Os servidores da educação de Goiânia deflagraram greve na rede municipal, nesta terça-feira (15), por tempo indeterminado. A decisão foi tomada em assembleia realizada no Centro Popular de Abastecimento e Lazer (Cepal) do Setor Sul. As negociações com a Prefeitura quanto ao piso e à data-base não avançaram e a categoria iniciou a paralisação ainda com divergências internas entre sindicatos.A categoria quer o pagamento imediato da data-base referente a 2020 e 2021, cujo porcentual anunciado pela Prefeitura é de 9,32%, a discussão de um plano de carreira para os servidores administrativos, a inclusão da data-base de 2022 no projeto de lei que será enviado à Câmara Municipal de Goiânia e o pagamento do piso dos professores no porcentual de 33,24%, de acordo com o que foi anunciado pelo governo federal.O indicativo de greve foi aprovado no dia 4 de março, quando a categoria não aceitou a proposta da Prefeitura de pagar 7,5% de ajuste para os professores e 9,32% de data-base para os servidores administrativos.Na quinta-feira (10), a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, informou que o secretário municipal de Educação, Wellington Bessa, havia proposto pagar, então, 9,32% de ajuste do piso dos professores, igualando, assim, ao índice da data-base. A proposta também foi rejeitada e, no dia, os servidores aprovaram um estado de greve, na expectativa de que houvesse avanço nas negociações até esta terça.Bia iniciou a assembleia de ontem, porém, informando que não havia tido avanço e que o secretário, em outros momentos, até sugeriu dar um ajuste aos professores de 10,16%, de acordo com a inflação de 2021, mas isso também foi rejeitado pela categoria. A líder sindical contou que ainda propôs à Prefeitura o pagamento parcelado dos 33,24%, mas o Paço Municipal negou.Diante desse impasse, chegou-se à deflagração da greve. “O Sintego não vai ficar debatendo se a Prefeitura tem ou não dinheiro. Não foi apresentada nenhuma outra proposta e, assim, o Sintego traz hoje a proposta de greve”, afirmou Bia durante a assembleia.Também foi incluído na pauta da greve a cobrança para que a Prefeitura cumpra as obrigações com os fornecedores do Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia (Imas).A líder sindical afirma que o trabalho de informar a sociedade escolar quanto ao início da greve nesta terça tem sido feito desde a última quinta-feira (10).O próximo passo é a adesão à mobilização nacional, que tem manifestação marcada para esta quarta-feira (16). Em Goiânia, os servidores vão fazer protestos em frente ao Paço Municipal e à Assembleia Legislativa de Goiás, a partir das 14 horas.Na sexta-feira (18), haverá atividade em frente ao Ministério Público de Goiás (MP-GO), para cobrar uma intervenção jurídica. Os administrativos, em paralelo, discutem a criação de um plano de carreira por uma data-base maior.DivisãoO presidente do Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (Simsed), Antônio Gonçalves, também falou durante a assembleia. Ele refutou a narrativa de que a entidade, comandada por ele, divide a categoria. “O Simsed não dividiu, nós é que puxamos a luta”.O Simsed surgiu de um rompimento com o sindicato presidido por Bia e tenta ganhar legitimidade para representar a categoria, porém ainda enfrenta disputas com o Sintego, que é quem tem autorização para dialogar com a Prefeitura em nome dos servidores municipais da educação.A assembleia desta terça, inclusive, foi a primeira de 2022 em que ambas as entidades estavam presentes e foi marcada por tensão no chão e nos discursos do carro de som.Ao lado de Bia, no carro de som, Antônio propôs a criação de uma comissão de greve, que tivesse, entre os integrantes, dois membros do Simsed, representantes dos administrativos e dos auxiliares.No entanto, a direção do Sintego colocou para votação a criação da comissão com representantes das categorias, sem chegar a deliberar quem serão os nomes que farão a composição. Isso gerou revolta por parte dos servidores ligados ao Simsed.Ao POPULAR, Bia explicou que o Sintego entende que o papel de formar a comissão é das entidades oficiais. “Nós vamos ter representação do Conselho de Diretores de Cmeis, Ceis e Escolas da Rede Municipal de Goiânia (Condir), dos professores da base e dos administrativos”, disse.Para ela, a divisão sindical, apesar do interesse comum pela greve e pelas mesmas pautas, não enfraquece o movimento. “A nossa luta é maior que qualquer outro interesse.”Antônio considera que esse embate se trata de uma luta política, “que é fundamental dentro de qualquer categoria”. “A unidade só vem com a luta e hoje o Simsed estava aqui para mostrar que não está dividindo a categoria, porém a proposta de formação de uma comissão foi manipulada pelo Sintego”, disse.Secretário diz que Prefeitura já cumpre o pisoA Prefeitura de Goiânia, em resposta à greve, diz que o piso nacional já é cumprido na capital. O argumento, no entanto, é refutado pelas entidades representativas dos professores da educação municipal.A fala de que a categoria já recebe o salário determinado pelo governo federal foi reforçada, nesta terça-feira (15), pelo secretário municipal de Educação, Wellington Bessa.Em nota enviada à imprensa, assim que a greve foi declarada, a pasta diz que os 33,24% seriam pagos apenas aos professores em início de carreira. “Para os demais professores, que já recebem acima do piso, o aumento salarial proposto é de 7,5%”, diz o texto.Bessa disse, ainda, que havia uma interpretação equivocada por parte dos sindicatos quanto à atualização do piso.De acordo com o titular da pasta, atualmente, a média salarial de um professor do município, com todos os benefícios da categoria, é de R$ 6.083,11. “Com o aumento proposto, entendemos que será respeitado o piso nacional dos professores no município de Goiânia.”Segundo ele, não é possível dar reajuste de 33,24% para todos os professores porque do orçamento de R$ 1,5 bilhão para a educação, R$ 1,073 bilhão foi gasto com folha de pagamento.De acordo com o secretário, a reivindicação implicaria o comprometimento de 59% da receita municipal, ultrapassando assim o limite prudencial de 54%.O Sintego, porém, afirma que a lei é para que o ajuste seja dado a todos os professores, não só àqueles em início de carreira. “A rede municipal decretou greve por tempo indeterminado para que a Prefeitura possa cumprir a lei que confere o porcentual do reajuste do Piso anunciado pelo MEC (33,24%), não apenas para quem ganha abaixo do piso”, diz nota do sindicato.O Movimento da Educação no Legislativo (MEL) também rebateu. “Piso é reajuste que deve ser aplicado no valor do vencimento e não no total do salário conquistado a partir de estudo, aperfeiçoamento e muito trabalho.”O MEL também refuta a informação da SME de que a média salarial é de R$ 6 mil. “Esse salário se refere a servidores que possuem dobras e um extenso plano de carreira”, diz nota.NegociaçãoO secretário também afirmou que a divisão entre os sindicatos atrapalhou o avanço das negociações. “Quem perde com isso é a comunidade, nossos estudantes. Fatalmente, a greve vai trazer transtornos para a educação na rede municipal de ensino. Goiânia não saiu, em momento algum, da mesa de negociação. Nos surpreende até mesmo a deflagração da greve durante as negociações, após apenas duas assembleias”, disse.