O avanço na movimentação do governador Ronaldo Caiado (UB) em busca de alternativa partidária para abrigar a própria pré-candidatura à Presidência da República causou a antecipação, na última semana, de composições na base aliada ao governo de Goiás. Com o temor de debandada no União Brasil (UB) a partir da migração de Caiado, aliados passaram a reavaliar articulações, principalmente para a construção das chapas proporcionais para as disputas a deputado federal e estadual.A intenção é criar vacina dentro de grupos políticos e partidos, até o limite possível, para evitar possíveis reviravoltas geradas pela nova filiação do governador. As maiores preocupações são referentes à possibilidade de rápida desidratação do partido e consequente inchaço da futura sigla de Caiado ou de outros partidos aliados, já que o UB reúne deputados federais e estaduais, além de pré-candidatos que se apresentam como “puxadores de voto”.Os possíveis impactos da migração mobilizaram deputados estaduais integrantes da base governista, que já apresentavam ansiedade anterior com a possibilidade de ocorrer “canibalismo eleitoral” no grupo governista. Como antecipado pelo POPULAR, a expectativa do Palácio das Esmeraldas de alcançar a reeleição de 100% dos apoiadores com mandato na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) não era compartilhada pelos parlamentares, justamente por conta das dúvidas sobre a formação das chapas.A intenção dos deputados que alcançaram votações medianas em 2022 já era diversificar a distribuição de mandatários em um número maior de partidos, ao invés da centralização em “chapões” do MDB e da federação formada por UB e PP, que amplia a concorrência interna com outros nomes governistas e poderia levar à derrota de parlamentares. A possível migração de pré-candidatos a partir da mudança de partido de Caiado intensificou as cobranças pela composição antecipada de mais chapas.Neste sentido, deputados mantiveram reuniões para criar grupos alternativos dentro da base aliada. O objetivo é garantir protagonismo em chapas próprias, mesmo se houver debandada de postulantes vindos do UB. A organização pauta, por exemplo, o trabalho da direção estadual do Solidariedade, apontado como mais provável destino de Caiado.Federado com o PRD, o partido estabeleceu teto de 30 mil votos para a composição da chapa a deputado estadual e espera adiantar a estruturação da lista de pré-candidatos. “Se o governador vier para o partido, provavelmente será na última hora do prazo de filiação e deve manter a nossa estratégia que temos hoje. Claro que isso pode mudar, mas esse é o nosso objetivo”, afirma o presidente estadual do Solidariedade, Denes Pereira.“A chapa que estamos montando não é chapão, nem chapinha. É uma chapa intermediária. Temos hoje cinco deputados e vamos ter nomes que têm potencial para entre 20 mil a 30 mil votos. Temos até 12 deputados nessa linha que podem vir, além de outros pré-candidatos como ex-prefeitos”, explica.Pereira aponta que o mesmo planejamento se aplica à chapa de deputado federal. “Se o Caiado decidir lá na frente que é para sair todo mundo, nós vamos refazer o trabalho e provavelmente sair de uma chapa de 450 mil votos para deputado federal e vamos para uma com 800 mil. Não tem problema algum”, diz.Considerado um dos articuladores da chapa entre os parlamentares, o deputado estadual Coronel Adailton (SD) confirma a intenção de antecipar as definições, mesmo diante da possível filiação do governador. “Depende muito. Se a gente trabalhar, articular e deixar pronto, para onde ele for já chega resolvido. A chapa já vai estar pronta e bem encaminhada. O governador só vai validar isso. O partido já abriu as portas para ele e a tendência é a gente se fortalecer cada vez mais”, defende.A movimentação pela antecipação de mais chapas a deputado estadual chegou a ser tratada abertamente no plenário da Alego na última semana, quando o presidente Bruno Peixoto (UB) apontou, em tom de brincadeira, que alguns deputados já teriam sido “aceitos” na articulação feita por Adailton. “Já se tornou pública a formatação de uma chapa de deputados estaduais com um