A articulação de Jair Bolsonaro (PL) e de Valdemar Costa Neto, que comanda a legenda do presidente, para gerar uma filiação em massa ao partido ampliou uma crise com o Republicanos e ameaça apoio à campanha de reeleição. Segundo interlocutores, Bolsonaro está obcecado com a ideia de lançar candidatos com o mesmo número de urna que ele, 22 do PL, que também coincide com o ano em que busca sua recondução. Ele quer gerar uma “onda 22”.No entanto o movimento desagrada aliados, em especial o Republicanos. Hoje só mais duas legendas, além desta, estão com o chefe do Executivo: PL e PP, essa última do ministro Ciro Nogueira e do deputado Artur Lira, presidente da Câmara.O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, passou a cobrar de forma mais enfática uma melhor distribuição de filiados entre os partidos da base, em especial os chamados “puxadores de voto” do bolsonarismo. Ao jornal Folha de S.Paulo, Pereira disse nesta quarta-feira (23) que o Bolsonaro atrapalha a permanência do partido na base que apoiará a sua reeleição. “O presidente Bolsonaro atrapalha o Republicanos a permanecer na base do governo com esse comportamento e atrapalha o Republicanos a crescer”, afirmou.Mais ainda, a aliados o dirigente também se queixa do que seria uma investida de Bolsonaro para levar deputados do seu partido para o PL durante a janela partidária. A preferência pela filiação ao partido de Valdemar desagrada também a integrantes do PP, partido que também compõem a base e que chegou a tentar receber Bolsonaro.O presidente havia dito que ajudaria as demais siglas que o sustentam a crescer. “Pode ter certeza que nenhum partido será esquecido por nós. Não temos aqui a virtude de sermos o único certo, queremos, sim, compor nos estados”, afirmou Bolsonaro em dezembro, quando se filiou ao PL. Na prática, porém, líderes partidários dizem que os principais nomes do bolsonarismo estão indo para o PL. Com alto desempenho eleitoral, esses congressistas costumam ser visados por partidos, uma vez que conseguem ajudar outros devido ao quociente eleitoral.E a prioridade das legendas, em especial as do centrão, é sempre ampliar a bancada, principalmente da Câmara, o que garante maior fatia do fundo partidário nos quatro anos seguintes. Segundo relatos, o presidente do PL também tem buscado, de forma enfática, filiar os campeões de apoio nas urnas. Há quatro anos, Hélio Lopes (PSL) foi campeão de votos no Rio de Janeiro. A expectativa é que se filie ao PL.O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é um dos principais cortejados pelos três partidos do centrão. Em 2018, Eduardo foi o deputado federal mais votado do país, sendo escolhido por mais de 1,8 milhão de eleitores em São Paulo. O PP negociou a filiação do filho de Bolsonaro. Ele deve, contudo, acabar migrando para o partido do pai.De acordo com quem acompanhou as conversas, Valdemar insistiu que o clã todo acompanhasse o pai no seu partido. O dirigente espera eleger ao menos 60 deputados neste ano, na onda do bolsonarismo.Outro nome em disputa é o de Carla Zambelli (PSL-SP). Ainda que a deputada não tenha sido tão bem votada na última disputa (foram 76 mil votos), a expectativa de aliados é que neste ano ela tenha um desempenho muito superior. Dos deputados aliados do presidente, Zambelli ainda é uma das mais próximas.Outros bolsonaristas famosos devem acabar no PL. Uma delas é a ex-secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”. Ela se filiou ao partido de Valdemar e deve disputar uma vaga na Câmara.Interlocutores do presidente sabem da importância de equilibrar os aliados entre as três legendas para garantir que estejam todas satisfeitas e unidas durante a campanha.Presidente cita Nordeste para atacar PT e diz que sigla de Lula usou regiãoO presidente Jair Bolsonaro (PL) usou inaugurações no estado de São Paulo nesta quinta-feira (24) como palanque para sua reeleição e para a candidatura do ministro Tarcísio de Freitas a governador, com discursos contra esquerda e ataques aos governos do PT, partido de seu rival Luiz Inácio Lula da Silva.Bolsonaro, que teve cerimônias pela manhã em São José do Rio Preto e à tarde na capital paulista, disse no segundo evento que as gestões petistas olhavam para os nordestinos “como uma fonte de receita para a sua quadrilha”, reiterando sua estratégia de reduzir o apoio ao ex-presidente na região.Bolsonaro fez a afirmação após acusar os governos Lula e Dilma Rousseff de desvios na Petrobras e de utilização do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar obras em países como Cuba e Venezuela, em vez de priorizar, por exemplo, a transposição do rio São Francisco.“Outras pessoas que diziam que olhavam pelos nordestinos olhavam talvez como uma fonte de receita para a sua quadrilha, e não uma fonte de recursos, no caso BNDES e Petrobras, para ajudar ao seu povo”, disse, após comentar que a capital é “a cidade que tem mais naordestino do Brasil”.O mandatário amarga no Nordeste seus maiores índices de rejeição e porcentuais de intenção de voto inferiores aos de Lula. No início do mês, o atual presidente fez viagens pela região e criticou a demora na conclusão da transposição, iniciada em 2007, no segundo mandato do petista.Nesta quinta, na inauguração de um piscinão para evitar enchentes na zona sul de São Paulo, Bolsonaro afirmou que na época do PT houve “corrupção generalizada” e “interferências as mais variadas possíveis”, citando dados de endividamento da Petrobras no período e de empréstimos do BNDES ao exterior.