A Comissão Mista da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) prorrogou a votação do projeto de lei enviado pelo governador Ronaldo Caiado (UB) para instituir a cobrança de contribuição para dependentes do Ipasgo Saúde, que atualmente são isentos. A tramitação foi paralisada por pedido de vistas conjunto solicitado nesta terça-feira (09) tanto por deputados da oposição, quanto por integrantes da base do governo.A votação deve ocorrer nesta quarta, após o prazo regimental de 24 horas, e com manifestação organizada pelo Fórum em Defesa dos Serviços e dos Servidores Públicos de Goiás. Se aprovada, a matéria ainda precisará de duas votações em plenário para seguir à sanção de Ronaldo Caiado. O texto motivou discursos de opositores, mas também criou cenário de insatisfação entre os aliados, principalmente pelo fato de não terem sido comunicados sobre a matéria e a justificativa para a mudança.O processo motivou reclamações, nos bastidores, dos deputados caiadistas, desde a chegada do projeto, protocolado na última quinta-feira (4). Eles apontaram falta de cumprimento do “protocolo” informal entre o grupo e o Palácio das Esmeraldas. O relacionamento com os governistas tem rotina de reuniões prévias, com apresentações de auxiliares do governador sobre projetos que possam gerar desgastes políticos, principalmente em momento próximo das eleições de 2026.Parlamentares da base ouvidos pela reportagem criticaram o fato de que ficaram sabendo do projeto pela imprensa, por meio de publicação do Giro, na sexta-feira (5). O contexto de insatisfação motivou a visita do secretário estadual de Relações Institucionais (Serint), Armando Vergílio, acompanhado do presidente do Ipasgo Saúde, Bruno D’Abadia, e do subsecretário do Tesouro Estadual, Wederson Xavier.Os auxiliares de Caiado mantiveram conversas constantes com os deputados e realizaram reunião fechada com os aliados na sala da presidência, logo depois do pedido de vistas conjunto na Comissão Mista. O secretário Armando Vergílio apontou ao POPULAR que tem confiança na aprovação. “A base tem solidez para votar, porque existem justificativas bastante robustas sobre a necessidade de se aprovar a matéria”, define.O texto do Executivo prevê o pagamento de mensalidade por parte dos dependentes que hoje são isentos de “qualquer contribuição assistencial vinculado ao usuário titular”. O projeto define que a obrigação será equivalente a 30% dos valores previstos na tabela atuarial do plano de saúde, levando em conta a faixa etária. Considerando a planilha vigente, pessoas entre 0 e 18 anos pagarão R$ 47,45 pelo plano básico e R$ 54,31 pelo especial. Já aqueles com 59 anos ou mais precisarão desembolsar R$ 207,33 e R$ 311,55.Outra regra incluída na proposta, porém, pode reduzir o impacto, já que a soma das contribuições dos dependentes não poderá ultrapassar o valor contribuído pelo titular. Na justificativa anexada à matéria, a Secretaria de Economia argumenta que o padrão de cobrança única foi preservado na transição do Ipasgo do modelo de autarquia para o de Serviço Social Autônomo (SSA), regido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas o sistema “tornou-se progressivamente incompatível com a estrutura de utilização e com a necessidade de equilíbrio econômico-financeiro”.Críticas da oposiçãoA sessão ordinária desta terça foi marcada por seguidos discursos de opositores contrários à matéria. A fila foi puxada pela deputada e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima (PT). “Esse projeto é mais um absurdo contra os servidores. Sabe o que vai acontecer? As pessoas já começam a deixar o Ipasgo, porque não compensa mais”, disse. A petista foi seguida pelos colegas Antônio Gomide (PT), Major Araújo (PL), Clécio Alves (Republicanos) e Mauro Rubem (PT).Além dos oposicionistas, no entanto, deputados da base aliada admitiram precisar de mais explicações do governo para votar o projeto. “Nós estamos em discussão, inclusive em reunião com a liderança do governo e o presidente do Ipasgo para ele fazer melhor essa explanação. A apresentação inicial diz que é uma adequação, porque tem uns que pagam muito e outros não estão pagando nada. Então, queremos entender melhor para colocar em votação”, afirmou Lineu Olímpio (MDB).Já Wagner Camargo Neto (SD) definiu que os aliados pretendem “aprofundar” o debate sobre a proposta. “É importante para entender os motivos do governo. Tenho certeza que o governador Ronaldo Caiado e o vice Daniel Vilela não apresentariam um projeto para prejudicar os usuários. A gente tem que entender como estão as finanças do Ipasgo e acredito que, neste momento, o projeto não será pautado”, considerou.O momento de desgaste junto aos servidores foi escolhido pelo deputado Gugu Nader (Avante) para anunciar que deixa a base aliada e passará a ter postura independente. “O governo sabe que eu sou independente e vou anunciar isso formalmente. Sendo assim, vou votar contra o projeto do Ipasgo. Na minha cidade de Itumbiara tem quase 18 mil pessoas no Ipasgo, como servidores da prefeitura e do estado. Então, não tenho como votar a favor de um projeto desse”, avisou.Armando Vergílio explicou ao POPULAR alguns dos argumentos levados aos deputados. “O projeto é extremamente necessário. O Ipasgo não é mais uma autarquia e tem que se submeter às regras da ANS, entre elas, ter equilíbrio fiscal e atuarial. O projeto também vai trazer uma justiça contributiva, porque servidores que não têm dependentes ou têm poucos, pagam por quem tem cinco ou seis. Isso não é justo.”Além disso, apontou o secretário, “houve um aumento de 200 para 500 procedimento cobertos e isso exige um reequilíbrio”, enumerou.