teto para as eleições de 2026. O partido a ser definido pelo governador”, disse.A perspectiva de esvaziamento do UB, no entanto, gera preocupações entre deputados estaduais da sigla, que ainda aguardam orientações de Caiado. A bancada do partido na Alego chegou a buscar agenda para reunião com o governador, mas ainda não houve definição.A proposta de encontro foi direcionada por Virmondes Cruvinel e contou com respaldo dos outros integrantes. “O primeiro passo é o diálogo e, por isso, eu sugeri justamente a possibilidade de uma reunião da bancada de deputados com o próprio governador e com a dona Gracinha, que se apresenta como postulante ao Senado com todo o nosso apoio”, explica. A bancada do UB na Alego tem oito integrantes, Lincoln e Virmondes, o presidente da Casa, Bruno Peixoto, o líder do governo, Talles Barreto, além dos deputados Amauri Ribeiro, Dra. Zeli, Rubens Marques e Veter Martins. O líder da bancada, Lincoln Tejota, considera que os parlamentares não devem “tomar nenhuma decisão com pressa”, mas admite o cenário de desidratação. “Com certeza. O governador é um expoente do União Brasil e a saída dele tende a esvaziar o partido em Goiás. O peso aqui é muito grande e, se o governador sair, haveria um esvaziamento do União Brasil”.CobrançasAlém do cenário de preocupação de deputados estaduais, lideranças governistas passaram a intensificar as cobranças para que auxiliares e figuras próximas à gestão confirmem as candidaturas a deputado federal pelo UB. A intenção é garantir a manutenção de força política na chapa do partido, mesmo no cenário com a saída de Caiado e a chance de que a sigla perca os três atuais parlamentares.A avaliação de aliados é de que o processo de busca por nomes competitivos para a disputa por cadeiras na Câmara dos Deputados pelo partido demonstra preocupação do governador com as consequências estaduais da provável mudança de partido. Além de atender à meta de ampliar a bancada federal, há prioridade para manter estrutura em torno da pré-candidatura ao Senado da primeira-dama Gracinha Caiado.Entre os nomes cobrados para posicionamento pela candidatura federal está a secretária estadual de Educação, Fátima Gavioli, que, nos bastidores, mantinha aberta a possibilidade de entrar na disputa por vaga na Alego. O presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), Pedro Sales, também deverá integrar a chapa do UB à Câmara.A movimentação de Caiado mantém dúvidas junto à atual bancada federal do partido, que ainda espera as próximas ações e conversas com a direção nacional para decidir sobre o rumo partidário. Zacharias Calil e Silvye Alves, no entanto, já anteciparam a pretensão de deixar a sigla na janela partidária, em março de 2026. Já José Nelto passou a considerar o retorno ao MDB, do vice-governador Daniel Vilela.Silvye já havia registrado problemas com o partido antes mesmo da tramitação e aprovação da PEC da Blindagem na Câmara, momento em que anunciou que deixaria a sigla. Na sequência avançou em diálogos para se filiar ao Republicanos, mas ainda não confirmou a troca. Zacharias mantém a decisão de buscar vaga para a disputa ao Senado e reclama da falta de espaço no partido para se lançar ao pleito. Nelto afirmou ao POPULAR que “não foi comunicado” sobre a eventual mudança de Caiado e que ainda está em processo de “análise” para definir a volta ao MDB.Caiado intensificou as divergências com as cúpulas de UB e PP, que oficializaram a formação de federação em agosto e considera filiação ao Podemos ou ao Solidariedade, depois de já ter conversas anteriores com Republicanos e receber convite público do Avante.O governador deflagrou crise interna na federação ao rebater as declarações do senador Ciro Nogueira (PP-PI) sobre os caminhos da composição para a eleição de 2026, sem incluir a possibilidade de candidatura própria. Caiado usou as redes sociais para afirmar que as falas do senador demonstram “ansiedade vergonhosa” para “se colocar como candidato a vice-presidente” na chapa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ao longo da semana, no entanto, o goiano não voltou a tratar do assunto publicamente.