O discurso não é radical como o “atirar para matar” e “dar tiro na cabecinha” dos governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), mas o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), também dedicou boa parte das declarações públicas e atividades dos quatro primeiros meses de governo para apoio e acenos às forças policiais do Estado.Embora repita que o principal foco do início da gestão é a área da saúde, especialmente por ser médico e pelo fato de ser a maior demanda da população, segundo as pesquisas, em discursos oficiais e postagens nas redes sociais Caiado destacou mais o setor de segurança. No Twitter, desde o dia da posse como governador, o democrata fez 78 menções a polícias e segurança pública. Já sobre saúde e hospitais, foram 22 citações. A educação e escolas tiveram 21 menções.No Instagram, a cada sete imagens postadas no perfil do governador desde o início do governo uma é dele ao lado de representantes das polícias, de ações da segurança pública ou de eventos relacionados ao setor. O discurso em defesa das polícias e do endurecimento no combate ao crime cresceu nos últimos anos e teve peso importante na campanha eleitoral do ano passado, impulsionado pelo posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (PSC).Ao tomar posse, um dos primeiros anúncios de Caiado foi do fim da terceira classe das polícias, com lei já sancionada após aprovação na Assembleia Legislativa. O governador também vem ressaltando queda em índices de criminalidade, que completa com discurso em tom político de que a população já tem maior sentimento de segurança nos primeiros meses do governo. “O clima em Goiás já mudou”, diz.Dados do primeiro trimestre apontaram queda em índices de crimes que atentam contra a vida, mas houve aumento em roubos e furtos a residências e comércio. Os elogios de Caiado às polícias também cresceram diante de protestos e paralisações de servidores da área da Educação por conta do não pagamento dos salários de dezembro. Em entrevistas e postagens, ele apontou servidores da Segurança Pública como exemplos de empenho e compreensão diante dos esforços do governo.“Eu faço questão de enaltecer e defender a nossa Polícia Militar. O meu lema é: ou o bandido muda de profissão ou ele muda de Goiás”, repetiu o governador em pelo menos três eventos relacionados ao setor. Nos anúncios do governo, Caiado também aponta para a intenção de incluir o respaldo às forças policiais em ações culturais. Na última semana, anunciou a recuperação de dois prédios: a Chefatura de Polícia, na Praça Cívica, em Goiânia, que pretende transformar em Centro de Memória da Polícia Civil, com um Museu da PC-GO; e a primeira sede da Polícia Militar na cidade de Goiás, também com um museu da corporação. As duas reformas serão feitas com recursos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão federal.Ao promover ações para chamar a população à Praça Cívica aos domingos, Caiado também fez um evento com forte presença das forças militares. O Corpo de Bombeiros ofereceu equipamentos para lazer, helicóptero e veículos para exposição na praça.“Goiás vai ser o Estado mais seguro do país. Aqui terá segurança, o Estado será forte no combate à criminalidade. Onde tiver bandidagem vai ter a mão forte do governo”, afirmou o governador, que articulou a vinda do secretário nacional de Segurança Pública, general Guilherme Theophilo, a Goiás em março para apresentar ao primeiro Estado as diretrizes dos programas que integram o Plano Nacional de Enfrentamento aos Crimes Violentos.Em palestra no 18º Fórum Empresarial LIDE, realizado em Campos do Jordão (SP) no início do mês, Caiado abordou o tema e apresentou três “is” como eixos da política de segurança pública de Goiás: Integração, Inteligência e Integridade. “Temos mostrado resultado de nossas ações e que vale a pena confiar na nossa Polícia Militar. A cada dia a sociedade está sentindo mais a presença e o resultado da polícia”, afirmou em uma das agendas de visita à corporação.Aliados do governo dizem que o destaque para a segurança é condizente com o histórico de atuação e a visão conservadora do governador, mas também tem relação com resultados positivos da redução de criminalidade. Em momento de descompasso financeiro e dificuldades de indicar resultados em curto prazo na maioria dos setores, os dados ajudam em um mínimo de agenda positiva, dizem.