Depois de a deputada federal Silvye Alves (UB) anunciar que deixará o União Brasil (UB) e pedir desculpas aos eleitores por ter apoiado a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, seu colega da bancada goiana, Gustavo Gayer (PL), gravou um vídeo de 12 minutos para comentar o tema, com título irônico (“Eu votei favorável à PEC DA BANDIDAGEM!!! Me perdoem!!”). Nele, Gayer afirma que a aprovação da proposta foi o “primeiro passo para resgatar a democracia” no país e volta a criticar o Supremo Tribunal Federal (STF).“Parece exagero mas não é. Primeiro, o STF não prende por corrupção. O STF premia a corrupção. Tanto é que se formos pegar os partidos que votaram contra essa PEC são os mais corruptos do Brasil, mas são todos blindados”, afirmou ao defender o projeto.Antes, no pedido de desculpas, Silvye disse que cometeu “um erro gravíssimo” ao se posicionar, em duas votações, a favor do texto que pretende criar novas imunidades aos próprios deputados e senadores. A matéria prevê que a abertura de processos contra os parlamentares pelo STF só poderá ocorrer com prévia autorização dos próprios deputados ou senadores, a depender de cada caso. O conflito entre os dois deputados federais goianos teve início em junho de 2023, quando Gayer criticou em uma postagem nas redes sociais os colegas de Goiás que, assim como ela, votaram a favor da Medida Provisória dos Ministérios — que reorganizou o governo federal e criou novas pastas, como a da Mulher. Em resposta, Silvye gravou um vídeo com uma série de acusações contra Gayer, respondidas por ele, que também entrou com uma queixa-crime contra a colega no STF - ação que foi negada pelo ministro André Mendonça.Na votação da PEC da Blindagem, além dos dois turnos em plenário, Silvye ainda foi favorável à manutenção do voto secreto para uma eventual autorização de investigação dos parlamentares. “Vim aqui, humildemente, pedir desculpas aos meus eleitores. Eu cometi um erro gravíssimo durante a votação da PEC da Blindagem. Eu fui contra tudo aquilo que eu defendo e acredito”, afirmou a deputada em vídeo.Silvye alegou também que chegou a registrar voto contra a PEC no início da primeira votação, mas que alterou o posicionamento ao longo da apreciação. “A partir desse momento, eu comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso Nacional, se é que vocês me entendem”, disse.“Ligaram dizendo da votação contra e que eu sofreria retaliações. Enfim, não sei que tipo de retaliações um deputado federal sofre ou poderia sofrer dentro da Câmara. Eu fui covarde e cedi à pressão. Por volta de 23h eu mudei o meu voto. Eu não tive força naquele momento para fazer o correto e quero pedir perdão para vocês”, seguiu a parlamentar.Procurada pela jornalista Cileide Alves para conceder entrevista à CBN Goiânia, a assessoria de Silvye informou que ela só se manifestará “no momento oportuno”. No entanto, Cileide informou, durante o quadro Plural, que as conversas de Silvye para mudar de partido são anteriores à votação da PEC e têm relação com a formação de chapas competitivas para a próxima eleição e não com uma possível desavença entre ela e a direção de seu partido neste caso.Outras reações A maioria da bancada goiana continua evitando o assunto nas redes sociais, mesmo após a onda de críticas de internautas. Dos 17 deputados federais de Goiás, 14 votaram a favor da PEC; apenas Adriana Accorsi e Rubens Otoni (ambos do PT), além de Flávia Morais (PDT), foram contra a blindagem.Levantamento feito pelo POPULAR nas redes dos parlamentares encontrou manifestações novas, apenas como respostas, de Jeferson Rodrigues (Republicanos), Samuel dos Santos (Podemos) e Magda Mofatto (PRD). Ismael Alexandrino (PSD) já havia se manifestado anteriormente ao ser questionado em suas postagens.Alguns parlamentares, como Lêda Borges (PSDB), José Nelto (UB) e Marussa Boldrin (MDB), optaram por restringir comentários em seus perfis no Instagram.Alexandrino tem respondido comentários de eleitores e reforçou argumento de que a PEC não prejudica a população, mas garante o respeito ao artigo 53 da Constituição Federal, que trata da imunidade parlamentar. Em resposta a Antônio Abreu, que se disse “decepcionado”, Alexandrino respondeu: “Não é sempre que a gente agrada. Mas trabalho duro todos os dias em prol da população. E a PEC das Prerrogativas não prejudica ninguém da população.”Jeferson declarou, nas respostas, que o objetivo é “evitar abusos” e “defender a separação dos poderes”. “Quem comete crime, deve responder. Mas não podemos permitir que o mandato parlamentar seja calado por discordâncias ideológicas”, escreveu. Samuel rebateu críticas e afirmou que não existe “PEC da Blindagem”, argumentando que deputados seguem sujeitos à lei e que a proposta apenas reforça a Constituição para impedir prisões ou censura antes do fim do processo judicial. “Nenhum cidadão, que seja deputado ou eleitor, deve ser preso por opinião, ou acusações, antes da conclusão, e isso vem acontecendo, inclusive descumprindo a Constituição de 1988”, escreveu em resposta à internauta Caroll Freitas. Do grupo dos parlamentares de Goiás que votaram contra a PEC, Otoni divulgou um cartaz convocando manifestação para este domingo (21) na Praça Universitária, em Goiânia, contra o que chamou de “PEC da Bandidagem”. O ato está sendo convocado por dezenas de entidades, centrais sindicais e políticos por todo o país. Os movimentos estão denominando a proposta de PEC da Bandidagem e, na capital, seguirá em caminhada rumo à Praça Cívica.