-Imagem (Image_1.2078432)-Imagem (1.2078224)O governo do Estado buscou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para auxiliar na ampliação dos protocolos sanitários aplicados em Goiás. A informação foi dada pelo governador Ronaldo Caiado (DEM) em entrevista ao POPULAR. A equipe é composta por três especialistas: o médico infectologista Daniel Soranz, além das pesquisadoras Iandara Moura e Paula Travassos. Eles têm reunião hoje pela manhã com Caiado e técnicos da Secretaria de Saúde. Segundo Caiado, que editou decreto nesta semana com novos protocolos e definindo isolamento intermitente de 14 em 14 dias, eles vêm ao Estado para analisar as ações no combate ao novo coronavírus. Na entrevista, o governador também critica empresários que alegam falta de diálogo por parte do governo e diz que o isolamento é essencial, dada a impossibilidade de se chegar aos 2 mil leitos recomendados.Goiânia seguiu o decreto do governo estadual e outras cidades menores da Região Metropolitana devem também fazê-lo. Mas há grandes cidades que não, por exemplo, Trindade e Aparecida de Goiânia. Pretende conversar com os prefeitos um a um a respeito?O protocolo apresentado por nós tem embasamento científico. Como médico, tenho muito mais conhecimento do que alguns que querem opinar sobre o assunto e não têm nenhuma formação para isso. O que estamos trazendo é uma proposta que tem simpatia nacional. As pessoas estão entendendo que o melhor protocolo é este, pois não há luta entre a vida e a economia, mas um período em que vamos para o isolamento que, se Deus quiser, pode chegar a 55%, e com isso caindo a contaminação e os pacientes que vão para a UTI; nos outros 14 dias, temos uma volta à normalidade. É um processo alternado para não colapsar a rede hospitalar. Os prefeitos que não quiserem seguir terão que dar satisfação à população do município deles, e não a mim. Vão ter de explicar por que os pacientes não conseguiram a rede hospitalar, não foram corretamente tratados ou evoluíram a óbito. Agora, quando propus um isolamento até menor, em 19 de maio, a rebelião foi geral e ninguém quis assumir. Muitos daqueles corajosos da época ficaram em uma situação constrangedora em seus municípios. Se continuarem dessa maneira, eu não posso chegar em cidade nenhuma e impor que o rito seja aplicado, até por norma constitucional interpretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, nas cidades que aderirem, eu vou trabalhar junto com os prefeitos.De que maneira?Vamos avançar no rastreamento, pedir que nossas forças policiais ajudem para que o decreto seja implantando. Terá uma parceria com o objetivo de atingir aquilo que queremos: diminuir o número de óbitos e dar qualidade de atendimento a todos os pacientes contaminados.A UFG aponta, no estudo apresentado nesta semana, a necessidade de 2 mil leitos, caso o isolamento se mantenha baixo, sob o risco de gerar um colapso na saúde. O Estado, segundo a Secretaria de Saúde, pode chegar a 600 leitos. A disparidade entre o necessário e o real pode gerar dificuldades?Nenhum país conseguiu atender a demanda. Agora, tive a coragem de implantar um decreto em 12 de março, o que deu a mim a condição de implantar hospitais regionais, com atendimento de UTI, em oito regiões do Estado. É algo fundamental em uma doença que agrava o quadro respiratório dos pacientes. Inauguramos Porangatu e Itumbiara, os dois extremos do Estado, e que não tinham médicos ou UTIs públicos. Fora de Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia não havia cidades com UTIs públicas e instalamos em Trindade, Luziânia, Águas Lindas, São Luís de Montes Belos e, na próxima semana, abriremos Formosa. Ou seja, fizemos o trabalho de casa, mas a estrutura hospitalar é extremamente complexa e depende de ter uma equipe médica capacitada e treinada. Especialistas de gabinete e empresários que têm mais sensibilidade no bolso do que no coração acham que é um toque de mágica. Quase dobramos o número de leitos e de forma regionalizada. A primeira pessoa que morreu de coronavírus em Goiás foi uma