canal" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; outline: 0px; outline-offset: -2px; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp&nbsp;</a>

As investidas de governistas sobre prefeitos eleitos por partidos da oposição, prioritariamente do PL, foram iniciadas ainda em 2024, após o resultado das disputas municipais, em que a legenda comandada por Wilder alcançou a vitória em 26 cidades. A busca por cooptação, no entanto, se intensificou neste ano, alimentada pela indireta oferta de parcerias administrativas mais profundas e investimentos, no momento em que os gestores enfrentam os primeiros desafios do mandato.

Com convites realizados pessoalmente por emissários em cada município, a expectativa entre os palacianos é alcançar, até o fim deste ano, a adesão de até 22 prefeitos. Os acordos partem de chamados para filiação ao União Brasil, de Caiado, ou ao MDB, do vice-governador <a href="https://opopular.com.br/politica/daniel-vilela-deixa-em-aberto-fechar-alianca-com-pl-em-2026-1.3232134" target="_blank">Daniel Vilela</a> (MDB), a depender do perfil de cada um, mas a troca de partido não é tratada como fundamental para a composição.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/daniel-vilela-deixa-em-aberto-fechar-alianca-com-pl-em-2026-1.3232134" target="_blank">Daniel Vilela deixa em aberto fechar aliança com PL em 2026</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/aliados-rejeitam-enfraquecimento-do-pl-goiano-1.3233446" target="_blank">Aliados rejeitam enfraquecimento do PL goiano</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/disputa-local-trava-ac-o-governista-em-anapolis-1.3233890" target="_blank">Disputa local trava ação governista em Anápolis</a></div>

As conversas só não encontraram avanço, por enquanto, nas cidades de Jataí, Morrinhos, Posse e Cristalina, segundo apuração da reportagem. Nas duas primeiras, por divergências regionais aprofundadas na eleição de 2024. O prefeito de Jataí, Geneilton de Assis, venceu o aliado histórico de Daniel Vilela, Humberto Machado (MDB), enquanto Maycllyn Carreiro venceu o também emedebista Rogério Troncoso, em Morrinhos.

Já em Posse e Cristalina, os prefeitos Paulo Trabalho e Dr. Luis Otávio têm mantido relacionamento próximo a Wilder Morais, com mais dificuldades de migrar as bases eleitorais, ao menos por enquanto.

Em todos os outros casos, governistas tratam como “questão de tempo” o anúncio das adesões, ao longo deste ano. Por outro lado, Wilder Morais realiza, desde o início do mês, trabalho de contraofensiva para “mostrar unidade” do partido em torno do próprio projeto ao governo estadual. Em resposta, prefeitos cortejados pelo Palácio não respondem aos convites de filiação e preferem esperar por direcionamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre os rumos em Goiás, que incluem possível composição com Caiado.

O movimento de Wilder foi iniciado com articulação nas primeiras semanas de fevereiro, até a convocação de aliados para reuniões com o presidente nacional do partido, Valdemar da Costa Neto, e com Bolsonaro, em Brasília, há dez dias. As conversas, seguidas por jantar em tom de comemoração, segundo prefeitos presentes, não foram conclusivas sobre a pré-candidatura própria ao governo

“Eu estava em Brasília nessas duas semanas e tivemos reuniões com o Bolsonaro e com o Wilder. O que eu sinto é que está havendo uma tentativa de aproximação entre o Bolsonaro e o Caiado. Eu estive duas vezes em Brasília e há essa aproximação entre os dois. Se vai dar certo, eu não sei”, avalia o prefeito de Buriti Alegre, Garibaldo Neto.

“O Wilder não teve, para mim, um posicionamento em relação a isso. O que eu sinto é que o Wilder está na espreita, digamos assim, esperando. Não sei se, daqui para frente, ele vai mudar de posicionamento e tentar se dedicar mais a essa questão, mas ele me passa isso quando converso com ele. Tenho muito carinho por ele, que me ajudou muito no município. Nós estamos aguardando essa cenas dos próximos capítulos”, completa o prefeito.

Já a prefeita de Gameleira, Wivviane Duarte, que foi eleita em composição com o União Brasil na vice, considera que ainda é cedo para tomar uma decisão sobre apoio em 2026. Ela confirma ter recebido convite para adesão à base aliada.

“A gente ainda está com o PL e com o Wilder Morais, mas não vemos um trabalho muito forte neste sentido de candidatura dele. Nós aqui ainda estamos em processo de análise, porque meu vice é do União Brasil. Então, nós estamos nesse meio político até chegar mais perto para tomarmos uma decisão mais acertada, até o cenário ficar mais claro”, conta.

<h2>Composição</h2>

O governista Carlinhos do Mangão, prefeito de Novo Gama, afirma não ter dúvidas sobre a opção política na próxima eleição estadual. “Há uma aproximação muito grande, até porque eu vim para o PL antes do Bolsonaro e fui eleito sem o apoio do Bolsonaro. Sempre estive com o governador Ronaldo Caiado e continuo com ele para a presidência da República e para o governo estadual, com a indicação dele pelo Daniel Vilela”, diz o prefeito.

