Apesar da expectativa apresentada pelo governador Ronaldo Caiado (UB) de que todos os deputados estaduais no exercício do mandato alcancem a reeleição no próximo ano, parlamentares aliados ao Palácio das Esmeraldas falam em “intensa disputa” e temem processo de “canibalismo eleitoral”. A preocupação reside nas divergências internas na composição de chapas para a corrida por vagas na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego).O cenário de autofagia entre caiadistas e apoiadores do vice-governador Daniel Vilela (MDB) deve ocorrer, segundo deputados ouvidos pela reportagem, por conta de dois principais fatores. O primeiro é matemático, baseado na redução do número de candidaturas por conta da composição de federações, como as já definidas entre União Brasil e PP (União Progressista) e PRD e Solidariedade (Renovação Solidária). Pela legislação eleitoral, as federações só podem lançar uma chapa proporcional com até 42 nomes, independente do número de partidos que a integram. O contexto intensifica o direcionamento de parlamentares para os chamados “chapões” organizados pela cúpula do governo, na federação União Progressista e no MDB, além da articulação do presidente da Alego, Bruno Peixoto (UB), para a composição com parlamentares na federação Renovação Solidária.O segundo fator é a profusão de pré-candidaturas com potencial de ampla votação dentro do grupo governista, o que aumenta os riscos de derrota para os deputados presentes nas chapas que devem centralizar os chamados “puxadores de voto”. A maior concorrência envolve o pleito de ex-prefeitos e ex-deputados estaduais com bases regionalizadas, além de auxiliares do primeiro e segundo escalões do governo estadual. Como antecipado pelo Giro, a insatisfação entre deputados da base com a formação de chapas proporcionais gerou cobranças, nos bastidores, por ajuda do Palácio. Nesta semana, a ansiedade foi levada por Gugu Nader (Agir) à tribuna da Alego.“Canibalismo eleitoral é o que pode acontecer aqui na Assembleia se não houver democracia na disputa. Eu venho avisando os deputados, porque muitos partidos estão montando chapas proibindo deputados. A eleição é democrática e todos têm direito de disputar”, discursou o deputado. “Aqueles que estão direcionados a disputar o governo e terão quatro ou cinco chapas precisam ter responsabilidade com essa Assembleia Legislativa. A conta é que, de cada cinco candidatos fortes, três sobrevivem e dois morrem”, afirmou Nader.Para ele, se os colegas não “abrirem o olho”, sofrerão derrotas no próximo ano para dar lugar na Casa a concorrentes internos à base. Ele cobra articulação para que sejam formadas chapas com maior distribuição dos parlamentares entre os partidos governistas, o que ampliaria as chances dos detentores de mandato.Outros governistas confirmam o cenário de disputa interna e a possibilidade de que integrantes da atual legislatura percam a próxima disputa. O líder do governo na Casa, Talles Barreto (UB), reforça que a solução para a construção das chapas depende de Caiado e Daniel. “Na minha visão, a responsabilidade disso é do governador Ronaldo e, em especial, do Daniel Vilela, que vai ser governador no momento, assim como das direções dos partidos para se organizarem. Essa preocupação é maior para eles discutirem qual é a melhor forma”, considera Barreto. O líder, no entanto, busca naturalizar a proposta dos “chapões” que devem centralizar as candidaturas à reeleição. “Eu acredito que é importante ter a chapa do União Brasil com o PP e a chapa do MDB. Com o governo bem avaliado, nós vamos ter condições de fazer uma chapa boa. Tem muita gente desesperada antes da hora”, afirmou ao POPULAR.Lineu Olímpio (MDB) procura naturalizar a disputa interna entre governistas e parlamentares. “Nós temos uma base consistente em termos de número de deputados que receberam uma votação significativa no pleito passado. Não tem outro caminho. Nós vamos ter que fazer um chapão e disputar dentro das vagas que estão disponíveis. Ir para um partido pequeno para formar essa chapa vai ser muito difícil”, afirmou. O emedebista define que a presença em um grupo com alta perspectiva de votação gera um número maior de vagas a serem ocupadas. “Tudo bem que pode ficar quatro, cinco, seis ou dez de fora. Isso é da disputa. Não tem jeito. Alguns que têm mandato acabam ficando de fora, como já aconteceu nas últimas eleições, porque outros vêm às vezes com uma estrutura melhor”, afirma.Já Lincoln Tejota (UB) analisa as principais configurações de chapas na base governista e defende a proposta de centralizar mandatários. “Tem partidos que não vão aceitar deputados e têm a proposta mágica de eleger dois ou três. Outros aceitam alguns determinados deputados que não assustem tanto o resto da chapa. O terceiro é o mais interessante e que tem mais sucesso, porque quem elege mais deputados são as chapas que reúnem mais pessoas com muitos votos”, diz.Issy Quinan (MDB) também aponta os chapões como a melhor alternativa, apesar do risco de “canibalismo” entre os parlamentares governistas. “Eu prefiro disputar a eleição em um cenário concorrido, com maior número de vagas, do que em um mais tímido, com menos vagas a serem ocupadas. O que nós temos que fazer é conta matemática para criar chapas consistentes, que tenham muito voto e aumente o número de vagas”, afirma.Com o aumento das apreensões, um grupo de deputados levou preocupações sobre a formação das chapas a Daniel Vilela, na última semana, e ouviram a confirmação da tendência de que MDB e a federação União Progressista receberão a filiação da maior parte dos deputados que integram a base. A meta, segundo aponta um parlamentar, é alcançar 1 milhão de votos em uma das chapas.