O diretório estadual do PL, localizado no setor Oeste, bairro de pessoas ricas em Goiânia, estava lotado. Apesar de haver espaço suficiente para circulação das pessoas, apoiadores se espremiam para tentar tirar uma foto com o melhor ângulo ou se aproximar um pouco mais de seus ídolos políticos presentes na pequena plataforma do auditório. A presença ilustre estava sentada ao lado do candidato a prefeito Fred Rodrigues (PL): era o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), o último a discursar naquela tarde chuvosa de 15 de outubro de 2024. Fred precedeu o mineiro e falou por sete minutos. Ele vinha dizendo de sua candidatura à Prefeitura de Goiânia, do seu projeto que estima esvaziar os espaços de poder da velha política, quando começou a atacar o adversário que disputa com ele o segundo turno, o ex-deputado federal Sandro Mabel (UB). “Nosso adversário estava falando que ia colocar pessoas técnicas, que não era de direita… Acabou o primeiro turno, ele já aliou com tudo o que não presta. Falou que Goiânia não aguentava mais quatro anos de um novo Rogério Cruz. Então não mudou nada…”, afirmou. Antes mesmo de concluir o raciocínio, um pequeno acidente: o mastro da bandeira do Brasil, disposto na diagonal próxima ao palco, caiu sobre a cabeça de Fred. A plateia se assustou, ele também, mas logo soltou uma risada ao perceber que tudo estava bem. E prosseguiu na toada crítica: “Eles estão se organizando para que nada fique diferente de como está. Mas ao mesmo tempo eles subestimaram a nossa força e a força de vontade de mudança do goianiense que não aguenta mais o que está acontecendo. A gente precisa de uma folga de pelo menos mais quatro anos desse pessoal.”Ao tomar a dianteira com 214.253 votos, um número expressivo para um candidato praticamente desconhecido pelo eleitorado goianiense, Fred surpreendeu até mesmo gente de dentro do seu partido ao chegar no segundo turno. Mas foi diante do quadro favorável, que o senador Wilder Morais (PL), presidente estadual da sigla, viu que era hora de conclamar uma mobilização ainda maior em torno de Fred. Ligou para os correligionários menos aderentes ao projeto e pediu que gravassem vídeos e estivessem mais presentes nos eventos e atos de campanha. Nos bastidores, persistiam dúvidas sobre o potencial de Fred, mesmo dentro do PL. Durante a pré-campanha, havia ceticismo sobre sua capacidade de crescimento, especialmente após a cassação de seu mandato de deputado estadual em 2023, devido a irregularidades na prestação de contas de sua campanha de 2020, quando foi candidato a vereador por Goiânia. A virada veio com o apoio decisivo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principal cabo eleitoral da direita, que dissipou as especulações sobre quem disputaria a prefeitura: Fred ou o deputado federal Gustavo Gayer (PL), até então o nome cotado. Bolsonaro teria dito a aliados goianos que via em Gayer um perfil mais adequado para o Congresso, enquanto Fred teria o perfil de prefeito.Aos 39 anos de idade, pai de um filho, Fred afirma que é empresário e está em um relacionamento com Adelle Zacharias, que se denomina especialista em marketing digital em seu perfil na rede LinkedIn. Ele, todavia, declarou-se solteiro à Justiça Eleitoral. Sua vida familiar, antes escanteada, veio à tona no segundo turno, quando ele decidiu dar mais visibilidade à companheira. Em meio às contradições e às dúvidas sobre seu estado civil, anunciou o casamento durante uma sabatina do POPULAR/CBN Goiânia no dia 17 de outubro. “Nosso casamento está marcado, e pode ter certeza que todos esses falsos políticos que me davam tapinhas nas costas não estão convidados”, provocou. “Todo mundo que nos conhece, conhece a Adelle, sabe que foi diagnosticada com esclerose múltipla há 5 anos, sabe do tempo que eu estou com ela, conhece meu filho Dante, minhas irmãs, os desafios e as tristezas que passamos nos últimos dois anos, com as perdas familiares, o que nos fez postergar o casamento”, disse.Fred também tem sua escolaridade questionada, uma vez que declarou à Justiça Eleitoral ter ensino superior completo, mas não apresentou o diploma de formatura em sua