Um menino de 9 anos foi assassinado a tiros na noite de quinta-feira (10), na frente dos pais, no município de Barreiros, em Pernambuco.O crime ocorreu no engenho Roncadorzinho, onde moram mais de 60 famílias. Presidente da associação dos agricultores familiares do local, o pai do menino, Geovane da Silva Santos, também foi atingido no ombro pelos disparos, mas sobreviveu.Segundo informações de moradores do engenho, o assassinato ocorreu por volta das 21h, quando sete homens encapuzados e armados invadiram a casa de Geovane.De acordo com relato da mãe do menino à CPT (Comissão Pastoral da Terra), os suspeitos atiraram primeiro no homem. Ela e o filho se esconderam embaixo da cama, mas os criminosos arrastaram o menino e atiraram contra ele.Agricultores afirmaram à CPT que a casa de Geovane já havia sido alvo de outros atentados. A comissão pede que a investigação do crime apure uma eventual relação com o conflito agrário existente na região. A ocupação do engenho pelas famílias, na condição de agricultoras familiares, ocorreu após a falência das usinas onde trabalhavam ou eram credoras.Segundo a CPT, nos últimos anos a comunidade vem sofrendo diversas ameaças e violências por empresas que exploram economicamente a área, com intimidações, destruição de lavouras e com contaminação das fontes de água. Segundo a instituição, os casos já foram denunciados às autoridades, sem que medidas efetivas tenham sido tomadas pelo Estado.O corpo da criança foi enterrado na tarde desta sexta-feira (11). Moradores realizaram um protesto e levaram cartazes com dizeres de "saudades".Em nota, a Polícia Civil do Pernambuco afirmou que o delegado titular de homicídios de Palmares, Marcelo Queiroz, foi designado para apurar o fato. A Delegacia Seccional de Palmares e a Delegacia de Barreiros estão dando apoio nas investigações.A corporação disse que "está empenhada na investigação, até a completa elucidação e responsabilização penal" dos envolvidos. Guarnições da Polícia Militar seguem fazendo incursões na área para localizar os suspeitos.A polícia realizou perícia no local do crime nesta sexta e coletou o depoimento de dois vizinhos. Segundo Lenivaldo Lima, advogado da CPT, a cena do crime não foi preservada até o momento da perícia, já que a família havia lavado o cômodo após a morte do menino.Ele disse à reportagem que os pais estão muito abalados e que, por isso, não foram ouvidos pela polícia hoje. A previsão é de que eles prestem depoimento na segunda-feira (14) à tarde.Lenivaldo passou o dia todo no engenho, acompanhando a família. Ele diz que os moradores estão muito amedrontados e afirma que durante as conversas não surgiu outra possível motivação para o crime além do conflito agrário."Eles dizem 'Como que isso pode ter acontecido? Uma família que não faz mal para ninguém, que não tem nenhum inimigo, nenhum desafeto'."O PEPDDH (Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos) planeja uma visita à comunidade neste sábado (12) para fazer uma escuta no local.Segundo informações repassadas à CPT, os moradores poderão ingressar neste programa ou no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas de Pernambuco, a depender da avaliação. Se houver interesse dos moradores, eles poderão deixar o local e ingressar imediatamente no Núcleo de Acolhimento Provisório.