senhora de Luziânia que morreu no trajeto ao ser transportada para Goiânia. Então, temos o possível de ser feito, e ampliando gradualmente alguns hospitais que ainda têm espaço, para chegar a 600 leitos, mas longe dos 2 mil. Se a projeção feita é impossível de ser alcançada, tem que se diminuir a demanda. É isso o que estamos fazendo, mas precisamos da compreensão das pessoas, no sentido de encampar a tese do isolamento de 14 dias.O estudo da UFG também aponta que o resultado do isolamento 14x14 se dá com a soma com o rastreamento. Quais ações estão sendo tomadas, efetivamente, em relação a isso?O rastreamento do cidadão contaminado é fundamental. Se é feito o PCR, que é o exame confiável e que detecta (o vírus) nos primeiros dias da contaminação, passa-se a ter a identidade da pessoa, o núcleo familiar e a proposta é acoplar a estrutura da plataforma feita pela UFG, Instituto Mauro Borges e Secretaria da Saúde com a estrutura municipal: agentes comunitários de saúde, assistência social do município. Ao identificarmos o paciente, sabemos que ele mora em tal lugar e estará ali mantido em quarentena e que sua família, inevitavelmente, está ou estará contaminada. Feito isso, há o acompanhamento para saber se o quadro agravou e se é necessário internar ou não. Se não, ficará na quarentena de 14 dias e depois poderá voltar à atividade. Esse nível de rastreamento e isolamento só é possível nos municípios em que tivermos a participação do poder municipal, como ocorreu em Rio Verde, onde o prefeito (Paulo do Vale, DEM) conseguiu conter o processo em um dos porcentuais de contaminação mais altos que cheguei a ver: 58%, isto é, de cada 100 pessoas, 58 estavam contaminadas.Entidades empresariais e políticos reclamam de falta de diálogo por parte do senhor na edição do decreto. Não houve conversa com os setores?Há alguma novidade a não ser o agravamento (do número de casos)? Alguém desconhece a realidade que estamos vivendo? Antes, gastamos 39 dias para ter 100 contaminados; agora, temos mais de mil contaminados por dia, chegando a 1.300. Qual empresário ou prefeito não sabe disso? Diálogo diante de um colapso em que todos estão assistindo à realidade? O que nós esperamos foi o relatório científico, técnico, da UFG. Mas eu já estava preocupado com isso desde 19 de maio, quando eles não quiseram aderir por questões políticas e partidárias. Os empresários não viram o que está acontecendo com a BRF (em Rio Verde, a empresa chegou a suspender as atividades temporariamente depois de fazer testes em massa em seus funcionários) e com outras indústrias? Ou vão esperar atingir o presidente e a diretoria da empresa para se sensibilizarem? O trabalhador não é referência nesse momento? Os mil goianos contaminados por dia não fazem parte do que se chama vida? Isso é imoral. O cidadão que alega falta de diálogo não tem o menor respeito pela vida; só pensa em lucro ou posição político-partidária. Ao invés de estarmos todos abraçados para resolver a situação, alguns dizem terem sido surpreendidos. Terminaremos amanhã a votação da Secretaria da Retomada, das ações sociais. Ontem, depositamos mais R$ 16 milhões nas contas de 105 mil estudantes do Estado para que tenham sua alimentação garantida, como estamos fazendo desde março. Estamos fazendo distribuição de cestas básicas e adquirindo mais 220 mil cestas. Ora, o mundo inteiro só fala disso o dia todo, então, é uma cara de pau sem tamanho alguém alegar falta de diálogo. Eu tenho a consciência tranquila. As pessoas que quiserem fazer a opção populista ou financeira terão que se explicar para os seus. Não vou parar a luta e, independente de sigla partidária, quem quiser se aliar a esse protocolo, estarei com toda disposição para ampliar o rastreamento dos contaminados e avançar na proposta da UFG para montar um controle de call center para que pessoas acompanhem a evolução dos pacientes.O Estado busca parceria para além dos municípios?Vamos ouvir pessoas da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que vêm a Goiânia. Chegam hoje (ontem) e ficam até sexta-feira. São