prestação de dados. Ele diz que cursou todas as disciplinas do curso de Direito na PUC-GO, porém, não chegou a colar grau. A reportagem solicitou a documentação que comprovasse a escolaridade de Fred, como ele afirma, mas não obteve até o fechamento desta edição.Acessível e sorridenteDescrito por pessoas próximas como alguém de perfil reservado e que gosta de dormir até tarde, Fred é acessível na campanha, tira fotos, conversa com apoiadores de diferentes matizes e se mostra sorridente. Não é do tipo que faz agendas incontáveis ao longo de um dia. Tem preferido usar camisas verdes e calças pretas. Uma parte considerável da mobilização em torno do seu nome vem das redes sociais. No Instagram, onde acumula atualmente mais de 210 mil seguidores, há uma porção de vídeos cujo engajamento supera 1 milhão de visualizações.No lastro do seu padrinho político número 1, Bolsonaro, ele leva a questão ideológica à risca nas suas manifestações virtuais. Com críticas ao “sistema”, à esquerda e à velha política, Fred quer despontar como o jovem que vai romper com os padrões da política goianiense. Embora faça parte do PL, o partido com o maior fundo eleitoral do país, Fred afirma que solicitou o mínimo para sua campanha, apenas R$ 1,5 milhão. No entanto, dados do Tribunal Superior Eleitoral revelam uma arrecadação de R$ 3,5 milhões provenientes do PL para sua candidatura.Durante a visita de Bolsonaro a Goiânia, em 11 de outubro, o ex-presidente e a cúpula do PL almoçaram no restaurante Carne de Sol 1008, em meio a grande alvoroço. Fred demonstrava sua proximidade com Bolsonaro, frequentemente consultando-o em conversas ao pé do ouvido. Assessores e a equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) trabalhavam incessantemente para controlar o acesso ao local.À noite, Bolsonaro liderou um comício no Parque Flamboyant para reforçar o apoio a Fred, embora o evento tenha sido esvaziado pela ameaça de chuva. No pequeno trio elétrico, mal iluminado, Bolsonaro lançou ataques ao governador Ronaldo Caiado (UB), sem mencioná-lo diretamente, e apresentou Fred ao público do bairro de elite. Ao seu lado, figuravam bolsonaristas de peso, como os deputados Magda Mofatto (PRD), Major Araújo, o senador Wilder Morais e o vereador eleito Major Vitor Hugo (PL).Quem estava presente ali não sabia que, nos bastidores, houve disputa acirrada para quem teria direito de subir no trio. A desorganização da campanha é uma queixa recorrente dentro do PL. Durante o comício, dois parlamentares foram barrados pela segurança por não estarem devidamente credenciados. “Nem o sósia do Bolsonaro subiu, e você quer subir?”, teria dito um dos seguranças a um deputado, que, irritado, respondeu: “Rapaz, você está me comparando com o sósia do Bolsonaro?”.Fred diz que até ele é barrado em eventos com Bolsonaro e sai em defesa da enxuta equipe que anda com ele. São duas pessoas responsáveis pela organização da agenda e uma equipe do PL estadual reforça o trabalho. “É uma equipe orgânica e pequena. A gente teve um resultado muito bom no primeiro turno para ser uma equipe desorganizada”, refuta. Partir para o ataqueNa disputa acirrada com Mabel pela Prefeitura de Goiânia, Fred tem concentrado seus esforços em entrevistas, comícios e atos de campanha para se firmar como o verdadeiro candidato da direita. Mabel, por sua vez, tenta rotular Fred como alguém da extrema-direita, mas Fred rechaça essa caracterização e contra-ataca, trazendo à tona imagens do passado, como fotos de Mabel ao lado presidentes petistas, como Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.A estratégia para o segundo turno está clara: partir para o ataque. Segundo um aliado, o senador Wilder Morais reuniu Fred e Gustavo Gayer e foi direto: “Sejam incisivos contra Mabel.”A pouco mais de uma semana para decisão final dos eleitores, Fred diz que tem pedido mais “oração do que voto”. Numa toada meio conspiracionista, ele se coloca como alguém que “deve algo para a sociedade”, mas jamais para políticos: “Goiânia já entendeu que quer esse voto nosso. A gente tem a oportunidade de dar um recado muito sério. A gente precisa de uma prefeitura que tenha autonomia.”