Cotado para a vice da chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência, o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) manifestou preocupação com a proposta de revogação da reforma trabalhista encampada por setores petistas.Em café da manhã nesta segunda-feira (10) com o presidente nacional do Solidariedade, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, Alckmin pediu informações sobre a revogação de pontos da reforma trabalhista na Espanha e quis saber a opinião das centrais sindicais sobre o tema.Segundo Paulinho, Alckmin disse que há apreensão no mercado sobre a possibilidade de revisão da reforma trabalhista conduzida pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). O ex-governador também pediu que o deputado lhe encaminhasse material sobre o assunto, como suas sugestões de emendas.Na conversa, Paulinho oficializou o convite para que Alckmin se filie ao Solidariedade, onde, segundo o presidente do partido, o ex-tucano teria total liberdade e poderia compor a chapa com Lula.A percepção de interlocutores de Alckmin é a de que ele abandonou de vez a ideia de concorrer ao Governo de São Paulo e tem mirado no plano nacional, falando de questões federais, como desemprego e isolamento em relação a outros países.Ainda de acordo com Paulinho, o entendimento de Alckmin é o de que a chamada terceira via não tem chances na eleição - que deve ser decidida entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Com Alckmin vice, a vitória petista poderia vir no primeiro turno na avaliação dos aliados do ex-governador.Movimento do PSBO movimento para unir Alckmin e Lula partiu do PSB, que filiaria o ex-tucano e estuda formar uma federação com o PT na eleição de 2022. Para isso, porém, os partidos teriam que unificar candidaturas a governador em cinco estados.O cenário mais difícil é o de São Paulo, em que Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT) pleiteiam a candidatura a governador.O encontro com Paulinho sinaliza que Alckmin não depende da filiação ao PSB para compor a chapa com Lula - Solidariedade e PV também são opções, sobretudo num contexto em que as negociações entre PT e PSB estão travadas diante do impasse paulista.Paulinho argumentou que o PSB tem se valido da negociação com o ex-governador de São Paulo para exigir apoio do PT a seus candidatos a governos estaduais. Alckmin admitiu a possibilidade de se filiar ao Solidariedade. Mas não deu resposta.“Aqui [no Solidariedade], Alckmin não seria usado como moeda de troca”, disse Paulinho à reportagem.Segundo Paulinho, Alckmin não mencionou as recentes manifestações de Lula e da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), favoráveis à iniciativa do governo espanhol, que revogou a reforma trabalhista local. O dirigente partidário foi quem iniciou a conversa sobre o tema.EspanhaNo último dia 4, Lula publicou nas redes um post afirmando ser “importante que os brasileiros acompanhem de perto o que está acontecendo na reforma trabalhista da Espanha, onde o presidente Pedro Sanchez está trabalhando para recuperar direitos dos trabalhadores”.“Alckmin disse que está preocupado com a discussão que surge nos últimos dias sobre a revogação da reforma trabalhista”, afirmou Paulinho.Em resposta, o ex-presidente da Força Sindical afirmou que as centrais não defendem a revogação da reforma, mas a regulamentação da possibilidade de fixação, em assembleia, do valor de contribuição sindical por categoria.Para Paulinho, deveria haver liberdade de negociação entre os sindicatos e representações patronais - o valor da contribuição seria estabelecido em assembleias. “Revogar a reforma não nos agrada, achamos que não é necessário”, afirmou.Alckmin se disse preocupado com a crise econômica, chegando a ressaltar a existência de moradores de rua até mesmo em Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal.Na Espanha, a nova reforma, chamada também de “contrarreforma”, revisa mudanças feitas em 2012 e que teriam impulsionado a precarização das condições de trabalho no país.Entre as medidas, extingue os contratos por obra, limita os contratos temporários (que correspondem a cerca de 25% dos empregos no país) e estabelece regras mais rigorosas nas terceirizações.Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que quatro anos depois da entrada em vigor da reforma trabalhista, completados em novembro, o saldo é de queda no número de ações na Justiça do Trabalho, mas o número de empregos anunciado pelo governo à época ficou só na promessa.Lula e petistas vão ter reunião com espanhóis O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fará uma reunião com representantes do governo da Espanha para debater a reforma trabalhista do país europeu que propõe a revisão de mudanças promovidas em 2012. O encontro será realizado virtualmente nesta terça-feira (11) e contará com as participações de José Luis Escrivá, ministro de Seguridade e Migrações, e Adriana Lastra, vice-secretária geral do PSOE, partido do presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez.Também foram chamados para a reunião membros do PT e do PSOE, representantes e técnicos da Fundação Perseu Abramo e presidentes de centrais sindicais brasileiras e espanholas. “Tem pessoas que nem sabem do que se trata e já estão criticando a proposta de discussão. Queremos aprofundar os estudos sobre a reforma da Espanha, debater o tema para compreendê-lo a fundo”, diz o ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.Ele afirma que a ideia é discutir o tema nesse encontro reservado e, posteriormente, realizar um seminário público sobre o assunto, depois do amadurecimento de mais estudos que estão sendo realizados pela fundação. “O objetivo da reunião é analisar os novos marcos trabalhistas no século 21 e, concretamente, tratar da reforma trabalhista do governo liderado por Pedro Sánchez”, diz comunicado do PSOE.Mercadante diz que a proposta que hoje avança na Espanha, por exemplo, trata da questão dos trabalhadores de aplicativo, uma experiência que o PT pretende conhecer melhor. “São trabalhadores sem direitos. Na Espanha, a partir de um acordo entre governo, trabalhadores e empresários, eles conseguiram inclusive ter acesso aos algoritmos desses aplicativos. É uma discussão longa a se fazer, ouvindo todos os setores”, afirma Mercadante.Em novembro, Lula teve um encontro com Yolanda Diaz, ministra do Trabalho da Espanha, para discutir a reforma. A coluna Painel, da Folha de S.Paulo, mostrou na semana passada que as lideranças do PT têm discutido a reforma trabalhista na Espanha, também chamada de contrarreforma, como um exemplo a ser acompanhado pelo Brasil.Desde então, Pedro Sánchez, presidente do governo da Espanha, agradeceu o apoio de Lula, e políticos brasileiros criticaram a iniciativa, como Michel Temer (MDB), Sergio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB). Na Espanha, a nova reforma, chamada também de “contrarreforma”, revisa uma que foi feita em 2012 e que teria impulsionado a precarização das condições de trabalho no país.Entre outras medidas, a reforma atual extingue os contratos por obra, limita os contratos temporários (que correspondem a cerca de 25% dos empregos no país) e estabelece regras mais rigorosas nas terceirizações. Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que quatro anos depois da entrada em vigor da reforma trabalhista, completados em novembro, o saldo é de queda no número de ações na Justiça do Trabalho, mas o número de empregos anunciado pelo governo à época ficou só na promessa.O governo Michel Temer chegou a divulgar durante a tramitação da proposta que era estimada a geração de 6 milhões de empregos em até uma década com a aprovação - 2 milhões apenas nos dois primeiros anos. A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no entanto, mostra uma história diferente: a taxa de desocupação trimestral, que chegou a ficar entre 6% e 7% em 2014, subiu para 8,7% em agosto de 2015 - considerando-se trabalhadores formais, informais, por conta própria, entre outros.Em meados de 2017, antes da mudança na legislação, a desocupação era de 12,6%. Dois anos depois, em 2019 e antes da pandemia, estava em 11,8%. Em 2021, já com a crise sanitária, o mercado de trabalho sofreu um novo golpe e o desemprego tem oscilado acima disso, entre 14,7% e 13,2%.