especialistas. Tive oportunidade de falar ontem com a presidente da Fiocruz (Nísia Trindade Lima) e essa equipe vai nos auxiliar com propostas e ampliação de protocolos. Vão fazer o mapeamento de tudo o que a Secretaria de Saúde tem para ofertar de dados e os municípios que queiram também podem mandar para a gente analisar. Essa é a realidade. Tudo isso está sendo tratado com muita responsabilidade. Não estou brincando de governar, mas buscando o que tem de melhor no Brasil, com base científica, para que possamos dotar cada vez mais as nossas equipes que estão em vários locais do Estado de Goiás. Perguntei à presidente da Fiocruz qual a perspectiva real da vacina (contra o coronavírus) e ela disse que estão na terceira etapa, há resultado promissor e outros países também estão desenvolvendo. Então, é esse contato que faço todos os dias buscando expectativa de novos resultados. Mas sempre haverá quem queira envolver política e isso é acessório, não merece ser colocado como prioridade, mas tratado como baixo clero, como dizíamos no Congresso sobre aquelas pessoas que não tinham como opinar com consistência sobre nada.O POPULAR antecipou ontem a troca de Silvio Fernandes, na presidência do Ipasgo, pelo advogado Hélio Lopes. Por que a troca neste momento?Eu sempre fui um grande admirador do Hélio, que é presidente da Apae (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais) da minha cidade de Anápolis. É impressionante o seu carisma, a sua competência. Fez uma revolução e a Apae de Anápolis é reconhecida nacionalmente. É uma pessoa que, sem dúvida, representa muito bem a cidade. Eu sempre tive muita facilidade em dizer aos meus secretários que não tem ninguém que tenha posto definitivo. O Silvio prestou um serviço maravilhoso. Pegou uma obra que estava deteriorando, como o Hospital dos Servidores, e terminou. Priorizamos isso muito antes da pandemia, tanto que nós pudemos transformá-lo em um hospital de campanha muito bem equipado com 220 leitos. Terminada essa etapa, Silvio irá para a Codego (Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado), junto com Hugo Goldfeld, que assumiu a presidência. Quanto mais se giram as pessoas no secretariado, mais se estimulam os desafios e melhores resultados.Além das previstas na minirreforma que está na Assembleia e dessa do Ipasgo, quais outras mudanças é possível esperar na administração?Isso vai depender muito das avaliações e dos desafios que queremos. A partir de agora, não posso mais governar o Estado com o plano de governo com o qual eu me elegi. É uma outra realidade, que está sendo redirecionada dentro do governo. O Brasil vive situação grave em relação ao desemprego e em Goiás não será diferente. Então, já estamos tratando disso com a Secretaria da Retomada e as ações sociais do governo, com um comitê de ação social, para avançar muito nessa situação. É atuar rapidamente para ver se as pessoas que perderam o emprego poderão retornar às suas atividades ou se poderemos complementar isso. Tenho discutido muito, por exemplo, com a equipe de governo de, ao invés de contratar empresas para fazer serviços em municípios, por que não repetirmos o que fizemos com a Educação? Tem-se o Conselho de Educação em cada município. É feito o repasse do dinheiro: veja nossas escolas, que estão todas arrumadas e isso foi feito com o dinheiro sendo gasto no próprio município, todos os serviços.Espera-se fazer isso nas outras áreas também?Estou buscando junto à Procuradoria-Geral do Estado o limite que posso passar para esses conselhos para ampliar ainda mais a mão de obra e diminuir os desempregados. Estava discutindo com o presidente da Agehab (Agência Goiana de Habitação, Lucas Fernandes) sobre a possibilidade de reformar as habitações mais carentes dos 62 municípios mais pobres do Estado e contratar mão de obra local. Primeiro salvamos vidas, mas a segunda etapa é tão desafiadora quanto a primeira, que é recuperar a condição econômica de quase 1 milhão de pessoas que só têm o Estado para atendê-las.-Imagem (Image_1.2078466)-Imagem (1.2077870)