A cada R$ 100 repassados pelo governo federal para o combate ao coronavírus em Goiás, menos de R$ 15 foram para o caixa do Estado. O restante foi repassado diretamente aos municípios. A proporção de distribuição para a gestão estadual (14,67%) é uma das menores do País, perdendo apenas para Alagoas (13,8%) e Mato Grosso do Sul (14%).O governo goiano recebeu R$ 52,6 milhões e os municípios do Estado, R$ 306 milhões, considerando os repasses diretos e exclusivos para o enfrentamento da pandemia. Goiânia recebeu mais do que a gestão estadual, R$ 75 milhões.Os dados são do Siga Brasil, sistema de informações sobre orçamento público federal disponibilizado pelo site do Senado. O maior volume de recursos partiu do Ministério da Saúde, destinados ao fortalecimento da rede hospitalar e de atenção primária no combate à doença. A pasta informou ao POPULAR que repassou R$ 284,4 milhões a Goiás exclusivos para o enfrentamento à Covid-19, sendo R$ 232,4 milhões aos municípios e R$ 52 milhões à administração estadual.O Estado é responsável por oito hospitais de campanha, em Goiânia e no interior, sendo seis já com disponibilidade de unidades de terapia intensiva (UTIs) e dois ainda em instalação. O governo estadual afirma que os R$ 52 milhões foram aplicados integralmente no custeio (manutenção) dos Hcamps.A Secretaria Estadual da Saúde (SES) afirma que a diferença na distribuição da saúde ocorre por conta da gestão plena dos municípios. Das 246 cidades goianas, 238 têm habilitação para gestão plena e, portanto, recebem diretamente os recursos. “Isso nos deixa de certa forma tranquilos porque, além do repasse constitucional, o Estado fica desonerado de passar mais verba extra aos municípios. Temos recebido muitos pedidos de compra de teste rápido, por exemplo, e conseguimos monitorar se a cidade já recebeu recursos suficientes”, diz o secretário Ismael Alexandrino.Pela gestão plena, são os municípios que regulam as unidades e não o Estado. No caso da capital, é a administração estadual que concentra a maioria dos hospitais, mas o município recebe a verba. Não há hospitais municipais em Goiânia, apenas duas maternidades.Questionado sobre os critérios de distribuição e a diferença da proporção de Goiás em relação aos demais Estados, o Ministério da Saúde informou ao POPULAR que, para definir o valor a ser destinado para cada município, são considerados o tamanho da população e a média de recursos transferidos para atenção hospitalar e atenção básica no ano passado.Já para a distribuição de recursos aos Estados, além do critério populacional, é considerado o número de leitos de UTIs registrado nos planos de contingência preparados pelos próprios entes federativos e a taxa de incidência da Covid-19 por 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde. “É importante ressaltar que o SUS funciona com a articulação das ações entre governo federal, Estados e municípios. Sendo assim, cada esfera tem autonomia para tomar decisões que estão sob a sua gestão”, afirmou a pasta do governo federal.Nos bastidores, há queixas de técnicos da saúde da gestão estadual de que haveria também um componente político na distribuição. Eles citam desde a visão mais municipalista do ex-ministro Henrique Mandetta, que havia sido secretário municipal de Saúde e foi o responsável pela elaboração do planejamento de repartição dos recursos, até o rompimento passageiro do ex-governador Ronaldo Caiado (DEM) com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), além do embate do presidente com governadores e prefeitos em relação ao isolamento e demais medidas de combate ao coronavírus.Há também críticas de que, com o repasse direto aos municípios, há menos fiscalização e controle sobre a destinação. “O município recebe mais, pode não aplicar bem o recurso e manda pacientes para os hospitais estaduais, que têm UTI e o custeio muito mais caro, mas com menos verba”, diz um médico da gestão estadual que prefere não se identificar para evitar atritos com prefeitos.O governo estadual informou, por meio da Secretaria de Comunicação, que não há previsão de elevar os valores repassados fundo a fundo na área da saúde porque a transferência “depende de decisão do governo federal”.Área socialAlém dos recursos do Ministério da Saúde, o levantamento do Siga Brasil também considera repasses aos municípios por parte do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, destinados a “ações de proteção aos segmentos da população que pertencem aos grupos com maior risco de morte em face do coronavírus, tais como idosos, crianças e adolescentes, mulheres, deficientes, povos e comunidades tradicionais e, também, de outras minorias sociais, como as pessoas LGTI+ e em situação de rua”.