O governo de Goiás registrou saldo negativo entre despesas e receitas no primeiro semestre com déficit nominal de R$ 640 milhões, de acordo com prestação de contas realizada nesta quarta-feira (03) na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). O dado considera o déficit primário de R$ 960 milhões, referente ao cálculo simples sobre o caixa, mas inclui também recebíveis e pagamentos referentes à dívida do estado.O número contrasta com o valor apurado no mesmo período de 2024, quando houve superávit de R$ 1,67 bilhão. A diferença entre os dois momentos é de 138%, mas chegou a ser ainda maior no fechamento do primeiro quadrimestre do ano. Até abril, o saldo negativo chegou a R$ 1,17 bilhão em valores nominais, o representa mudança de 203% em comparação com o valor positivo de R$ 1,13 bilhão verificado nos quatro primeiros meses do ano passado. Pela previsão legal, a apresentação dos dados à Comissão de Tributação, Finanças e Orçamento da Alego deveria se referir apenas ao primeiro quadrimestre, mas passou a incluir informações consolidadas até junho devido ao atraso para a confirmação da agenda do secretário estadual de Economia, Francisco Sérvulo Nogueira. Além dos resultados primário e nominal, o déficit orçamentário foi de R$ 321 milhões ao fim do primeiro semestre deste ano.O total de receitas até junho foi de R$ 23,85 bilhões, enquanto as despesas saltaram para R$ 24,17 bilhões. A última vez que Goiás registrou um déficit orçamentário ao final do primeiro semestre ocorreu nos anos de 2018, com resultado negativo de R$ 800 milhões, e 2019, com R$ 630 milhões.Durante a apresentação, Sérvulo destacou que o déficit é resultado do aumento de investimentos pelo governo estadual, principalmente na área de infraestrutura, além da ampliação dos gastos na Saúde e a ocorrência de “eventos extraordinários”. A prestação de contas foi acompanhada apenas pelo presidente da comissão, Wagner Camargo Neto (SD), além dos deputados Antônio Gomide (PT) e Wilde Cambão (PSD). Ao POPULAR, o auxiliar do governador Ronaldo Caiado (UB) afirmou que o aumento de gastos ocorre a partir do uso dos recursos economizados ao longo da atual gestão. “Significa que o Estado começou a utilizar as reservas de caixa, que chegaram a R$ 15 bilhões. O que o estado fez nesses últimos meses foi a ampliação dos investimentos utilizando esses recursos do superávit acumulado”, disse.A prestação de contas indicou elevação nos gastos constitucionais com Educação, que subiram de R$ 15,52 bilhões até metade de 2024 para R$ 16,81 bilhões em 2025. O secretário também destacou a elevação dos custos da previdência estadual, que chegaram a R$ 3,69 bilhões até junho, com previsão de chegar a R$ 7,36 bilhões até dezembro. O tesouro estadual desembolsou R$ 6,68 bilhões em todo o ano passado.O resultado negativo do governo goiano já havia sido apurado pelo Relatório Resumido de Execução Orçamentária, elaborado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) sobre o fechamento do terceiro bimestre do ano. Em nota de resposta ao POPULAR, a Secretaria de Economia apontou que o resultado apurado pela STN foi “fortemente impactado pelo crescimento dos investimentos públicos”. FundeinfraSegundo o texto enviado pela pasta, o estado elevou o volume de investimentos liquidados em 109% na primeira metade de 2025, em relação a 2024. “Esse salto representa a execução de obras estruturantes em infraestrutura, inclusive contando com a aceleração de obras financiadas pela disponibilidade de caixa acumulada no Fundo Estadual de Infraestrutura (Fundeinfra), além de investimentos na área de saúde, adequações no autódromo e outras”, informou a secretaria.Segundo a Economia, os investimentos chegaram a R$ 2,8 bilhões até o fim de agosto e o montante deverá chegar a R$ 4 bilhões até o fim do ano pré-eleitoral. O Fundeinfra tem R$ 2,434 bilhões em caixa, acumulados desde a instituição da taxa do agro, em janeiro de 2023, e foi responsável pela efetivação de investimentos na ordem de R$ 400 milhões em 2025.Na apresentação aos deputados estaduais nesta quarta, o secretário mostrou que a arrecadação do fundo segue em patamar 4,9% menor que o registrado no mesmo período do ano passado. Até o fim de julho deste ano, foram pagos R$ 590,3 milhões por produtores rurais e o setor da mineração, contra R$ 620,8 milhões recebidos até o mesmo mês de 2024.“Nós temos um crescimento sempre interessante com relação ao Fundeinfra, embora tenhamos tido problemas de secas no ano passado, recuperamos a capacidade de arrecadação e estamos nos comportando da mesma maneira para 2025. Essa arrecadação do fundo vai possibilitar as grandes entregas e grandes investimentos que já estão sendo licitados e que devem ocorrer em 2025 e 2026”, afirmou o secretário durante a prestação de contas.Sérvulo apontou ainda despesas extraordinárias no período, como a antecipação de R$ 748 milhões ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) para reduzir em dois anos a fila de precatórios, além da recomposição de R$ 740 milhões do fundo de depósitos judiciais e a restituição de R$ 58 milhões do bolsa garantia. Segundo o governo, as medidas elevaram a despesa no curto prazo, mas não resultam em pressão estrutural no gasto estadual, já que houve redução do déficit entre abril e junho. A Economia ainda alega que o crescimento das despesas correntes também reflete “gastos extraordinários” e a “ampliação de áreas sensíveis”, especialmente o custeio da saúde e programas sociais, que são viabilizados, em parte, com superávit financeiro. “Assim, quando o Estado utiliza sua poupança acumulada, há aumento da despesa orçamentária sem a contrapartida de receita no ano, o que gera um déficit metodológico e temporário”, afirma a secretaria em nota.O governo considera que o déficit “não sinaliza desequilíbrio estrutural” e representa “a estratégia de usar a solidez financeira acumulada para antecipar passivos e ampliar investimentos e serviços”. O estado segue com dívida consolidada líquida em 26,23% da Receita Corrente Líquida (RCL), abaixo do limite de 200% definido pelo Senado.