Marianna Dias não interrompeu seu sotaque soteropolitano em nenhum momento, nem mesmo para atender às insistentes ligações em seu iPhone, enquanto dizia que o movimento estudantil secundarista ganhou força após as ocupações das escolas em 2016.Sentada numa banqueta no meio de uma sala bastante movimentada, a estudante de Pedagogia dizia que os estudantes brasileiros não deixaram de se organizar, nem de formar líderes. “Eles apenas ganharam menos publicidade nos últimos anos que nos momentos de crise, como a Era Collor.”Para ela, o País passou por momentos em que a democracia e os avanços em várias áreas criaram um clima de estabilidade no País “e, naquele período, o movimento estudantil conquistou muitas vitórias, como a aprovação das cotas e aplicação de 10% do PIB na Educação”. “Porém, fomos menos vistos naquela época que agora, na crise, em que existe um quadro tão devastador e preocupante”, disse.Aos 25 anos, Marianna foi eleita presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em junho deste ano e estava ali naquela quinta-feira como convidada para os debates do 42º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Conubes), ocorrido em Goiânia entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro.O congresso reuniu ao menos 7 mil estudantes, entre 13 e 30 anos, de todo o País em uma grande estrutura montada na Praça universitária para debater as políticas educacionais promovidas pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB), como a proposta da Escola Sem Partido, apelidada de Lei da Mordaça, e reforma do ensino médio, mas também para falar sobre o futuro político do País.ConsciênciaNa visão de muitos dos estudantes reunidos ali, o crescimento de organizações estudantis ocorre nesse momento de crise justamente porque é agora que muitos deles começam a tomar consciência do País.“Estamos cada vez mais tomando consciência de que o problema não está em nós, mas na sociedade que não forma um ambiente para que possamos nos desenvolver plenamente”, disse o mineiro Mikael Douglas, de 15 anos.Já Lucas Eduardo, de Santa Catarina, entende que a luta deve ser por unidade em busca de defender estudantes e os trabalhadores. “Precisamos da mesma sustentação que o governo tem. Assim, ele não promoverá reformas na educação, como fizeram com as modificações no ensino médio, sem antes nos consultar.”-Imagem (Image_1.1408550)