O PSDB de São Paulo entrou com representação na comissão das prévias do partido para que 32 filiados de outros Estados também não possam votar nas eleições que definirão o candidato da legenda ao Planalto. O pedido paulista se refere aos diretórios do Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais.A ação é uma reação à decisão da comissão para prévias do PSDB que, na segunda-feira (1º), determinou que nenhum dos 92 prefeitos e vices de São Paulo que estão no centro de acusação de suposta fraude do diretório paulista poderão participar do processo de seleção do candidato presidencial da sigla.A decisão foi tomada de forma unânime e é uma vitória do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, principal oponente do tucano na disputa. Foi o diretório gaúcho, juntamente com os de Minas Gerais, Bahia e Ceará, apoiadores de Leite, que protocolaram a denúncia. Ainda cabe recurso.“Apresentamos representação para a comissão de prévias do PSDB referente a 32 filiados do RS, BA e MG que tiveram seu registro no TSE no mês de outubro com data retroativa de março. A regra vale para todos”, escreveu no Twitter Marco Vinholi, secretário estadual de Desenvolvimento Regional e presidente do PSDB-SP.À reportagem, logo após o anúncio da comissão, Vinholi falou sobre as perspectivas da campanha para as prévias, marcadas para o próximo dia 21. Segundo ele, a decisão “impacta centenas em todo o Brasil, portanto em todas as campanhas tem reflexos, não alterando a condição eleitoral”.Vinholi, que é aliado de João Doria, afirmou que ainda não conversou com o governador sobre a decisão do partido.O diretório paulista também ressaltou que a decisão da comissão “não tem nenhuma relação com fraude ou irregularidade, e sim com a permissão de participação no processo eleitoral dos filiados”.A campanha de Doria afirma que ele segue na liderança consolidada e que a decisão da comissão “em nada muda esse cenário”.“Desde que questionada a participação desses filiados nas prévias, já não contabilizávamos tais votos. A mesma Comissão aponta que não houve irregularidades”, diz a nota, que em outro trecho “reafirma seu compromisso com eleições democráticas pelo voto dos tucanos”.Na quarta-feira (27), Doria acusou Leite de estar “chorando e reclamando” e havia descartado a hipótese de rever as filiações.“De forma alguma. Eleição não se ganha no grito, se ganha no voto. Vamos à votação.”As regras das prévias tucanas determinam que apenas filiados até 31 de maio deste ano podem participar da votação. Os apoiadores de Leite apontam que esses 92 políticos foram filiados posteriormente e registrados no sistema do partido com datas retroativas.A decisão da comissão das prévias foi comemorada pelo governador gaúcho.“Louvo a comissão provisória das prévias que agiu para manter o jogo eleitoral dentro das regras acordadas. E espero que, daqui pra frente, a disputa democrática pelo voto dos tucanos também mantenha o PSDB unido e forte”, disse Eduardo Leite, em nota.Correndo por fora na disputa, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, classificou o embate entre Leite e Doria como falta de maturidade, futrica e tempestade em copo d’água.“Me pareceu pouco maduro”, afirmou ao ser questionado sobre o episódio.“Acho que fizeram muita tempestade em copo d´água”, completou Virgílio, sentenciando: “De futrica em futrica, o PSDB vai perder sua chance”.O ex-prefeito de Manaus também reclamou da lisura do processo. Ele conta que sua assessoria foi procurada nesta segunda-feira por um deputado de Minas Gerais, reduto de Aécio Neves, que aconselhou sua campanha a não perder tempo buscando votos no Estado, pois lá o diretório estava fechado com Leite.“Fica criando uma imagem do governador Eduardo Leite, que não tem nada a ver com isso, que é ruim. De um caudilho gaúcho”, afirmou.“De mesquinharia em mesquinharia, a gente destrói o partido”, disse ainda, defendendo que as prévias devem servir para unir o partido e não para destruí-lo.Guerra interna A filiação dos prefeitos e vices é o último capítulo da guerra interna do partido. A disputa no PSDB já levou aliados de Doria até a levantarem desconfiança até sobre o sistema de votação do pleito, que acontecerá de forma eletrônica, por meio de um aplicativo.Nos bastidores, pessoas próximas ao governador paulista diziam nas últimas semanas que o formato não é confiável e pode haver manipulação. Sugeriram como alternativa voltar à maneira antiga, com uso de cédulas.Publicações de prefeitos em redes sociais reforçaram as suspeitas sobre as datas de filiação ao PSDB devido às menções de datas posteriores às informadas à Justiça Eleitoral. Além disso, um dos mandatários afirmou à reportagem ter assinado a ficha de filiação somente no dia 22 de outubro.No sistema da Justiça Eleitoral, que é preenchido pelo próprio PSDB paulista, as datas de filiação desse grupo de 92 nomes aparecem entre os meses de março e maio, mas as datas de registro, ou seja, as datas em que o partido lançou as filiações no sistema, estão entre agosto e setembro.É comum, no entanto, que os partidos não registrem no sistema as filiações na data exata em que acontecem. É isso que argumenta o PSDB paulista, afirmando que a data de registro não deve ser levada em consideração.Na opinião de articuladores políticos de Leite, porém, o fato de o PSDB paulista não ter registrado as filiações até 31 de maio, tendo conhecimento das regras das prévias, evidencia que tais filiações não existiam à época.