O acordo que definiu a federação entre União Brasil e o PP passou a incluir o projeto de Ronaldo Caiado (UB) e ampliou as perspectivas para a estruturação da pré-candidatura do governador à Presidência da República. Pelo acerto, o goiano tem a condição de alcançar ao menos 10% das intenções de voto em pesquisas eleitorais até as convenções, em julho de 2026. Até lá, Caiado terá exposição nas pílulas de TV, recursos da nova estrutura partidária e caminhos para buscar apoio político pelos estados.
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Depois de ser considerado "candidato de si próprio" por correligionários que defendem a manutenção da proximidade do UB com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Caiado agora conta com o aval do que será a maior estrutura partidária do país para executar as atividades políticas. Até o lançamento da pré-candidatura, no início do mês em Salvador (BA), o governador acumulava derrotas internas, que levaram ao esvaziamento de lideranças nacionais no evento de inauguração do projeto.
O encontro ocorreu no mesmo momento em que o UB destravou a negociação para a definição do nome que ocupará o Ministério das Comunicações. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), costurou com o Planalto a indicação do presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho, àpasta.
Na federação, o acordo foi discutido ao longo do último mês, depois que a direção nacional do PP, comandado pelo senador Ciro Nogueira (PI), aprovou a conjunção, em 19 de março. Os termos para a composição foram fechados na noite de quarta-feira (23), em reunião em Brasília, com Caiado e o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, da qual também participou o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB). O acerto prevê que Caiado poderá trabalhar a pré-candidatura a presidente pela federação.
Depois do encontro, Caiado e Mabel foram ao lançamento do livro do presidente do Republicanos, Marcos Pereira, onde se encontraram com Ciro Nogueira. A futura federação cederá espaço na propaganda partidária e recursos para o projeto eleitoral do governador. Em contrapartida ele passa a ter a missão de melhorar os índices nas pesquisas eleitorais e atingir ao menos dois dígitos nos levantamentos até as convenções.
Como antecipado pelo POPULAR em reportagem de Cileide Alves, o governador também vai trabalhar sua pré-candidatura junto a vereadores, prefeitos, governadores, deputados estaduais e federais e senadores tanto do UB quanto do PP. A oficialização foi marcada para a próxima terça-feira (29) e as legendas formarão o maior agrupamento da Câmara dos Deputados, com 108 parlamentares, e o terceiro maior do Senado, com 13 integrantes.
"Nesse acordo todo, as pílulas do União Brasil vão estar voltadas para o Caiado, ou uma boa parte delas. Então, ele vai sair nacionalmente e é um trabalho que se inicia. O União Brasil vai estar apostando nele . Essa federação vai estar apostando nele", apontou Mabel, em entrevista ao editor da coluna Giro , Caio Henrique Salgado.
Histórico
No dia seguinte à aprovação da federação pelo PP, o governador reforçou a existência de problemas internos e dificuldades para a pré-candidatura caso a composição fosse confirmada. "Isso não é questão só de uma candidatura para presidente, isso explode o partido", disse.
"Você tem que entender, se você faz uma fusão ou uma federação como essa, e desagrada nove estados, que são os maiores estados da federação, o que é que você vai fazer com esses deputados? No momento da janela eles vão sair do partido. Então, quer dizer, nunca vi uma coisa dessa. Isso é um tiro no pé, para não dizer na cabeça", concluiu Caiado à época.
O governador ainda não avaliou publicamente o acordo pela federação e não respondeu aos contatos feitos pela reportagem, tanto diretamente, quanto pela assessoria. Já Sandro Mabel relatou que manteve diálogos entre a direção dos dois partidos e o governador nas últimas semanas.
"Eu fui conversando com o Caiado, que estava extremamente arredio com o assunto e eu comecei a criar um entendimento e perguntei quais poderiam ser as garantias. A visão dele era de que eles estariam fazendo isso para o Ciro ser o vice do Bolsonaro. Então, eu vi que já tinha problema com a questão da vice. Não teriam dado garantia de que lançariam o Caiado como pré-candidato logo no começo", contou o prefeito.
Mabel afirma que a conclusão foi apresentada por meio do alinhamento de que o governador estaria liberado para fazer a pré-campanha, com garantia de estrutura, e que, tendo viabilidade, poderá ter o projeto confirmado nas convenções. "Então, ele deve continuar trabalhando e, se atingir um porcentual nas pesquisas até próximo da convenção, ele é o candidato. E, se ele não atingir, ele indica o vice. Porque aí tira esse carimbo de que eles querem só usar ele e depois largar de mão. Essa conta foi sendo feita com o Caiado até que ele participou", relatou.
O aliado ainda aponta os argumentos usados para demover a posição contrária do governador. "A chance da sua vida é essa, com a federação. Ninguém é candidato hoje porque o Bolsonaro está no meio do caminho e não vai sair do meio do caminho. Então, é a chance de você já sair e trabalhar dentro de um partido desse tamanho. Isso foi sendo construído e conseguimos finalizar", disse.
Tranquilidade
Aliados ouvidos pela reportagem apontam que Caiado agora passa a ter liberdade para efetivamente realizar os trabalhos de pré-campanha e que o acordo trouxe "tranquilidade" sobre o caminho a ser trilhado. O governador paralisou agendas voltadas diretamente à pré-candidatura nos últimos 20 dias, desde que participou da manifestação a favor da anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O goiano manteve foco em ações ligadas ao governo estadual e a presença em reuniões em Brasília sobre o futuro do partido. Depois da resolução dos conflitos internos, a avaliação é de que a sequência dos trabalhos de pré-campanha seria muito difícil em meio ao clima de confronto.
A expectativa no Palácio das Esmeraldas é de que o acordo pela federação represente, na prática, envolvimento do núcleo político das duas siglas com a elaboração da agenda da pré-candidatura com base em estratégia eleitoral e, inclusive, pela contratação de pesquisas que possam embasar as decisões para aumentar o nível de conhecimento de Caiado.
Além disso, o esperado entre governistas é que a federação propicie respaldo político para a entrada em diferentes estados, além de estrutura financeira. A intenção é ampliar o trabalho de apresentação do goiano com base no trabalho realizado em Goiás e discurso marcado pelas ideias e resultados apresentados ao longo dos últimos seis anos de gestão.
Antes da confirmação da união com o PP, o governador já tinha na agenda visitas a São Paulo e Minas Gerais, neste fim de semana. No sábado, Caiado deve participar da abertura da 90ª ExpoZebu, em Uberaba (MG). Já no domingo, estará em Ribeirão Preto (SP), para a 30ª Agrishow.
Apesar de mais confiantes, os caiadistas também consideram que seria "ingenuidade" acreditar que o apoio dado no momento de confirmação da federação possa representar sinal positivo para a definição do projeto eleitoral para a corrida presidencial do próximo ano. A conclusão é que o governador tem pouco mais de um ano para construir a candidatura alternativa na oposição ao governo.
Os aliados apontam, no entanto, que a perspectiva de disputa na convenção é um óbvio avanço em relação à pressão realizada por Caiado nas últimas semanas para que a federação fosse avaliada pelo conselho consultivo do UB. A expectativa é de que o governador poderá tentar convencer o partido e a federação, mas apenas depois de cumprir a própria parte do acordo, que é mostrar potencial de crescimento.