Sete dias depois de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinar de forma liminar a suspensão de duas leis estaduais que regem a parceria entre o governo de Goiás e o Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) para a execução de obras em rodovias do Estado, o governador Ronaldo Caiado (UB) escalou o tom e acusou o Partido dos Trabalhadores (PT) de “retaliar o povo de Goiás”. Fixando tom eleitoral e classificando o momento como “delicado”, Caiado disse que os “goianos não podem ser penalizados porque amanhã o governador tem a pretensão de disputar a eleição”. “Mas eu gostaria de dizer tudo isso, como se diz no interior - onde eu fui criado também -, é na tampa da cara do presidente Lula, para que ele pudesse ver aquilo que ele está fazendo em prejuízo da população do nosso Estado de Goiás. Essa é maneira direta que eu aprendi a fazer política, não é tergiversando. É dizer exatamente que o povo goiano está ressentido das retaliações que têm sido praticadas pelo presidente Lula em relação a Goiás, discriminando o Estado em todas as obras e todas as ações”, afirmou o governador.As declarações de Caiado foram feitas nesta sexta-feira (17) em entrevista coletiva durante a inauguração da implantação do tratamento secundário na Estação de Tratamento de Esgoto Dr. Hélio Seixo de Britto (ETE), em Goiânia. Inicialmente, a agenda tinha previsão de participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas o mandatário cancelou a vinda a Goiás. O presidente foi representado pelo ministro das Cidades, Jader Filho (MDB). Ao lado do ministro, o governador repetiu boa parte das falas dadas aos jornalistas durante discurso de cerca de 25 minutos, no qual atacou Lula e reclamou da dificuldade para obter repasses federais para áreas de infraestrutura e saúde. Caiado se delongou ao falar das quatro obras em rodovias goianas que foram paralisadas em decorrência da decisão do ministro Alexandre de Moraes. Dirigindo-se a Jader logo no começo de sua fala, o governador destacou o “tratamento republicano” do ministro e pediu “paz”. “Você sabe que vocês são duros na campanha. Não estamos em campanha. Vamos viver em paz, vamos poder trabalhar com o Brasil, vamos poder dar condições das pessoas escolherem quem deverá competir, e continuar a vida pública pelo voto no momento da campanha”, afirmou o goiano.Logo na sequência, então, Caiado pediu que o ministro “transmitisse” suas queixas ao PT e ao governo federal. “Pedir para que realmente entendesse que mais de 20 estados da federação praticam essa parceria com o terceiro setor. Será que vão querer fechar o Cora (Complexo Oncológico de Referência de Goiás) também?”, questionou o governador. SuspensãoMoraes atendeu a um pedido feito pelo diretório nacional do PT, em ação direta de inconstitucionalidade (ADI) protocolada no dia 7 de outubro, em que a sigla questiona o modelo de contratação direta do Ifag, apontando “afronta ao princípio da licitação e contratação pública, implementada sob um falso pretexto de desburocratização da execução de obras públicas”. A Procuradoria-Geral do Estado protocolou recurso na última terça-feira (14) contra a decisão de Moraes, alegando que as obras podem se deteriorar no periodo em que estarão paralisadas. Nas declarações, Caiado reforçou que as obras afetadas são estratégicas para o desenvolvimento regional e a integração de áreas produtivas. SaneagoInaugurada nesta sexta, a implantação do tratamento secundário na ETE teve um custo de R$ 133,2 milhões. Dados do governo estadual apontam que estavam previstos R$ 78,6 milhões de verba da União, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), mas foram repassados até agora R$ 45,9 milhões. Diante disso, o valor investido pela Saneago com recursos próprios foi de R$ 87,3 milhões (faltam R$ 32,7 milhões para serem reembolsados à empresa, segundo dados do Estado).O governador destacou que a obra inaugurada foi assinada há 12 anos, em 2013, e só foi concluída agora, após sucessivos entraves burocráticos. Durante o discurso, Caiado comparou a atual gestão da Saneago com períodos anteriores, afirmando que a estatal foi recuperada e se tornou referência nacional após “escândalos do passado”. “Se o Caiado tivesse chegado antes do governo, a CelgPar não teria acontecido o mesmo que com a Saneago em poucos dias e que eu tirei, sem dúvida nenhuma, da boca da corrupção”, afirmou o governador. O evento reuniu a primeira-dama Gracinha Caiado, o vice-governador Daniel Vilela (MDB), o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), o deputado federal Célio Silveira (MDB) e outras autoridades. Por também envolver recursos do governo federal, a cerimônia contou com a presença de apoiadores do presidente Lula, além de simpatizantes de Caiado. Em clima de rivalidade, durante o ato os grupos manifestaram apoio aos respectivos líderes com palmas, gritos e placas com mensagens.