Revelações do ex-ministro Antônio Palocci, delator, e e-mails do empresário Marcelo Odebrecht, também delator, indicam que a ex-presidente da Petrobras Graça Foster tinha conhecimento da corrupção instalada na petrolífera, mas não adotou “medidas efetivas” para investigar ou impedir a continuidade do seu funcionamento.Graça Foster, que presidiu a Petrobras entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2015, durante o mandato da ex-presidente Dilma, é uma das pessoas investigadas na Operação Pentiti, a fase 64 da Lava Jato, deflagrada na manhã de ontem. É a primeira vez que a ex-presidente da Petrobrás é alvo da força-tarefa.Cerca de 80 policiais federais cumpriram 12 mandados de busca e apreensão em endereços de São Paulo (3) e do Rio (9). Outro alvo foi o banqueiro do BTG Pactual André Esteves. A operação, ordenada pela juíza Gabriela Hard, não cumpriu mandados de prisão.De acordo com a PF, a ação apura supostos crimes de corrupção envolvendo o Banco BTG Pactual e a Petrobras na exploração do pré-sal e “em projeto de desinvestimento de ativos” na África, que podem ter causado prejuízo de ao menos US$ 1,5 bilhão, o que equivaleria a cerca de R$ 6 bilhões de reais hoje.A representação policial enviada à Justiça Federal de Curitiba aponta indícios de “possível conluio” entre Graça e André Esteves, para que a ex-presidente da estatal tivesse controle da Sete Brasil, empresa criada para intermediar as construções de plataformas para exploração de petróleo do pré-sal. Segundo a polícia, a troca teria direcionado o processo competitivo de venda dos ativos da Petrobras na África para o Banco BTG Pactual.Os ativos haviam sido inicialmente avaliados entre US$ 5,6 e US$ 8 bilhões, mas foram vendidos ao BTG por cerca de US$ 1,5 bilhão, “valor significativamente inferior e desproporcional ao das avaliações realizadas”, indica a investigação.Em delação, Antônio Palocci afirmou que Graça Foster, para favorecer o BTG, transferiu a condução do processo de venda dos ativos da Área Internacional, que conduzia a negociação, para a Diretoria de Novos Negócios da estatal, “a fim de evitar que o PMDB solicitasse vantagens indevidas dos potenciais adquirentes”.O ex-ministro também anotou que a nomeação de Graça à presidência da Petrobrás, “por ser pessoa de confiança de Dilma, teria por objetivo direcionar eventuais cobranças por recursos das empresas contratadas para os interesses gerais do PT, e não mais de acordo com os interesses de Lula”.A decisão também cita a delação de João Carlos de Medeiros Ferraz, ex-presidente da Sete Brasil. Segundo a decisão, o delator disse que, em conversas com Graça, “concluiu que a então presidente da Petrobras tinha pleno conhecimento das atividades de arrecadação de recursos para o PT/Governo Federal”.A decisão de Hardt considera ainda “elementos que indicam a possível ciência” de Graça acerca de irregularidades em contrato de US$ 825 milhões mantido entre a Odebrecht e a Petrobras, que se refere à prestação de serviços relacionados à Segurança, Meio Ambiente e Saúde.