O Governo de Goiás negocia um aumento na fatia que lhe cabe no custeio do subsídio do sistema metropolitano de transportes coletivos de Goiânia. O assunto ainda está sendo discutido pela Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos (CDTC), que já teve duas reuniões em que o tema foi tratado e um novo encontro deve ocorrer na segunda-feira (22). O aumento do valor pago pelo Estado faria com que o porcentual sob sua responsabilidade chegue a cerca de 46%. Desde 2022, governo e Goiânia pagam o mesmo valor no subsídio, com 41,18%. A negociação tem relação com o custeio do Passe Livre Estudantil (PLE), em que o Estado assumiria todo esse custo.Titular da Secretaria Geral de Governo (SGG) e presidente da CDTC, Adriano da Rocha Lima confirma que é interesse do Estado aumentar a fatia do subsídio sob sua responsabilidade como uma garantia para manter a sustentabilidade econômico-financeira do sistema metropolitano. “O Estado deve assumir, mas com o compromisso dos municípios de estar em dia e pagar o que deveria ser, é como forma de garantia de manter o sistema”, diz. Segundo ele, Aparecida de Goiânia, Goiânia e Senador Canedo confirmaram que vão manter o pagamento do subsídio, enquanto que Goianira e Trindade colocaram como um compromisso.Até então, os dois municípios citados por último ainda não pagaram qualquer valor devido ao sistema. Em abril, receberam uma cobrança extrajudicial do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Goiânia (SET) alertando sobre a falta dos recursos e a possibilidade de perder recursos tarifários do sistema, como o Meia-Tarifa, Bilhete Único e até mesmo o valor da tarifa pública, que é o pago pelos usuários (R$ 4,30). Nesta semana, a CDTC aprovou uma deliberação para cobrar formalmente os dois municípios pela dívida que chega a R$ 44 milhões. As prefeituras têm 15 dias para solucionar a questão.A mudança na divisão do subsídio, porém, não está condicionada ao pagamento da dívida dos municípios, mas a um compromisso para as parcelas dos próximos meses. A estimativa da CDTC é que com o Estado aumentando a fatia em 5%, a redução de Goiânia seja em torno de 3%, enquanto Aparecida passe a pagar 1% a menos, Canedo 0,5%, Trindade 0,3% e Goianira 0,2%. Goiânia e Aparecida, no começo deste ano, assumiram uma dívida de parcelas deixadas pela gestão anterior nas prefeituras e negociaram o pagamento junto ao consórcio das concessionárias (RedeMob), ao mesmo tempo de garantir os recursos para a quitação das parcelas deste ano.Segundo Rocha Lima, outro compromisso firmado na CDTC para o próximo ano, é a manutenção no mesmo patamar de preço da tarifa técnica, que é a soma do valor pago pelo subsídio e os usuários, que hoje está em R$ 12,51. “Vai ficar sempre em torno de 12 e pouco, entre 12 e 13, não chegar a 13 e não reduzir de 12”, afirma o secretário, mesmo com o reajuste previsto para ser dado a partir de março, sendo esse dentro do cálculo que deve ser feito anualmente, pelo contrato com as concessionárias. Havia uma previsão de que, em março de 2026, a tarifa reduzisse 8,19%, o que faria chegar a R$ 11,48%, em razão do término das obras de reforma das 19 plataformas e dos seis terminais do Eixo Leste-Oeste (Anhanguera).Nesta quarta-feira (17), a Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC), com a presença do governador Ronaldo Caiado (UB) e de prefeitos de cidades da região metropolitana, inaugurou a reforma do Terminal do Dergo. Está prevista para esta sexta-feira (19) a inauguração do Terminal de Senador Canedo. Já foram finalizados os terminais do Novo Mundo, em janeiro, e da Praça da Bíblia, em setembro. Devem ser entregues até meados de janeiro os terminais Padre Pelágio e Praça A, finalizando a etapa de obras estruturais previstas pelo projeto da Nova RMTC, iniciado em 2022, quando foi instituído o subsídio no sistema.Em relação ao cálculo tarifário para 2026, porém, não constava o reajuste anual que ainda vai ser calculado, com os índices inflacionários, aumentos salariais dos servidores e depreciação da frota, além da demanda do sistema, o que ainda não foi definido. Ou seja, a intenção é que, mesmo com o reajuste e a redução pelo fim das obras, o valor da tarifa técnica não seja muito diferente do que ocorre atualmente. Isso fará com que o custeio do subsídio por cada prefeitura seja menor, assim que for fechado o acordo referente ao PLE, que seria pago todo pelo Estado. Essa mudança, ainda assim, não altera o sistema de governança da RMTC, ou seja, a composição da CDTC.Nova EtapaRocha Lima entende que, com a finalização das obras, o