“Se tiver mesmo a candidatura do Wilder, com certeza eu não vou acompanhar, mas política a gente sabe como é. Vai que tem uma composição entre o PL estadual e o governo, né? E os prefeitos, a maioria com quem eu tenho conversado, do próprio PL, são alinhados com o governo do estado, apesar do respeito e admiração que temos com o senador Wilder, mas tem essa aproximação com o governo Caiado”, afirma Carlinhos do Mangão, que rejeita mudança de partido, por enquanto.

A prefeita de Britânia, Desterro Santos, observa que “existe essa aproximação com o governo”, mas conta que “tem sido poupada”. “Não recebi convite nenhum e continuo no PL, partido que me deu oportunidade para a primeira candidatura”, afirma.

“A gente fica nesse fogo cruzado, mas eu não sei o que vai acontecer. As reuniões que a gente participou lá no PL sinalizam que vai ser, mas também não é algo concreto. O que a gente tem certeza é que o Daniel vai ser candidato e o Wilder não é algo concreto. A gente fica até meio temerosa, porque às vezes a gente entra nessa briga de gente grande e depois eles fazem as pazes e sobra pra gente”, avalia a prefeita.

Por outro lado, o prefeito de Campo Alegre, Douglas Sertório, garante que pretende apoiar a candidatura de Wilder Morais, caso o projeto do senador seja confirmado. “Parece que está caminhando. Esses bastidores ainda estão muito confusos, mas o nome dele está sendo muito bem cotado na nossa região”, avalia.

O gestor admite ter recebido proposta de filiação ao União Brasil. “Eu sou amigável e muito fácil de lidar. Converso com todo mundo, mas eu prefiro que respeitem o meu partido e onde eu estou e que façam proposta boa, mas para a gestão da cidade”, avalia.

Prefeitos do PL citam dúvida sobre Wilder pré-candidato

Causou indignação, para dizer o mínimo, o artigo publicado em O Popular na última sexta-feira (14), assinado por Christiane do Valle. Do Valle demonstrou grande desinformação a respeito do sistema de saúde como um todo e sobre a saúde de Goiás especificamente.

A desinformação contida no artigo começa quando se tenta misturar o IMAS, de Goiânia, com o sistema de saúde de Goiás, duas coisas que não tem nada a ver uma com a outra. E segue com informações falsas sobre falta de pagamentos que não existem e críticas que não se sustentam.

É preciso dizer que o artigo estaria correto se estivesse tratando de um período terrível da saúde em Goiás, antes da entrada do atual governador Ronaldo Caiado. Bem diferente de hoje, onde o compromisso com a transparência, a eficiência e a correção é algo inegociável. É preciso dizer, para começar, que todos os pagamentos do setor estão absolutamente em dia, assegurando que os recursos destinados ao atendimento da população sejam aplicados com rigor e responsabilidade.

Ao contrário do passado, hoje não há espaço para privilégios, pagamentos indevidos ou atendimento a interesses obscuros. A gestão atual trabalha incansavelmente para garantir que cada centavo do dinheiro público seja empregado corretamente, em benefício exclusivo dos cidadãos goianos. Empresas e pessoas que não compactuam com a retidão na aplicação dos recursos públicos não encontram acolhida neste governo, o que, de fato, contraria certos setores e pessoas.

Além disso, o governo tem feito mudanças estruturais e caminha para, já a partir de abril, estar com todos seus contratos regulares, ou seja, eliminando completamente a necessidade de contratações emergenciais. Isso reforça nosso compromisso com a organização, planejamento e transparência na execução dos serviços de saúde.

É preciso ainda lembrar o grande avanço da saúde no governo Caiado, com a regionalização que hoje é uma realidade. Oito novos hospitais, seis novas policlínicas, já prontos e funcionando. E vem aí novas policlínicas e o Cora, o Complexo Oncológico de Goiás, que será uma referência internacional no tratamento do câncer infantil.

Tanto são verdades esses avanços que em todas as pesquisas de opinião pública, a exemplo das recentes Quaest e AtlasIntel, a aprovação da ações do governo na saúde é mais que o dobro da desaprovação, algo extremamente raro num setor tão complexo e difícil como é o da saúde.

Por fim, é preciso reafirmar que o tempo da desordem e das práticas questionáveis ficou para trás na saúde do nosso estado, contrariando interesses daqueles que se beneficiavam do caos. Hoje, a prioridade é o atendimento aos goianos. Goiás segue firme na construção de um sistema de saúde eficiente, ético e verdadeiramente comprometido com a população.

