A missão do governador Ronaldo Caiado de viabilizar a pré-candidatura à Presidência da República ganhou novos empecilhos nesta semana, segundo integrantes da base aliada ao Palácio das Esmeraldas. Deputados federais do União Brasil e auxiliares próximos avaliam que, internamente, o avanço da ideia de federação entre a sigla e o Progressistas (PP) pode inviabilizar o projeto. Já externamente, apontam a ausência de um cabo eleitoral relevante no cenário nacional, depois da saída de cena do cantor sertanejo Gusttavo Lima.O já conhecido cenário de desconhecimento, baixa intenção de votos e busca por apresentação dos resultados da gestão estadual para o resto do país se somou, nos últimos dias, à redução dos apoios junto a deputados federais e senadores do partido, além da cúpula da sigla, que têm acumulado posicionamentos favoráveis à união com o PP. Apesar de considerar o acerto “um tiro na cabeça” da legenda, o governador goiano não tem encontrado brecha para articular contra a composição.“A federação é ruim para o Caiado, mas as bancadas, tanto do PP quanto do União Brasil, são favoráveis. Só tem problema em cinco estados e hoje a tendência é passar. Se eu for pensar em mim, eu tenho que ser favorável à federação, mas, como eu tenho um compromisso com o governador Ronaldo Caiado, e não sou de trair, vou votar conforme o que ele me pedir”, avalia o deputado federal José Nelto (UB) ao POPULAR.O parlamentar confirma que a nova composição partidária reduziria as chances de apoio das duas siglas ao projeto próprio de Caiado. “Claro que inviabilizaria, porque esse grupo quer apoiar o Tarcísio de Freitas e está focado, principalmente porque a candidatura de Jair Bolsonaro ficou ainda mais improvável, depois do filho dele ter saído do país. O Tarcísio é a bola da vez”, completa Nelto.Já Zacharias Calil (UB) aponta que o presidente nacional do UB, Antônio Rueda, se dedicará na próxima semana a encontros com todas as bancadas estaduais para fechar posicionamento sobre o assunto. “Sem dúvida, a federação dificulta a candidatura do governador à presidência. Agora, ele pontuando na pesquisa, nós nem discutiríamos isso. A voz geral em Brasília é que ele tem que viabilizar a candidatura dele. Se tiver acima de dois dígitos, está viabilizado”, aponta o parlamentar.“Ninguém é contra o Caiado, muito pelo contrário, mas deram uma missão para ele viabilizar”, diz.Na prática, apesar das articulações do governador, apenas Silvye Alves (UB), entre os quatro parlamentares goianos que pertencem aos dois partidos, garante ter posição contrária à federação. Como antecipado pelo POPULAR, o único pepista, Adriano do Baldy, votou favorável ao acerto em reunião do partido na última terça-feira. O presidente do PP goiano, Alexandre Baldy, disse que ele e Adriano se posicionaram inicialmente de forma contrária, mas foram “convencidos” na reunião de que a federação é um caminho “espetacular”.Nos bastidores, a avaliação de aliados ouvidos pela reportagem é de que a composição já estaria avançada, tanto que Caiado sequer se mobilizou para reuniões junto à cúpula nacional do partido, além da presença no encontro da bancada, na terça-feira (18).As conversas de Antônio Rueda com as bancadas estaduais, na próxima semana, são tratadas como protocolares, já que a maior parte dos parlamentares já teria se posicionado favorável, de olho na formação da maior bancada na Câmara, com 109 deputados, sendo 59 do UB e 50 do PP. O crescimento fortaleceria os projetos de reeleição no Legislativo.Outro entrave a um possível trabalho contra a federação é que lideranças tidas como fundamentais na articulação e que já se posicionaram a favor da união, estarão ausentes na próxima semana, quando Rueda deverá dar resposta ao presidente nacional do PP, Ciro Nogueira. O convite a Dr. Luizinho (RJ), atual líder do PP, e Pedro Lucas (MA), líder do União Brasil, para viagem oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), integra estratégia do Planalto de aproximação com as siglas. O ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, também foi convidado.A eventual federação entre as legendas nasceria com divisão interna entre apoio a possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com consequente entrega de cargos no governo petista, ou o reforço à posição na base aliada, que é entendido como mais improvável. Neste cenário, o pleito de Caiado ficaria preterido.LançamentoA conclusão das articulações para a federação, que inviabilizaria o projeto do governador, e o trabalho contra o desconhecimento nacional deverão ter um momento decisivo no dia 4 de abril, quando o goiano receberá o título de cidadão baiano, em Salvador, e lançará a pré-candidatura à presidência.O secretário-geral de governo, Adriano da Rocha Lima, aponta que o contexto de maior dificuldade para viabilização não altera o planejamento. “Não muda nada. Essas movimentações já eram esperadas. Nada que mude a essência do evento”, avalia. O auxiliar de Caiado avalia que “ainda tem muita água para passar” em relação à federação com o PP e o processo poderá esbarrar “nas tantas divergências internas nos estados”.O secretário de Articulação Institucional, Armando Vergílio, avalia que “o cenário para o lançamento da pré-candidatura é o mesmo: excelente”. Segundo ele, as expectativas e perspectivas são “ótimas” e são esperadas 6 mil pessoas, sendo que 4 mil virão de Goiás, segundo o auxiliar.Apesar do otimismo, o lançamento de Caiado não deverá contar com figuras importantes, como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB), e o líder do partido no Senado, senador Efraim Filho. O ex-líder da sigla na Câmara, Elmar Nascimento, afirmou nesta semana a um colega goiano que, se o evento fosse apenas a entrega do título de cidadão baiano, iria, mas não para o lançamento de candidatura.