sistema metropolitano vai começar o ano de 2026 em uma nova etapa, em que será o momento de verificar os ganhos com a nova estrutura, já que houve ainda a reforma dos pontos de embarque e desembarque e também a renovação da frota. “Vamos ter, praticamente, toda uma nova frota no Eixo Anhanguera com os ônibus que vamos entregar em janeiro. Vai ser entregue o maior ônibus 100% elétrico biarticulado do mundo, para o Eixo Anhanguera também, além de 500 veículos a biometano, que é uma nova tecnologia com impacto ambiental muito menor, 80% a menos do que os elétricos”, afirma.A CDTC também permitiu a contratação de uma empresa especialista em consultoria para a inscrição em programas de crédito de carbono. A proposta é que a RMTC possa obter recursos no mercado de venda de créditos de carbono com a renovação da frota de ônibus a diesel e a troca por veículos elétricos e, agora, a biometano. “Se der certo, poderia reduzir ainda mais o valor do subsídio”, entende Rocha Lima. Com isso, em 2026, há a intenção da RMTC em focar no atendimento ao usuário, como em relação à implantação do Novo Plano Operacional (NPO), que foi realizado no começo deste ano e ainda não pode ser totalmente implementado no sistema. O argumento foi justamente pela falta de adimplência das prefeituras metropolitanas em relação ao subsídio. Entre as determinações do NPO está, por exemplo, uma lotação máxima de 5 usuários por metro quadrado (m²). O presidente da CDTC afirma que esse número já chegou próximo a 9 pessoas por m² nos ônibus. “Já melhoramos bastante esse índice, mas devemos chegar a 5 no próximo ano”, diz. O NPO, porém, está em processo de atualização desde que a Prefeitura de Goiânia implementou o sistema de metronização em parte dos corredores BRT (Norte-Sul e Leste-Oeste), o que modifica o tempo gasto no trajeto, já que a promessa é que ele seja implantado em todo o trecho e ainda em outros corredores. Em Aparecida de Goiânia, o mesmo sistema deve ser instalado.ServiçoA reunião da CDTC na segunda-feira (15) também deliberou pelo início do funcionamento, ainda como projeto experimental, do sistema de aluguel de bicicletas elétricas, o chamado CityBike, que chegou a ser divulgado em junho deste ano, mas foi adiado em razão de problemas com o fornecedor dos veículos. A previsão é que as bicicletas fiquem disponíveis aos usuários ainda no primeiro trimestre de 2026, a princípio no Terminal Recanto do Bosque. A ideia é que os usuários possam utilizar o serviço integrado ao transporte coletivo, para o cumprimento do terço final ou inicial das viagens diárias.Neste caso, o usuário vai poder chegar ao terminal e pegar a bicicleta para ir até a casa, onde ela poderá ficar durante toda a noite sem adicional no valor pago, retornando ao terminal no dia seguinte, quando o usuário voltará a se deslocar ao local para ir ao trabalho, escola ou qualquer outro compromisso. “Os detalhes ainda estão sendo definidos, vai ser uma operação ainda em teste, ainda em fase experimental, mas é para ocorrer já no começo deste ano”, garante o presidente da CDTC. Neste período, Aparecida de Goiânia também deve ganhar ao menos duas linhas em que o usuário vai pagar R$ 2,15 por passagem, com a inclusão do benefício de Meia-Tarifa. As linhas, porém, ainda não foram divulgadas.“Os três itens principais de reclamação dos usuários, que eram os ônibus, os terminais e os pontos, estão sendo resolvidos. A entrega dos ônibus está sendo gradativa, até para não onerar tanto na tarifa técnica. Fizemos um esforço grande para colocar o sistema em um patamar de qualidade. Agora entra um trabalho de refinamento. A partir de agora, não são mais intervenções gigantescas, são mais pontuais, com o uso de tecnologia. Nós estávamos submersos nos problemas de estrutura, que são mais complicados, agora não”, explica Rocha Lima. Ele reforça que a quantidade de usuários no sistema está em uma crescente desde 2024, com a previsão de que a demanda aumente devido aos investimentos mais recentes. “Não sei se no patamar de 2010, porque muita coisa mudou, entrou o transporte por aplicativo, a facilidade de comprar moto, mas deve crescer sim”, diz.Em relação ao projeto do governo federal de implantar um Tarifa Zero federal, Rocha Lima se mostra receoso da maneira que a proposta seja feita. “Não pode vir com populismo, tem que saber como vai custear isso. Goiás paga R$ 500 milhões por ano no subsídio aqui na região metropolitana. Como vai ser isso a nível federal? Tem que ser feito com responsabilidade”, afirma. O projeto da União ainda está em estudo no Ministério da Fazenda.