Apesar do interesse manifestado pelo governador Ronaldo Caiado (DEM) de apoio do União Brasil (futuro partido resultado da fusão DEM-PSL) ao nome do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos), o pré-candidato à Presidência da República é comedido ao falar das possíveis alianças para 2022. “Eu conheci o governador Caiado, gosto dele pessoalmente, é muito simpático. Temos conversado com vários partidos e agentes políticos. Mas é muito cedo para falar dessas alianças, é prematuro”, afirmou em entrevista ao Papo Político, na CBN Goiânia, nesta terça-feira (14).Distante do presidente Jair Bolsonaro, com quem teve divergências desde o início da pandemia do coronavírus no ano passado, o governador tem defendido na cúpula do União Brasil - que descartou a pré-candidatura do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta - o apoio a Moro. No último sábado, Caiado também evitou falar abertamente sobre a aliança com o ex-juiz e disse que não é momento de definir palanque presidencial, mas ele articula a alternativa junto ao seu partido.Diante dos acenos de Caiado, o deputado federal José Nelto, presidente do Podemos em Goiás, disse que marcaria encontro entre Moro e o governador goiano em Brasília para discutir a possibilidade de apoio. Questionado sobre o possível encontro, Moro citou conversas com João Doria (governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência da República), ACM Neto (presidente do DEM nacional), Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul, derrotado nas prévias do PSDB) e o próprio Caiado, e completou que as alianças serão definidas com limites éticos. “Embora a gente converse com todo mundo, a gente tem princípios, valores e limites que vamos observar. Não podemos transgredir a moral, a ética, para ganhar uma eleição ou depois para governar. Quem fez isso no passado não deu certo. O PT, com todos aqueles escândalos de corrupção, acabou com recessão, desemprego, fome em 2014 e 2016. O governo atual, que fez muita coisa errada também, está nos entregando uma recessão. O País dificilmente vai crescer em 2022”, disse.Filiado ao Podemos há pouco mais de um mês de olho na disputa ao Palácio do Planalto, o ex-ministro tem apresentado bandeiras semelhantes às de Bolsonaro nas eleições de 2018, como combate à corrupção, economia liberal, proximidade com militares e evangélicos, valores cristãos e defesa da família. “Não, não, não, peraí, eu sou muito diferente tanto do Bolsonaro quanto do Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva). A gente até tem visto os dois hoje muito parecidos”, afirmou, ao ser questionado se é representante do bolsonarismo sem Bolsonaro.Ele afirma que o atual presidente “sabotou” o combate à corrupção e faz críticas à Operação Lava Jato, “assim como Lula faz”. “Ambos são contra o combate à corrupção. Um teve no governo um dos maiores escândalos de corrupção da história e o presidente atual desmantelou o combate à corrupção. Respeito muito a Polícia Federal, mas hoje ela não é a mesma Polícia Federal da Lava Jato. O combate à corrupção praticamente está estancado. Nossa proposta é totalmente diferente”, disse.Moro disse que tem projetos para superar os problemas da economia, inflação, alta do combustível, pobreza e que terá “políticas firmes e sérias nas áreas da saúde e educação”, mas não detalhou as propostas. “Primeiro precisamos estabilizar a economia, controlar a inflação, que é o meio para reduzir juros e, com isso, consegue retomar investimento e aí o emprego começa a crescer e a renda passa a aumentar”, afirmou.Segundo ele, o País precisa de um plano para superar o período de aulas remotas e isso é responsabilidade do governo federal. “Não adianta ficar colocando a culpa nos outros, ficar falando mal dos governadores. A gente precisa de uma liderança que consiga unir o País.”Ele reafirmou o projeto de criar uma força tarefa nacional para erradicação da pobreza, com a criação de uma agência.Em frente BrasilQuestionado sobre o fracasso do programa Em Frente Brasil, lançado pelo Ministério da Justiça na sua gestão e que teve Goiânia como uma das cinco cidades-pilotos, o ex-juiz admite que não houve “resultados expressivos”, mas afirmou que se tratava apenas de um “laboratório”. O POPULAR mostrou em maio que o programa, que prometia redução drástica de crimes, não teve efeito na queda de homicídios na capital goiana. Em 2020, a diminuição de homicídios foi de apenas 11,61% e no ano anterior, de 34%.“Era um programa experimental. O crime na verdade caiu no Brasil inteiro em 2019. Com o Em Frente Brasil experimentamos uma coordenação maior entre governos federal, estadual e municipal. Em alguns lugares funcionou muito bem, como Ananindeua (PA). Em Goiânia teve bons resultados iniciais, mas não foram assim tão expressivos, mas no fundo este programa era um grande laboratório pra ver o que estava dando certo e o que não estava funcionando muito bem, para fazer as correções de rumo”, disse, para completar: “Mas infelizmente, eu tive de sair do governo em abril de 2020 porque eu não poderia ser cúmplice de sabotagem no combate à corrupção”.O ministro também falou da proposta que fez, enquanto ministro, de excludente de ilicitude para mortes provocadas por policiais. A CBN Goiânia citou sucessivos casos de excessos em ações da Polícia Militar em Goiás e a falta de transparência na divulgação de dados, questionando se a ideia não poderia incentivar mais violência. “Eu nunca fui desse discurso de bang bang na Segurança Pública. Nunca compactuei, nunca defendi a violência policial, de forma alguma. Se um policial comete um crime, ele tem de responder por ele. Agora, não se pode generalizar. Quase a totalidade dos policiais está lá, cumprindo a lei, fazendo um trabalho difícil. Quando acontecem esses incidentes, temos de apurar e se for o caso, a pessoa tem de ser punida”, disse o ex-ministro.Segundo ele, a proposta não representava “licença para matar” e era cópia de artigo do Código Penal alemão, com limitações. “O Congresso entendeu de não aprovar e a gente não insistiu. A gente não pretende insistir em algo que o Congresso não quis aprovar. Mas estava longe de ser algo que estimulasse a violência policial.”Sobre o recuo nas declarações de que não disputaria mandato eletivo - feitas enquanto era juiz e também no Ministério -, o ex-ministro disse que ouviu apelos para que não abandonasse o Brasil, que quer romper a polarização entre Lula e Bolsonaro e que “2022 precisa ser período de esperança”. “Todo mundo falava de 2022 com desalento, desapontamento. Parecia que estávamos indo não para uma eleição, mas para um funeral, e muita gente me dizia para colocar o nome à disposição. Pensei: eu tenho de dar uma chance. Se meu nome pode romper essa polarização, então eu tenho o dever de tentar.”O ministro comentou ainda as acusações de traição feitas por apoiadores do presidente Bolsonaro. Segundo ele, as críticas serão respondidas com “a verdade”. “Prefiro ser alvo de ataques do grupo dele, mas não quis ser cúmplice de coisa errada. As pessoas sabem a verdade. É só sair e falar a verdade.”Ele afirmou não acreditar em alta rejeição a seu nome nas pesquisas de intenção de voto para 2022 porque há variações e metodologias distintas. “Minha preocupação é fazer um projeto para o País, que seja consistente do ponto de vista técnico. Chamamos um dos maiores economistas do País, (Affonso Celso) Pastore, que coordena um grupo de elite para construir este programa. Nós vamos rodar o País apresentando este programa, colhendo críticas e obtendo sugestões.”