Cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Francisco Tavares explica que a filiação partidária não aponta necessariamente para maior ou menor interesse da população pela política. Para o professor, os dados de Goiás podem ser usados para entender disputas internas nas legendas, interesse em lançar candidaturas e adesão de “políticos profissionais” em busca de demonstrar seu posicionamento na eleição. Quando comparamos a quantidade total de membros de partidos políticos em julho de 2021 com o número de maio de 2022, chegamos ao total de 2.026 novas pessoas filiadas a partidos políticos em Goiás. Os dados são do TSE. Por outro lado, nos últimos meses vimos aumento expressivo na quantidade de eleitores com título regular, chegando ao total de R$ 4,8 milhões de pessoas no estado. É possível fazer relação entre estes temas ou são processos diferentes?A teoria sobre a democracia representativa mais aceita atualmente, proposta por Bernard Manin (professor da New York University), postula que os regimes representativos contemporâneos não se definem como “democracias de partido”. Assim, a filiação partidária não é um confiável elemento heurístico para identificação de maior interesse da população em questões políticas ou mesmo em processos eleitorais. É, portanto, possível e compreensível um quadro em que ocorra elevação de alistamento eleitoral e comparecimento às urnas, sem necessário reflexo em adesão formal a partidos políticos. Por exemplo, a ativação dos eleitores em favor das duas candidaturas mais competitivas ao Planalto, Lula e Bolsonaro, não compreende a priorização de campanhas de filiação ao PT ou ao PL, mas táticas referenciadas na disputa da opinião pública. Os partidos com maior quantidade de filiados no estado são MDB, PSDB, PP, União Brasil e PT. O MDB e UB já compõem a chapa majoritária de Ronaldo Caiado. O PSDB e PT são oposição. O PP ainda não tem decisão definitiva, apesar de caminhar próximo ao governo. Na avaliação do senhor, esta configuração indica algo sobre a campanha em Goiás neste ano?Os dados sobre filiação partidária em Goiás tendem a ser válidos para se entender disputas internas nas legendas, uma vez que os diferentes grupos vão em busca de novos filiados para controlarem os partidos. Adicionalmente, explicam o interesse de lideranças em lançarem candidaturas pelas siglas. Compreendem, enfim, uma dimensão associada à adesão de políticos profissionais, como prefeitos e vereadores, que sinalizam, com filiação, o modo como vão se posicionar em relação ao governo do estado, ao Senado e à Presidência. Não são, portanto, informações que permitam a obtenção de conclusões quanto ao comportamento do eleitorado de um modo abrangente. Para tal, indicadores de identificação partidária são mais precisos do que aferições sobre o ato formal de filiação. Os partidos com maior quantidade de filiados são também os que mais perderam membros. Por qual motivo isso ocorre?As flutuações em termos de adesão e desfiliação dos partidos são, exceção feita ao Patriotas (que aumentou em mais de 10%) pouco significativas. Assim, não é possível propor uma hipótese teórica para tratar de variações tão pequenas, mas opostamente, é o caso de se constatar uma estabilidade quanto às inscrições formais de filiados às legendas. Os números na comparação de 2022 com 2021 são menos expressivos do que os registrados entre 2021 e 2020, quando o PSDB, por exemplo, perdeu 3 mil filiados e o DEM ganhou 7 mil. Por que isso ocorre?A melhor hipótese para 2020 compreende o desfecho de um processo em que lideranças locais desembarcaram do marconismo e aportaram na adesão ao governador Caiado. Em suma, é menos uma questão diretamente partidária e mais um reflexo na mudança de governo ocorrida a partir de 2019.