Rasível dos Reis Santos, médico e atual secretário de Estado da Saúde de Goiás

O avanço da saúde em Goiás

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Rasível dos Reis Santos

Foi Hugo Chávez quem melhor sintetizou o pensamento de Tariq Ali. Em 2003, o caudilho bolivariano disse ao esquerdista anglo-paquistani: “Não estamos num período de revoluções... É melhor morrer lutando do que empunhar a bandeira imaculada da revolução e não fazer nada”.

Tariq Ali jogara no lixo a bandeira da revolução em 1981, na aurora de Reagan e Margareth Thatcher e da contrarrevolução neoliberal: privatização, desmonte de serviços públicos, concentração de renda, mãos livres para o capital financeiro e mão pesada no lombo dos pobres.

Até então, Ali ia de foice e martelo. Nasceu numa família socialista de Lahore, cidade indiana que veio a integrar o Paquistão. Participou de protestos anti-imperialistas na adolescência. Teve formação clássica em Oxford. Foi trotskista e liderou uma facção da 4ª Internacional. Era unha e carne com John Lennon e Mick Jagger.

Caiu do cavalo na estrada de Damasco, levantou, sacudiu a poeira e anunciou a adesão ao brando trabalhismo, que de esquerda não tinha nada. Logo saiu do Labour, mas o emblema ficou: o paladino de 1968 fora da revolução à reforma, do socialismo à realpolitik, do galope juvenil ao pocotó senil. Viva!

O tempo mostrou que a direita não tinha o que festejar. Ali está com 81 anos e não pôs o pijama. É useiro e vezeiro em deblaterar contra a opressão imperial e a exploração dos dominados pelos dominantes. Não é revolucionário — está mais para Maduro que para Marx —, mas suas peripécias peripatéticas fazem um barulhão.

Saiu agora “You Can’t Please All: Memoirs 1980-2024”, livro em que relata suas décadas de reformismo. São 800 páginas de alhos e bugalhos: textos inéditos e artigos mofados, perfis e obituários de camaradas, diários, diálogos e um interlúdio interminável — seis capítulos — sobre sua família.

Em que pese a balbúrdia, o livro tem eixo: as colisões entre resignação e rebeldia na mente de um militante que, ao abandonar a causa socialista, não passou a defender o status quo. Em vez disso, entregou-se a uma contestação tão frenética quanto palavrosa.

Sua charanga reverbera velhas questões. Dá para deter a destruição da natureza com a política podre em vigor? É possível obter justiça no mundo sem uma articulação internacional dos injustiçados? Só denunciar adianta? O capitalismo é o limite máximo da felicidade? Que fazer?

Lênin sabia o que fazer — mas há um século, e a Internacional que criou também não aguentou o tranco contrarrevolucionário. Ali abjura Lênin e, como a esquerda toda, não tem ideia do que fazer. E quem não sabe, ensina: publicou 52 livros, orgulhosamente listados em “You Can’t Please All”, e conta que recebe 50 convites por mês para viajar e palestrar.

Sobre o que tanto escreveu? A respeito de tudo, ou quase: Paquistão, Reino Unido, Índia, Chile, Irã, Margaret Thatcher, Gandhi. Cansou? Pois ainda fala de Trótski, Nehru, 68, Stálin, Bush, Edward Said, Obama, Spinoza, Churchill e, ufa, Lênin. Atenção: essas pessoas, países e problemas estão nos títulos; dentro dos livros fervilham milhares de temas e gentes. São romances, reportagens, roteiros, diários, ensaios, entrevistas.

Ele pode saber toneladas de coisas, mas, ao falar do Brasil, vende gato por lebre. Relata que em Olinda, depois de criticar o PT numa conferência, uma beldade lhe disse que concordava com as restrições ao partido. Contaram-lhe que era uma famosíssima atriz de novelas que se divorciara havia pouco de um político do PT.

Segundo Ali, a moça se chamava Maria Paula Gonçalves da Silva. Perdoe-me a ignorância, mas nunca a vi mais gorda. Uma googlada informa que houve, sim, uma celebridade com esse nome. Jogava basquete e atendia pelo apelido, Magic Paula.

Também deita falação sobre Marta Suplicy: “Na ditadura, reuniões clandestinas da direção do PT eram feitas no seu luxuoso apartamento, e Lula tinha que entrar pela porta de serviço”. O caso é ótimo; pena que fantasioso. O PT nunca esteve na clandestinidade. Marta morava numa casa (na rua Grécia) e só se mudou para um apartamento em 2001.

Cometer erros no varejo é pecadilho. O pecado imperdoável é insinuar e fofocar — e Tariq Ali espalha maledicências sobre o sociólogo brasileiro Emir Sader e o jornalista inglês Christopher Hitchens.

Não lhe basta ser um áulico de Chávez, ou afirmar que era superior a Lula. É sua opinião. O abuso é dar a entender que a Casa Branca o envenenou. Isso não é reformismo. É usar a imoralidade da extrema direita para enxovalhar os adversários.

Mario Sergio Conti, jornalista, é autor de “Notícias do Planalto”