Campeão em número de reclamações por falta de água no Estado, o município de Anápolis renovou nesta quinta-feira o contrato com a Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago) por mais 30 anos, com a promessa de R$ 600 milhões em investimentos no período. O prefeito Roberto Naves (PP), que chegou a ameaçar a municipalização e a concessão dos serviços de água e esgoto para a iniciativa privada, fechou o acordo com o governo goiano em meio à definição de aliança para as eleições de outubro, quando ele disputará novo mandato.A renovação com Goiânia e Anápolis, primeiro e terceiro municípios mais populosos do Estado, era fundamental para o Estado para valorizar as ações da estatal no processo de preparação para a venda de 49% das ações. A assinatura do contrato com a capital, também por 30 anos, ocorreu em dezembro, com previsão de R$ 3,4 bilhões em investimentos e veto à privatização da empresa.No início deste mês, o governador Ronaldo Caiado (DEM) anunciou o adiamento por tempo indeterminado da oferta pública inicial de ações (IPO), acusando o governo federal de atuar para desvalorizar a empresa junto ao mercado. A equipe econômica do Planalto criticou o governador pelos ataques ao contrato de privatização da Celg e aos serviços prestados pela Enel.O prefeito de Anápolis afirma que o contrato de programa assinado ontem tem direitos e deveres da estatal estabelecidos de forma mais claras e possibilita imposição de penalidades em caso de falhas na prestação de serviço. “Antes ficávamos completamente reféns da empresa. Agora, se não cumprir o contrato, aplica-se multa e o contrato pode ser rescindido sem dificuldades. Não é mais apenas um contrato de concessão, mas um plano de metas, com cronograma de obras e orientado pelo Plano Municipal de Saneamento Básico”, afirma Roberto Naves.O contrato exige a aplicação de R$ 278 milhões em investimentos nos cinco primeiros anos.No evento de assinatura do contrato, no Parque da Cidade, em Anápolis, o presidente da Saneago, Ricardo Soavinski, disse que a ampliação do sistema vai atender Anápolis “por muitas décadas à frente”.Além das frequentes reclamações pelo desabastecimento de água, Anápolis tem 73% de redes de esgoto. A promessa da estatal é universalizar o sistema de saneamento.Em 22 de dezembro, O POPULAR mostrou que Anápolis registrou o maior número de reclamações contra a Saneago de janeiro a outubro do ano passado. No período de estiagem, 47 bairros tiveram que passar por racionamento, com escala de 12 horas de abastecimento e 24 horas sem.A cidade é abastecida por dois sistemas de captação: O Piancó, que retira água de dois ribeirões e de um rio, e abastece 84% de Anápolis. Em 2018, este sistema passou a receber água do Rio Capivari, mas ainda assim é considerado insuficiente. O outro sistema de captação é do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), que recebe água do Rio Caldas.De acordo com a assessoria da Saneago, alguns projetos previstos no volume de investimentos estão prontos e em fase de licitação, como a aquisição de uma Estação de Tratamento de Água Compacta, a perfuração de 20 poços, a interligação imediata de 17 poços, a instalação de novos reservatórios e melhorias nas captações do Capivari e do Piancó I e II, que vão ampliar a vazão captada.Na parte de esgotamento, a empresa afirma que fará obras de implantação do tratamento terciário na Estação de Tratamento de Esgoto e a construção de 385 km de redes coletoras, com previsão de conclusão para este ano. De acordo com a estatal, ainda este ano, mais 77 mil pessoas contarão com redes de esgoto.Em discurso com tom político, o governador voltou a dizer que a estatal não tem mais desvios, em referência a investigações que ocorreram nas gestões do PSDB, e disse que a empresa não vai decepcionar Anápolis, terra-natal do democrata.FundoAlém dos investimentos diretos, o contrato obriga a Saneago a repassar 4% do faturamento mensal para o Fundo Municipal de Meio Ambiente e Saneamento de Anápolis. O porcentual representa quase R$ 60 milhões ao longo de 30 anos.