MP instaura inquérito para apurar baixo índice de representações por crimes de sonegação fiscal em Goiás
Procedimento foi estabelecido pela 59ª Promotoria de Justiça de Goiânia após redução entre os anos de 2022 e 2023, e aponta falta de acesso e defasagem do sistema

Fabiana Pulcineli

Apresentação do novo sistema de combate à sonegação de impostos da Secretaria da Economia, em abril de 2023 (Wesley Costa)
O Ministério Público Estadual (MP-GO) instaurou inquérito civil público para apurar o baixo índice de representações por crimes de sonegação fiscal em Goiás, a cargo da Secretaria Estadual da Economia. A portaria de instauração, da 59ª Promotoria de Justiça de Goiânia, aponta apenas 243 no ano passado e menos ainda em 2022, 153.
No inquérito, o MP-GO também fala em sistema defasado da gestão estadual e falta de acesso a dados por parte do órgão de controle, diferentemente de outros Estados. Goiás tem mais cerca de R$ 70 bilhões a receber registrados na dívida ativa, segundo informações da promotoria.
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A título de exemplo, os promotores citam que Santa Catarina ofereceu 1.687 denúncias por crimes contra a ordem tributária em 2023, sete vezes mais do que o número de representações de Goiás. Em 2021, aquele estado ultrapassou 2 mil denúncias, enquanto a pasta goiana fez 197 representações.
Na Paraíba, 18ª economia do País, houve 550 representações ao MP no ano passado. Goiás é a 9ª economia e Santa Catarina a 6ª, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para os promotores, o porcentual das chamadas Representações Fiscais para Fins Penais (RFFP) em Goiás não condiz com a quantidade de autos de infração por irregularidades ou crimes fiscais inscritos na dívida ativa, disponíveis no site da Economia. "A pequena quantidade de RFFPs encaminhadas, no universo de milhares de autos de infração lavrados anualmente, é indício da possibilidade de que diversos crimes tributários não estão chegando ao conhecimento do titular da ação penal", diz a portaria, assinada pelos promotores Astúlio Gonçalves de Souza e Denis Augusto Bimbati Marques.
O documento afirma ainda que o MP-GO não tem acesso às bases de dados da secretaria nem a informações dos Processos Administrativos Tributários (PATs) em julgamento no Conselho Administrativo Tributário (CAT). "(O acesso aos dados) é ferramenta essencial para dimensionar e avaliar a possível existência de ilícitos penais não abarcados pelas tímidas RFFPs apresentadas. As dificuldades de obtenção de dados básicos refletem de forma negativa na atuação do MP no que pertine ao combate da sonegação fiscal", diz.
As informações que chegaram aos promotores, citadas na portaria, são de que os sistemas de processamento de dados na Secretaria seriam tecnologicamente defasados, "inclusive que os PATs ainda seriam físicos, circunstância que inegavelmente impacta na eficiência da atividade fim, bem como nas comunicações imprescindíveis ao MP-GO".
"Os fatos apontados causam danos irreparáveis à coletividade social goiana, sendo esta a destinatária final das receitas tributárias do Estado de Goiás, na forma de serviços essenciais como educação, saúde, segurança e mobilidade urbana", acrescenta a portaria.
"Precisamos analisar se há prioridade em Goiás em punir e combater os crimes de colarinho branco, porque são altos valores de sonegação", diz Bimbati, que sucedeu Fernando Krebs, agora procurador de Justiça, na Promotoria.
Krebs diz concordar com o inquérito porque há "gargalos que precisam ser corrigidos". "O MP-GO tem dificuldade de fazer um trabalho mais eficiente. Em todo o País, o índice de recuperação de valores devidos pelos contribuintes é muito baixo. Em Goiás, só 0,16% da dívida ativa, que é quase duas vezes a receita anual. E tem muito sigilo, falta de informações sobre a triagem feita pelo Fisco. É preciso melhorar o acesso aos dados e a parte de sistemas e de inteligência", afirma.
Em ofício à Secretaria da Economia, o MP-GO pede, no prazo de 20 dias, informações sobre a estrutura de pessoal e de sistema para a elaboração das representações, além de detalhes sobre a tramitação de processos no CAT. Também questiona "eventuais projetos de otimização ou atualização em curso" nos sistemas da pasta.
A Secretaria da Economia afirmou que foi oficiada e que equipe técnica analisa o documento enviado pelo MP-GO. "O governo de Goiás reafirma que mantém uma política efetiva e contínua de combate à sonegação fiscal e à concorrência desleal, não tolerando qualquer tipo de desvio à legislação vigente", diz, em nota.

Apresentação do novo sistema de combate à sonegação de impostos da Secretaria da Economia, em abril de 2023 (Wesley Costa)
A pasta afirma que "a delimitação do universo passível de representação fiscal foi delineada conforme parâmetros estabelecidos, desde o início, em conjunto com o próprio Ministério Público", e que "se coloca à disposição para novas tratativas, no intuito de se aperfeiçoar a metodologia até o momento adotada, para que se possa otimizar essa atividade junto ao MP".
A secretaria diz que o quantitativo de representações se manteve estável ao longo da série histórica de 2018 a 2023, e que a Receita Estadual "vem reformulando procedimentos e adotando medidas com o intuito de oferecer aos contribuintes goianos formas ágeis e desburocratizadas para saneamento de pendências fiscais, o que também concorre para a restrição dos casos passíveis de representação fiscal, por reduzir o número de autuações".
A nota da Economia cita ainda links de dados disponíveis no site, como arrecadação estadual, Cadastro de Contribuintes do Estado de Goiás (CCE) e consulta a inscritos na dívida ativa.
Quanto às críticas de falta de acesso a dados que facilitariam a atuação do MP-GO, a Economia diz que algumas informações são protegidas por sigilo fiscal. "Ressalte-se todos os pedidos encaminhados pelo Ministério Público, bem como pelos demais órgãos de controle (Tribunal de Contas, Controladoria Geral do Estado) e da Secretaria de Segurança Pública, que envolvam dados sujeitos ao sigilo fiscal são prontamente atendidos desde que observados os requisitos legais. Não obstante, salientamos que existe Termo de Cooperação Técnica firmado com o MP, tendo por objeto a disponibilização de consulta às Notas Fiscais Eletrônicas cujos destinatários sejam entes públicos municipais e estaduais (Executivo, Judiciário, Legislativo, Prefeituras e Câmaras municipais e suas respectivas Autarquias, Empresas Públicas e Fundos por eles administrados)", diz.
A secretaria estadual afirma que está adotando outras iniciativas para recuperação de recursos e combate à sonegação fiscal. A nota fala do recém-lançado Portal de Autorregularização, "iniciativa que fomenta o ingresso de recursos aos cofres estaduais e privilegia a liquidez do crédito tributário, ao exigi-lo em data próxima à ocorrência do seu fato gerador". "Em 2024, a estimativa da Secretaria de Economia é enviar pelo menos 22 mil comunicados oferecendo as vantagens da autorregularização a contribuintes de diversos segmentos econômicos detectados em malhas fiscais", diz.
A pasta cita também investimentos em "novas tecnologias adequadas à realidade e ao perfil do Estado", como Infotrânsito, ferramenta de fiscalização de mercadorias em trânsito que entrou em operação em abril de 2023. Segundo a pasta, o número de autuações referentes ao ICMS com o auxílio da iniciativa aumentou 99% em relação ao ano de 2022.
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