A resistência de parte dos tucanos em Goiás ao PT e a relação com o governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, estão por trás da discrição que o ex-governador e presidente do PSDB goiano Marconi Perillo mantém sobre o encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano passado. Eles conversaram no escritório de um advogado em São Paulo em novembro e a reunião só veio à tona agora, depois que o petista intensificou encontros com tucanos.Na quinta-feira, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira esteve com Lula e revelou no dia seguinte à CNN, que Marconi também havia encontrado o ex-presidente no ano passado.Desde que se reuniu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em maio do ano passado, o ex-presidente tem conversado com lideranças do PSDB defendendo uma frente antibolsonarista e em defesa da democracia. Aloysio teve a primeira conversa em setembro e coube a ele articular o encontro com Marconi dois meses mais tarde.Segundo relatos de lideranças dos dois partidos, a conversa foi cordial, de “superação das divergências”, concordância sobre retrocessos do País e a defesa de um futuro governo com união para superar as dificuldades. Aloysio relatou que a conversa não é sobre aliança eleitoral, algo considerado improvável no momento, mas de “espírito colaborativo”.Lula estaria pensando já em base de apoio a partir de possível vitória nas eleições de outubro. Disse, segundo Aloysio, que precisará de “um mutirão para governar”. O Globo informou nesta segunda-feira (24) que ele voltará a procurar FHC. Aliados do ex-governador de Goiás também afirmam que eles devem voltar a conversar em breve.Marconi e Lula têm histórico de conflitos desde 2005, quando o tucano divulgou que havia avisado o então presidente sobre o esquema do mensalão. Em 2007, quando Marconi estava no Senado e era vice-presidente da Casa, eles tiveram nova divergência após conversa, na casa do então governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, sobre a votação da prorrogação da CPMF.No escândalo do caso Cachoeira, em 2012, o tucano atribuiu a ofensiva contra seu nome a “vingança” de Lula. Em 2013, o então governador de Goiás chamou o ex-presidente de “maior canalha do País”.Água e óleoNo ano passado, depois da primeira reunião de FHC com Lula, o então presidente do PSDB goiano, ex-governador José Eliton, deu entrevista ao POPULAR defendendo as conversas entre os dois partidos, inclusive com possibilidade de uma frente contra a reeleição do governador Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás e em estratégia para associar o democrata ao presidente Jair Bolsonaro (PL).Na ocasião, Marconi divulgou nota afirmando que as siglas são “historicamente como água e óleo - não se misturam”. A nota foi escrita por conta de reação de tucanos, especialmente do interior, à aproximação com o PT. José Eliton tirou licença do comando do partido em setembro do ano passado, quando Marconi assumiu.É por conta dessa rejeição de parte da base do PSDB goiano ao PT que Marconi buscou manter em sigilo a reunião com Lula. O partido tem pesquisas em Goiás que mostram Lula à frente de Bolsonaro, mas consideram que ainda é grande a força do presidente, especialmente no agronegócio e no setor empresarial.A proximidade com Doria também faz Marconi reforçar a discrição. O ex-presidente tem dito que há diferença entre as alas de FHC e de Doria, referindo-se ao primeiro como “PSDB da Constituinte”. Marconi declarou apoio a Doria nas prévias do partido, realizadas em novembro, alegando gratidão e mais preparo e experiência do governador paulista na disputa contra o governador gaúcho Eduardo Leite. A maioria das lideranças goianas declarou apoio a Leite.As articulações em favor do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin na vaga de vice na chapa de Lula também começaram em meio a essa defesa de uma frente democrática no País. Alckmin deixou o PSDB em dezembro do ano passado. Aloysio elogiou a ideia na conversa com Lula. Nos bastidores, pessoas próximas a Marconi também demonstram entusiasmo com a articulação.O ex-governador é cotado para disputar governo, Senado ou vaga na Câmara dos Deputados este ano. Correligionários o pressionam para enfrentar Caiado, embora muitos considerem a tentativa ao Senado o melhor caminho. Ele tem dito que ainda não definiu, mas demonstra entusiasmo com candidatura majoritária.Em entrevista à rádio Difusora, em julho do ano passado, Lula disse que Caiado é o adversário principal em Goiás e defendeu a união de forças de centro e de esquerda. Também afirmou que, embora não fosse amigo do tucano, teve relação republicana com ele quando presidente e governador, respectivamente.Procurado nesta segunda-feira, Marconi disse que estava na estrada e não poderia falar. Ele não confirmou o encontro.À noite, Marconi divulgou nota afirmando ter compromisso com o PSDB e com a pré-candidatura de Doria. "Após 27 anos no PSDB, exercendo seis mandatos pelo partido, eu continuo coerente com as minhas ideias, ideais e minhas convicções. E vou fazer, em 2022, o que eu sempre fiz, que é apoiar o candidato à Presidência escolhido democraticamente pelo meu partido, o PSDB", afirmou.Aliados do ex-governador afirmam que a influência do cenário nacional tem sido maior nas articulações nos Estados, incluindo Goiás, e que não é momento de comentar o assunto. “Qualquer coisa que falar agora, vai contrariar uma parte de seus apoiadores”, diz uma das lideranças próximas ao ex-governador.O advogado Cristiano Zanin, que fez a defesa de Lula nas acusações da Operação Lava Jato, foi um dos principais interlocutores na aproximação com Aloysio e demais tucanos. Ele é genro do advogado Roberto Teixeira, que também é da defesa do ex-presidente, e que cedeu o escritório para o encontro de Marconi com o petista.