Atualizada às 10h15Declarações obtidas por meio de gravações inéditas apontam o envolvimento direto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no esquema de “rachadinhas”, na época em que exercia mandatos como deputado federal, entre os anos de 1991 e 2018. Três reportagens publicadas nesta segunda-feira na coluna da jornalista Juliana Dal Piva, do UOL, revelam falas da fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, nas quais ela afirma que Bolsonaro demitiu irmão dela porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário de como assessor."O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo', disse.“Rachadinha” é o nome popular para uma prática que configura o crime de peculato (mau uso de dinheiro público), e envolve entrega de salários de assessores. Desde que foi revelado o esquema, no fim de 2018, envolvendo Flávio Bolsonaro, o presidente sempre se esquivou do tema ou reagiu com rispidez quando foi questionado.A ex-cunhada do presidente também afirma que um coronel da reserva do Exército, ex-colega do presidente na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), atuou no recolhimento de salários da ex-cunhada de Jair Bolsonaro, no período em que ela constava como assessora do antigo gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).Frederick Wassef, advogado que representa o presidente, afirmou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos".Segunda denúnciaDiálogos entre a esposa e a filha de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que já é investigado na apuração de “rachadinha”, revelam que Bolsonaro é conhecido como "01". Nos áudios, mãe e filha comentam que Bolsonaro, na época já presidente, não deixaria Queiroz voltar ao cargo de assessor no gabinete de Flávio. “É chato também, concordo. É que ainda não caiu a ficha dele que agora voltar para a política, voltar para o que ele fazia, esquece. Bota anos para ele voltar. Até porque o 01, o Jair, não vai deixar. Tá entendendo? Não pelo Flávio, mas, enfim, não caiu essa ficha não. Fazer o quê? Eu tenho que estar do lado dele”, disse Márcia.Terceira denúncia A terceira denúncia mostra que não só Queiroz recolhia os salários de assessores, mas que outras pessoas também foram, supostamente, designadas para a tarefa, como o coronel da reserva do Exército, Guilherme dos Santos Hudson, apontado pela ex-cunhada de Bolsonaro como responsável por cobrar parte do recebimento. “O tio Hudson também já tirou o corpo fora, porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e buscava no banco era ele”, afirmou Andrea.