O coronel Benito Franco, da Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO), publicou um vídeo em que diz que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não tomará posse do cargo. Na publicação, o militar comenta notícias sobre as 48 seções em territórios indígenas em que Jair Bolsonaro (PL) não obteve nenhum voto. Sem estabelecer relação de causas entre as duas coisas, ele insinua na gravação que o presidente já diplomado não será empossado.Apoiador do atual presidente, Franco está há 25 anos na PM. Foi comandante do batalhão da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitana (Rotam) entre janeiro de 2019 e agosto de 2021. Sempre ativo nas redes sociais, ganhou notoriedade na época das buscas a Lázaro Barbosa, em junho de 2021.Em junho deste ano anunciou sua candidatura a deputado federal pelo PL. Após perder a disputa, manteve assiduidade de publicações, que variam entre apoio a Bolsonaro e a questionamentos sobre a vitória de Lula.O vídeo em que coloca em xeque a posse foi publicado na conta pessoal do Instagram do coronel na última terça-feira (13) e passou a repercutir em grupos de Whatsapp de apoiadores do presidente. Com o título “22 Bolsonaro não teve nenhum voto de nenhum índio no Brasil inteiro”, Franco comenta duas notícias, sendo uma do dia 3 novembro, da revista Carta Capital, e outra do dia 13 do mesmo mês, do jornal Folha de S. Paulo.“Vimos que o presidente aguentou esse tempo todo e você reclama que o presidente está em silêncio? Só o fato de ele não ter anunciado e reconhecido a vitória do ladrão (sic) já diz tudo e é o que você precisava saber. Então mantenha a calma. Ninguém tá brincando de bandeirinha na rua não. A coisa é complexa e demanda tempo e toda uma série…”, diz o coronel em trecho onde não termina a frase.Após tecer comentários sobre as notícias, questiona se “depois disso tudo”, os protestos pelo Brasil são exageros. “Pelos meus filhos, pelos seus filhos. Até pelos seus filhos, eleitores do Lula, que não se importa de obter as coisas licitamente, eu, coronel Benito Franco, da Polícia Militar de Goiás, ex-comandante do batalhão de Rotam, falo com todas as letras: o ladrão (sic) não sobe a rampa”, diz.BoatoA suposta vitória de Lula entre todos os indígenas, como indica o título da publicação, não é verídica e não chega a ser abordada no vídeo pelo coronel. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) inclusive já se manifestou sobre a unanimidade do petista em 143 seções - sendo 48 em territórios indígenas. Isso porque a informação foi repercutida no início de novembro como sendo uma prova de fraude nas eleições.Leia também:- Caminhonete de estatal de Goiás é multada por participar de bloqueios antidemocráticos- Atos antidemocráticos têm casos de violência e crimes em série de bolsonaristas- Carro do IF Goiano é queimado durante protestos em BrasíliaNa época, o TSE detalhou que Bolsonaro também foi unanimidade entre quatro seções. Para além disso, as seções em que o presidente eleito foi unanimidade representam apenas 0,03% das urnas de todo o País. Nessas seções, o petista obteve um total de 16.455 votos, o que corresponde a cerca de 0,77% da vantagem de Lula sobre Bolsonaro, que foi de mais de 2,1 milhões de votos no segundo turno.Notícias A primeira notícia comentada por Franco é do jornal Folha de S. Paulo e foi publicada no dia 13 de novembro. A matéria apontava que a votação em Roraima chamou atenção neste ano. Isso porque, apesar de o estado ser o menor colégio eleitoral, com 366 mil eleitores, foi o local em que Bolsonaro teve a maior vantagem, encerrando com 76% dos votos. O destaque para o coronel, porém, está no fato de Lula ter vencido em uma das 15 cidades roraimenses, em Uiramutã, município de maioria indigena do extremo norte do estado que tem cerca de 10 mil habitantes e deu 68% de votos para Lula. “Virou, né? A maioria da população é indigena (em Uiramutã). O Bolsonaro é odiado pelos índios. Em Roraima, vizinhos da Venezuela, conhecem quem são os sócios dessa (inaudível) que ganhou as eleições nas urnas. As urnas nunca foram tão exatas assim, olha o tanto que eles (indígenas) odeiam o Bolsonaro”, comenta Franco ao introduzir fotos de indígenas protestando a favor do atual presidente. A outra notícia, da revista Carta Capital, tratava sobre a possível razão para que Lula tivesse sido unanimidade em 48 seções indígenas no segundo turno. Para os especialistas consultados pela revista, tratou-se de uma resposta dos povos indígenas às políticas implementadas pelo governo Bolsonaro nos últimos quatro anos. O coronel, ao expor o fato de haver indígenas protestando contra a posse de Lula em Brasília atualmente, ironiza a suposta antipatia dessas comunidades ao atual presidente. “Você viu aqui, as comunicações não são nossas. Se ele (Bolsonaro) faz alguma coisa sem as comunicações, as pessoas são tão movidas a esse tipo de comunicação que acaba se virando contra ele. Estou citando um exemplo de um dos controles. Nós não estamos em guerra de canhões mais, estamos em guerra de comunicação. Então mantenha sua calma e confie no presidente”, diz Franco antes de finalizar insinuando que Lula não tomará posse. RespostasO POPULAR procurou o coronel para perguntar o que estaria por trás da expectativa de que Lula não tomará posse. Por mensagem, ele não respondeu no que estaria embasado. Enviou, no entanto, texto que destaca a importância dos veículos de comunicação. Confira a íntegra:“Um veículo de comunicação em massa tem, antes de tudo, e até do lucro, a responsabilidade social. Por responsabilidade social, leia-se, no caso, a cobertura do interesse coletivo que sobrepuja o individual. Logo, o que acrescento é que a “opinião” da massa, que pode ser adquirida na cobertura das manifestações, é muito mais de interesse social para nação, que a individual de alguém, pode ser qualquer um, do mais miserável mentalmente ao Presidente da República. Isso se chama democracia, a voz da maioria, o coletivo sobrepujando o individual”.A reportagem também solicitou o posicionamento da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP) e da PM-GO sobre as falas do membro de um das forças de segurança de Goiás. Até o fechamento desta reportagem, porém, não houve retorno à solicitação.