Atualizada às 22h30 de 24/05/2022As prefeituras das cidades goianas de Mairipotaba, Anhanguera e Itauçu estão entre as gestões que podem ter recebido, via deputados e senadores, caminhões de lixo adquiridos pelo governo federal, supostamente com valor inflado. Reportagem publicada pelo jornal Estado de S.Paulo mostrou aumento na quantidade de veículos deste tipo comprados a partir de 2020 e indícios do uso de laranjas no esquema. Além disso, duas empresas que participaram de licitações têm sede em Goiânia.Por um lado, prefeitos relatam benefícios proporcionados pela chegada dos caminhões, e afastam qualquer nível de envolvimento no processo de compra dos veículos. De outro, parlamentares destacam alta geral no preço de máquinas no mercado e também afirmam não participar dos processos de licitação.Segundo a reportagem, a Fibra Distribuição e Logística Eireli, microempresa com sede em Goiânia, ganhou um pregão de R$ 8,5 milhões da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), empresa pública ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Na época, de acordo com o apurado, a Codevasf pagou R$ 477 mil por um caminhão de lixo. No entanto, dois meses antes, o braço da estatal em Brasília pagou R$ 391,3 mil pelo mesmo veículo.Outra microempresa de Goiânia, a Globalcenter Mercantil Eireli também foi citada. A instituição ganhou uma licitação de R$ 1,7 milhão da Codevasf em São Luís (MA). A estatal aceitou pagar R$ 356,9 mil por caminhão de lixo, sendo que a superintendência em Pernambuco adquiriu o mesmo veículo por R$ 319,7 mil uma semana antes. De acordo com a reportagem, a sede da empresa em Goiânia é uma casa abandonada.O POPULAR tentou, sem sucesso, contato com as duas empresas da capital por meio de telefones identificados em pesquisa na internet.A Codevasf é comandada em Pernambuco e Maranhão por aliados de Jair Bolsonaro (PL), que são ligados a partidos do Centrão, grupo do qual o presidente se aproximou em 2020 em busca de maior base para aprovação de matérias de interesse do governo no Congresso Nacional.O Estadão mostrou que, em 2019, foram adquiridos 85 caminhões de lixo com verba do governo federal. Já em 2020, o número subiu para 510. Em 2021, foram 453.EleiçãoNas cidades, a entrega de deste tipo de veículo é feita, em geral, em evento com a presença de parlamentares, que têm participação e discursos com tom eleitoral. Em Itauçu, vídeo mostra o deputado federal Adriano do Baldy (PP) desfilando em carro de som durante a entrega de um caminhão de lixo. Após a publicação desta reportagem, Adriano informou que o caminhão foi adquirido com emenda de bancada. O parlamentar também ressaltou que não tem relação com a forma como a licitação foi feita. Senador por Goiás e um dos responsáveis pela entrega de caminhões de lixo, Vanderlan Cardoso (PSD) atribui o salto no preço dos veículos a variações que têm sido verificadas de forma geral no mercado. O parlamentar afirma que fez levantamento de quais municípios do estado não tinham caminhões de lixo e organizou suas emendas para atender a maior quantidade possível de cidades.Vanderlan diz que entregou caminhões que custaram até R$ 280 mil e deixou de fazer pedidos relacionados a este tipo de veículo por causa do aumento de preços. Segundo o senador, houve licitação em que o valor do caminhão de lixo chegou a R$ 380 mil. Ainda de acordo com o parlamentar, membros da bancada goiana têm optado por entregar emendas via Codevasf porque os benefícios chegam mais rápido aos municípios.Questionado sobre a relação entre o aumento na compra de caminhões de lixo e a aliança de Bolsonaro com o Centrão, Vanderlan disse que este argumento “pode valer para quem não está no mercado”. O senador justifica que tem cerca de 300 caminhões na empresa da qual é proprietário e tem sentido o aumento geral no preço de produtos. Vanderlan também tem viajado pelo o interior do estado para entregar emendas.Líder da bancada goiana no Congresso Nacional, Flávia Morais (PDT) disse que não tinha conhecimento sobre a denúncia e argumentou que os parlamentares não têm qualquer envolvimento com os processos de licitação.CidadesCom pouco mais de mil habitantes, Anhanguera é a menor cidade de Goiás e fica localizada no Sul do estado. De acordo com o prefeito, Marcelo Martins Paiva (MDB), o município, que vai completar 70 anos de emancipação política, transportava o lixo em caminhão adaptado com caçamba até receber veículo próprio para o serviço por meio de Vanderlan e Flávia. Marcelo diz que não fez solicitação por emenda. “O caminhão é importantíssimo para a cidade. Se teve conluio, não sou conivente, eu repudio”, disse.Prefeito de Mairipotaba, Carlos Henrique Rodrigues Pereira (UB) afirma que buscava emenda para compra de caminhão de lixo desde 2017 e também afirma que a conquista é importante, pois os resíduos eram retirados da cidade com ajuda de um trator. O gestor diz que o veículo foi entregue por meio de Vanderlan. Quanto à denúncia de superfaturamento, Carlos Henrique disse que “cabe à Justiça avaliar”.EstatalEm nota divulgada em seu site, a Codevasf afirmou que o aumento do número de aquisições de caminhões de lixo é um avanço positivo e ressaltou que o objetivo da empresa é que “mais municípios e famílias tenham acesso ao serviço público básico de coleta de resíduos”. De acordo com a estatal, a variação de preços entre caminhões compactadores deve-se à diferença do período de cotação dos veículos para os pregões. Ainda segundo Codevasf, a empresa vencedora de licitação para venda de caminhões no Maranhão “não entregou qualquer item e não recebeu pagamentos, e responde processo de aplicação de penalidade”.