Empresas com sede em Goiás e um empresário de Itumbiara são alvos da determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para que tenham as contas bloqueadas pelo Banco Central. O magistrado listou 43 pessoas físicas e jurídicas que são investigadas por liderar e financiar os bloqueios nas estradas, em atos antidemocráticos, realizados depois do resultado da eleição para presidente da República.O médico Cairo Garcia Pereira é um dos citados. Embora tenha atuação em Itumbiara, no Sul goiano, ele também é empresário em Mato Grosso, estado de onde são a maioria dos investigados.Em Goiás, Pereira é sócio da Famóveis Fábrica e Comércio de Móveis, que é um comércio varejista especializado em eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo. O prefeito da cidade, Dione Araújo (UB), é sócio da empresa junto com ele. Araújo inclusive usa Famóveis em seu nome político.Ao POPULAR, o prefeito diz que qualquer participação de Cairo nos atos é “como pessoa física”. Araújo afirma que inclusive é contra as manifestações antidemocráticas. “Eu o aconselhei muito. Eu defendi, votei e pedi voto para (o presidente Jair) Bolsonaro. Mas teve a eleição, Lula ganhou e virou a página, ponto final”, opina.Leia também:- MP pede à PF que investigue empresário goiano por incitação das Forças Armadas- Polícia Civil aponta empresários e políticos como líderes de bloqueios- Polícia identifica site que organiza e pede recursos para atos antidemocráticosO prefeito acrescenta que é contrário “a qualquer tipo de manifestação no sentido de não respeitar o resultado”. Araújo também diz que a Famóveis não teve qualquer envolvimento com os atos que são alvos de investigação. Cairo, porém, diz que ainda não foi notificado e não quis comentar a decisão do ministro.De Mato Grosso, a P A Rezende e Cia é outra investigada que também tem sede em Goiás, no município de Itaberaí. Os sócios, Pedro Alberto Rezende e Adriana de Jesus Cavalcante Rezende, não foram encontrados. Ao ligar na empresa, a reportagem recebeu a orientação de enviar um e-mail, que não foi respondido até o fechamento desta edição.O Banco Rodobens, que é de São Paulo, mas também tem sede em Goiânia, é outro na lista dos que tiveram as contas bloqueadas por decisão do ministro. Ao entrar no site da empresa, a primeira página que aparece é de uma nota de esclarecimento, relacionada à decisão.“Ainda sem acesso aos autos para as devidas confirmações, mas já antecipando uma análise interna, identificamos que supostamente, dentre os caminhões, encontravam-se clientes com financiamentos na modalidade de leasing operacional, onde a propriedade é do Banco e o cliente arrendatário tem a posse direta do caminhão e pode optar, ao final do contrato, pela aquisição do bem, ou seja, não são bens de uso do Banco Rodobens”, alega a empresa.Na nota, a Rodobens ainda acrescenta que não teve participação nos atos descritos na decisão e nem autorizou qualquer pessoa ou instituição a fazê-lo em seu nome.DecisãoA determinação do bloqueio das contas foi feita por Moraes no sábado (12). No documento, o ministro afirma que houve abuso do direito de reunião. “Direcionado ilícita e criminosamente para propagar o descumprimento e o desrespeito ao resultado do pleito eleitoral para presidente e vice-presidente da República, cujo resultado foi proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral em 30/10/2022”, escreve.Moraes chama a atenção para o fato de que os grupos que têm organizado esses atos estavam mobilizando pessoas para irem a Brasília: “Para ilícita reunião nos arredores do Quartel General do Exército, com fins de rompimento da ordem constitucional – inclusive com pedido de “intervenção federal”, mediante interpretação absurda do artigo 142 da Constituição Federal”.O ministro argumenta que essa incitação pode configurar crime de abolição violenta do estado democrático de direito, previsto no Código Penal. Ele lembra que determinou às forças policiais que desobstruíssem as rodovias e que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou a atuação de empresários no financiamento dos atos.“Com fornecimento de estrutura completa para manutenção do abuso do direito de reunião, além do fornecimento de diversos caminhões para o reforço da manifestação criminosa”, descreve Moraes.O ministro explica que o bloqueio das contas dos investigados é necessário “diante da possibilidade de utilização de recursos para o financiamento de atos ilícitos e antidemocráticos com o objetivo de interromper a lesão ou a ameaça a direito”.Por fim, determinou que a Polícia Federal colha depoimentos dos 43 citados em até 10 dias, ou seja, até terça-feira (22), e indique as diligências necessárias.