Após serem punidos por seus partidos por contrariar as siglas votando a favor da reforma da Previdência, os deputados Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (PDT-SP) dizem que as legendas são instituições pouco democráticas. Em Goiânia, na semana passada, para evento do movimento Acredito, do qual fazem parte, os parlamentares falaram ao POPULAR sobre a polêmica envolvendo seus votos à reforma e também a respeito de mudanças vistas por eles como necessárias tanto nos partidos quanto no sistema eleitoral para facilitar a renovação política.O Congresso deve analisar o possível aumento do fundo eleitoral. Como analisam a questão?Rigoni - O problema em si não é a existência de um fundo eleitoral, mas como ele é distribuído dentro dos partidos, porque isso é feito de uma forma a perpetuar o poder e completamente à discrição dos caciques partidários. Dito isso, de fato, aumentar o fundo eleitoral, que já estava em R$ 1,7 bilhão, é desnecessário, especialmente pelo momento fiscal que o Brasil vive.Tabata – E quão obsceno é abrir mão de bolsas de R$ 400 no CNPq para jovens que têm nessa bolsa sua única oportunidade de vida enquanto esse mesmo Congresso, esse mesmo governo, diz que a gente não tem dinheiro para isso, mas tem para aumentar o fundo eleitoral. Temos uma visão sobre esse assunto, de como a população poderia contribuir com a escolha de para onde vai pelo menos uma parcela do financiamento público, que é importante para a democracia, mas que não pode seguir a vontade de algumas dezenas de líderes partidários. Então, acho que temos que barrar o aumento do fundo, mas há também um PL (projeto de lei) que apresentamos e que trata da renovação dos partidos. Lá falamos de mais democracia para escolher dirigentes partidários e os candidatos, de transparência de como esse dinheiro é usado e como é distribuído entre os candidatos.Mas há clima para a aprovação no Congresso de reformas tanto eleitorais quanto políticas?Tabata – Sempre tem clima e acho que já demos exemplos de projetos que foram votados não porque houvesse o interesse muito grande dos líderes partidários, mas porque a gente soube comunicar tão bem isso na sociedade que ficou feio não votar. Então, se a gente não explicar para as pessoas o que está em votação, dizer que é importante e não contar com a mídia, não tem ambiente. Mas impossível não é e acho que algumas medidas de combate à corrupção mostram isso.Rigoni – Há dois movimentos possíveis para causar uma renovação política real. O mais difícil seria uma reforma partidária de fato, porque o partido é o que liga o cidadão ao poder e, hoje, essa instituição é imperial. Os partidos têm donos. Se não conseguirmos mudar as estruturas partidárias, ainda teremos uma democracia que não será plena. Por outro lado (com o voto distrital misto), é possível furar as estruturas partidárias e eleger pessoas que também representam essa renovação e acabam, por consequência, tendo alguma influência nos partidos.O Senado tenta aprovar uma PEC paralela para incluir Estados e municípios, mas a questão enfrenta resistência na Câmara. Pode passar na Casa, caso seja aprovada no Senado?Rigoni – Acho que não há mais tanta resistência na Câmara porque os governadores começaram a se engajar na reforma. Perceberam que chegaram atrasados na discussão. Muitos deles, apesar de saberem que a reforma é importante, publicamente demonstravam ser contra. Isso mudou. Claro que ainda tem gente que é contra. Mas provavelmente o que vai acontecer é a necessidade de os governadores aprovarem (nas Assembleias Legislativas) em seus Estados um PL para adesão à reforma, o que acaba colocando algum ônus para a política local também, que era a principal resistência.Tabata – Estou menos otimista. É fundamental colocar Estados e municípios, pois a crise fiscal se manifesta de maneira mais absurda no local, mas não vejo uma PEC paralela passando na Câmara se não compartilhar o ônus com os governadores. E acho que faz sentido compartilhar, porque é uma reforma muito dura e nós, como classe política, precisamos ter coragem de encarar essa.É possível a criação de novos impostos na reforma tributária?Rigoni – Não existe absolutamente nenhuma chance de uma nova CPMF passar. Não à toa Marcos Cintra caiu (ex-secretário da Receita Federal). Isso era um devaneio e não faz sentido técnico nenhum. Em relação à PEC 45, que será discutida, ela tem um ponto bom que é a simplificação dos impostos sobre o consumo e torna mais fácil de calcular e mais simples de pagar a traz um pequeno ponto para aumento da progressividade do sistema tributário sobre o consumo. Agora, uma reforma tributária precisa abranger todos os tipos de impostos e nossas emendas são nesse sentido: imposto sobre a venda, sobre o patrimônio, folha salarial. Porque vamos precisar de mudanças em todos para, mantendo a carga tributária, fazer um sistema tributário melhor.Tabata – A simplificação vai ajudar muito a melhorar o ambiente para desenvolvimento empresarial etc., mas seria covarde parar aí. O Brasil é a segunda democracia mais desigual do mundo e a gente sabe que