As medidas para fazer decolar a própria imagem incluem, nas redes sociais, cenas do prefeito Sandro Mabel (UB) que emulam um gestor que trabalha sem parar e, “atentamente”, está presente em todo canto da cidade, conforme percebe Marcelo Vitorino, professor e consultor de marketing político. “O prefeito de Goiânia vem tentando imprimir um ritmo forte na exibição do seu trabalho, buscando consolidar a imagem de uma gestão atenta a tudo que acontece”, afirma.Mabel faz da agenda pública a locação improvisada de grande parte dos seus vídeos publicados no Instagram, analisou O POPULAR. Seja em mutirões da Prefeitura, reuniões no Paço Municipal ou mesmo dentro do carro a caminho de um compromisso, é na rede social que o prefeito comunica boa parte de suas ações. “Do ponto de vista da comunicação, isso traz três problemas: cria uma necessidade constante de geração de conteúdo, fazendo com que o prefeito acabe destinando muito tempo para a comunicação e não para a gestão; personaliza demais a gestão municipal na figura do prefeito, o que pode ofuscar o trabalho da gestão como um todo, e ao mesmo tempo deixa a imagem dele atrelada aos problemas que surgirão”, argumenta Vitorino. “Isso pode levar o cidadão a se acostumar com esse dinamismo e se decepcionar quando o ritmo for reduzido”, complementa o professor. Mas o esforço para ter uma própria imagem, fazendo diversas ações em poucos dias e repercutindo os atos virtualmente, contudo, desliza em outras frentes práticas, como por exemplo a relação com a Câmara Municipal de Goiânia, que pode vir a se desgastar ainda neste primeiro ano de governo, e com auxiliares que vieram da gestão Cruz. São oito os nomes que compõem hoje o primeiro escalão da Prefeitura e que trabalharam na administração anterior, o que para o cientista político Guilherme Carvalho é “natural”. Ele chama a atenção para o apoio de Mabel à manutenção de Policarpo na presidência do Legislativo. “A gestão do Cruz perpassou uma série de grupos políticos. Acho que é natural ter peças que foram de um governo para o outro. O caso do Policarpo é curioso. Ele conseguiu ter tantos acessos a tantos recursos com alguns acordos que fez, principalmente na gestão do Cruz, que ele se tornou um nome de consenso entre colegas”, diz Carvalho. Para o cientista político, Mabel poderia fazer “muito pouco” diante do “poder” conquistado por Policarpo.” Não era a hora para ele chegar e tentar impor um nome. Eu acho natural que nesse primeiro momento ele tenha concordado com o nome do Policarpo. Mas estamos começando a ver as primeiras tensões que eles vão passar a ter. Policarpo acostumou à exigir da Prefeitura e ela entregar; e isso não vai acontecer. Esse era um acordo com bases no poder passado. Há uma tendência de choque e quem pode sair perdendo dessa é o Policarpo.”Conforme os analistas apontam, é difícil prever até que ponto a postura midiática de Mabel pode interferir positiva ou negativamente na crônica política ou mesmo na cidade. Nos bastidores, o prefeito tem ímpeto comparado ao de João Doria (PSDB) quando assumiu a Prefeitura de São Paulo, em 2016, tanto pelo excesso de aparições, quanto pela postura de engajamento mandatário. Vitorino afirma ainda que a comunicação política é “como um remédio”. “Na dose certa, salva, na dose em excesso vira veneno. Abusar da exposição pode gerar a ideia de campanha continuada e também de um político que se aproveita das situações para favorecimento próprio”, diz o consultor.