muito da desigualdade se amplia na questão tributária. Então, estamos de acordo com a proposta do Baleia Rossi (MDB, autor da PEC 45). Agora, precisamos ter coragem de ir para a outra batalha, que é a da progressividade. Em resumo, o que apresentamos (de emendas) foi reduzir impostos sobre a pessoa jurídica para melhorar o ambiente, gerar mais empregos etc. e levar isso para dividendos; também fazemos uma mudança em imposto sobre herança e coloca ali uma forma de devolver o imposto sobre consumo para pessoas mais pobres. Então, simplificar é um grande avanço, mas não podemos nos ausentar do segundo.Existe uma relação sensível entre movimentos e partidos, sobretudo após a votação da reforma da Previdência. Vocês estão suspensos por desrespeito à orientação partidária e existe a possibilidade de expulsão. Como se dá exatamente essa relação? Não seria um partido dentro de um partido?Tabata – Não é um partido dentro de outro. O conflito não tem nada a ver com os movimentos. É muito fácil ver oportunidade de aparecer na mídia sobre a Tabata e o Rigoni, que coincidentemente são do Acredito. Foram 18 dissidentes de PSB e PDT. Dois de 18 eram de movimentos. Outro ponto importante: o que aconteceu comigo e o PDT aconteceria independente de eu estar no movimento ou não. O movimento não fecha questão. A gente só trabalha no que é consenso. Existem pautas do Rigoni e do Alessandro (Vieira, senador pelo Cidadania) em que não entro porque não fazem sentido para mim. Agora, lá atrás, esses partidos entenderam que o que construímos juntos cabia neles. A reforma que a gente defendeu e aprovou é pelo menos dois terços igual à do Ciro (Gomes, candidato a presidência pelo PDT em 2018). Então, fomos muito mais honestos do que ele na campanha.Mas o PDT fechou questão.Tabata – O PDT fechou questão em relação à reforma em março e se recusou a receber a bancada para debater. É irregular o que fizeram. Eu poderia conseguir uma liminar para proibir o fechamento de questão. Aí o partido te suspende sem te ouvir. O PDT foi completamente desonesto com o que disse na campanha e com o que falou comigo. Então, eu defendo os ideais do movimento (Acredito) e tenho convicção de que o social e a desigualdade são mais importantes, mas se não tiver dinheiro, se não formos fiscalmente responsáveis, não dá para fazer nada disso. E entendi que essa visão de centro-esquerda progressista cabia no PDT, porque o PDT disse para mim que cabia, porque o Ciro falou que cabia. Agora, que eles que mudem isso, alguns meses depois, por questão eleitoral, não tem nada a ver com o movimento. O fisiologismo e a próxima eleição falaram mais forte e isso mostra o quão pouco democráticos são os partidos.Rigoni – Se trocasse PDT por PSB na fala dela, eu falaria a mesma coisa. Só uma adição: o que aconteceu no PSB teve menos hostilidade do que no PDT. Agora, isso não tira em nenhum momento a forma autoritária que o presidente do PSB, Carlos Siqueira, tentou levar isso (a votação). Ele sabe que a reforma é importante, conhece os números e disse para mim, em um almoço: “Não podemos apoiar essa reforma porque a gente não pode fazer esse governo dar certo”.Tabata – Escutei a mesma fala do Ciro.As suspensões prejudicam as atuações de vocês na Casa. O que pretendem fazer?Rigoni – Eu de fato estou suspenso. Pelo regimento, todo deputado tem direito a uma comissão como titular. Então, vão me tirar de todas, menos de uma. “Vamos construir uma solução democraticamente melhor” é o papo. Ninguém sabe o que é isso, mas falam. Agora, sinceramente, não me cabe mais no PSB. Em breve sairei. Não sei como, mas vou sair.Tabata – (No PDT) não houve julgamento e, segundo lideranças partidárias, talvez na virada do ano decidam julgar nosso caso. Estamos suspensos de uma forma completamente irregular e aleatória. Segundo o líder do partido (André Figueiredo), não me tirou da Comissão de Educação porque era muito bonzinho. O que se diz nos bastidores é que ninguém queria minha vaga. Então, continuo trabalhando no mesmo ritmo. Agora, é um desrespeito com todo mundo que votou em mim. Foram quase 300 mil eleitores que votaram para eu atuar e o partido joga isso no lixo, sem nenhuma razão e sem tese jurídica, simplesmente porque convém fazer esse tipo de perseguição naquele momento. É absurdo não se posicionar. Querem punir, sangrar, perseguir os deputados. Enviamos uma carta pedindo para que o julgamento seja feito e a suspensão retirada para que a gente possa trabalhar.Pretende trocar de partido, Tabata?Não que resolução o partido vai tomar ainda. Obviamente, estou muito magoada com a perseguição porque foi muito personalizada a mim. Foi injusta, mentirosa e forte. E ainda não entendi quem ganhou com isso. Se foi o Ciro, se foi o (presidente do PDT, Carlos) Lupi. Porque eles me conhecem. Feliz ou infelizmente, foram até a minha casa e almoçaram com a minha mãe. Sabem de onde eu venho, quem eu sou e que fui eu quem determinou o meu voto. Agora, eles precisam se posicionar e dizer se me querem no partido ou não e quais são as condições para que eu possa tomar uma decisão.-Imagem (1.1887140)